
"Estar aqui, prestando esse serviço para a comunidade, para poderem ter uma noite de Natal mais segura e tranquila, ultrapassa o senso de uma missão. É motivo de orgulho". A fala do segundo-tenente da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Felippe Gutemberg, 34 anos, resume o espírito que move centenas de profissionais em Brasília na noite deste 24 de dezembro.
Enquanto as luzes das árvores de Natal se acendem nos lares da capital e as famílias se reúnem em torno da ceia, uma rede invisível de trabalhadores, como policiais, bombeiros, profissionais de saúde e do transporte, mantém a engrenagem da cidade funcionando.
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Católico e chegado às tradições natalinas, Felippe comanda o policiamento no 1º Batalhão da Polícia Militar, responsável pela Asa Sul. Para ele, o Natal é o ápice do simbolismo cristão, dia de união. "Até costumo me emocionar, porque, no dia a dia, a gente não consegue dar atenção como gostaria a todo mundo e, no Natal, todos se encontraram. Mas, quando não posso comparecer, a família sempre entende. Faz parte do meu trabalho", conta o profissional, que inicia seu plantão às 7h desta quarta-feira e finaliza-o às 7h de amanhã.
Mesmo no batalhão, a celebração não será deixada de lado, já que os agentes vão organizar uma ceia para confraternizar. "Somos uma 'segunda família' que se une entre um chamado e outro", pontua o tenente, que será o comandante do policiamento da unidade na noite de Natal. Durante a madrugada, a equipe fará rondas periódicas pelo bairro. "De forma geral, esses plantões são tranquilos, mas, vez ou outra, há ocorrências de furtos de cabos de energia e no interior de veículos", revela.
Durante a patrulha, não é raro que moradores se aproximem da viatura para convidar os militares para um minuto de ceia. "Os moradores costumam retribuir com carinho o nosso serviço. Isso nos enche de felicidade, significa que temos uma relação de proximidade e confiança com a comunidade", diz o policial.
Visita especial
A poucos quilômetros dali, em Ceilândia, o sargento Rafael Fernandes, 39, vive uma rotina de imprevisibilidade no 8º Grupamento de Bombeiro Militar. Nesta noite, ele vai encarar mais um plantão de Natal. "Nosso trabalho é uma bÊnção de Deus. Se poder ajudar o próximo em qualquer dia é gratificante, imagine no Natal", diz. No quartel, os militares costumam organizar uma ceia, que às vezes conta, inclusive, com a presença dos familiares.
"Dificilmente, conseguimos jantar à meia-noite, mas tentamos planejar tudo da melhor forma, sempre cientes de que a qualquer momento poderemos ser chamados. Mesmo assim, não deixa de ser uma data especial", explica. Rafael recorda, com saudosismo, de um Natal celebrado com a família, no quartel, há uns seis anos.
"No momento em que a ceia seria servida, às 23h, um grave capotamento convocou todas as viaturas. As famílias ficaram no quartel, continuaram a ceia e foram embora. Nós só conseguimos regressar às 4h da manhã", relembra o bombeiro. As ocorrências de trânsito, aliás, são recorrentes nesta data, quase sempre relacionadas ao consumo de álcool. "Às vezes, também surgem casos de pessoas feridas por arma branca ou de fogo", comenta.
Com ou sem grandes surpresas, a expectativa do sargento é, amanhã, poder finalizar a celebração em casa e com a família reunida. "Vamos comemorar e descansar juntos", finaliza.
Noite de cuidado
Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Recanto das Emas, a técnica de enfermagem Stephany Dantas, 31, terá, pela primeira vez, a experiência de trabalhar durante a noite de Natal. Nos leitos da UPA, ela cuidará, das 19h às 7h, daqueles cuja doença também não os permitiu ir para casa. "Deixarei minha família para cuidar da família de outra pessoa. Isso é muito gratificante", reflete Stephany.
Esse acolhimento, segundo a profissional, reforça o sentimento que a data lhe traz, de amor. "Procuro oferecer o melhor atendimento possível aos pacientes, olhar nos olhos, ter um minuto a mais de conversas com descontrações, mesmo na correria no plantão. Acredito que isso faz toda a diferença, porque tentamos melhorar um pouquinho o sentimento daquela pessoa que já está ali devido a algum sofrimento", comenta.
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A ceia na UPA será um esforço coletivo de organização. Cada colega levará um prato, e o grupo vai se dividir em turnos rigorosos para garantir que nenhum paciente fique desassistido enquanto o outro se alimenta. A tecnologia será a ponte para encurtar a distância. "Acho que, quando puder, vou tentar fazer uma videochamada rápida com a família, na virada, para aquecer um pouco o coração", diz Stephany.
Trabalho ininterrupto
Longe dos trilhos e das plataformas visíveis ao público, a engrenagem do transporte público também depende de quem vigia a cidade "no invisível". Na sede do Metrô-DF, em Águas Claras, Wyller Carvalho, 43, opera como o cérebro do sistema. Controlador de operação há quase duas décadas, ele explica que o trabalho é ininterrupto.
"Aqui é uma loucura, uma função pouco conhecida, mas que funciona 24 horas por dia, justamente para garantir o funcionamento do serviço no dia seguinte", revela. Quando as estações fecham, e o último usuário desembarca, a missão de Wyller apenas começa. É dele a responsabilidade de coordenar a entrada das equipes de manutenção, realizar o recolhimento dos trens e, do seu computador, desligar a energia de todas as vias para que limpezas profundas e treinamentos de pilotos ocorram com segurança enquanto Brasília dorme.
Com o histórico de quem já passou vários Natais, inclusive nos dois últimos anos, no posto de comando, Wyller encara a escala com uma mistura de dever e gratidão. No ano passado, a pressa foi tanta que ele iniciou o tradicional amigo oculto com os parentes e precisou sair correndo para o plantão antes mesmo do fim da brincadeira. "A família entende. Temos que agradecer a Deus pelo emprego, é um trabalho super-importante para a comunidade e me sinto orgulhoso", afirma.
Entre monitores e sistemas complexos, ele e os colegas de turno dão um jeito de celebrar à sua maneira, compartilhando pratos de salpicão e combinando as ceias no Centro de Controle Operacional. Para o passageiro que utilizará o transporte no dia seguinte, o recado de Wyller é de tranquilidade: ele estará lá, garantindo que o caminho de volta para casa seja seguro.

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