Entrevista

Máscara de proteção criada por pesquisadoras da UnB é premiada

Ao CB.Poder, Marcella Lemos e Graziella Joanitti, pesquisadoras da Universidade de Brasília (UnB), falam sobre tecnologia desenvolvida para confecção de máscara de proteção contra a covid-19

 29/12/2025 - Ed Alves/CB/DA Press. Cidades. CB Poder recebe Graziella Joanitte (verde) e Marcella Lemos. Pesquisadoras.  -  (crédito:  Ed Alves CB/DA Press)
29/12/2025 - Ed Alves/CB/DA Press. Cidades. CB Poder recebe Graziella Joanitte (verde) e Marcella Lemos. Pesquisadoras. - (crédito: Ed Alves CB/DA Press)

Desenvolvida durante a pandemia da covid-19, a Vesta, uma máscara com nanotecnologia à base de quitosana, uma substância extraída de cascas de crustáceos, rendeu à Universidade de Brasília (UnB) o Prêmio Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Sistema Único de Saúde (SUS). As pesquisadoras da UnB Marcella Lemos, coordenadora de um laboratório que desenvolve soluções inovadoras para o SUS, e Graziella Joanitti, fundadora do laboratório de compostos de nanotecnologia, foram as entrevistadas do CB.Poder — parceria entre a TV Brasília e o Correio Braziliense. Às jornalistas Mariana Niederauer e Sibele Negromonte, elas explicaram sobre o reconhecimento e o impacto da pesquisa científica aplicada à saúde pública no país. A seguir, trechos da entrevista: 

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Como foi esse esforço conjunto para desenvolver o equipamento?

Marcella Lemos: Havia uma demanda urgente por equipamentos de proteção individual, que estavam em falta. Fomos solicitados a desenvolver alguma tecnologia que pudesse contribuir com aquele contexto. Criamos um grupo chamado Projeto Vida, com um significado muito forte naquele momento, por se tratar da valorização da vida. Foi nesse cenário que surgiu a ideia de desenvolver a Vesta, uma máscara semifacial com nanotecnologia. Ela se diferencia por ter uma camada intermediária filtrante associada a um material com atividade virucida e bactericida. Isso era especialmente importante, pois havia também o risco de contaminação no momento da desparamentação dos profissionais de saúde, quando retiravam as máscaras. Assim, unimos a necessidade do momento, o desejo de contribuir e o nosso conhecimento técnico para produzir algo relevante para a sociedade.

Como foi essa premiação? 

Graziella Joanitti: A UnB foi premiada na categoria de artigo científico publicado em revista indexada, com o estudo sobre o desenvolvimento e a caracterização da máscara. O produto começou a ser desenvolvido em 2020 e, em tempo recorde, em dois anos, conseguimos, com a colaboração de uma empresa parceira no codesenvolvimento, iniciar os trâmites para o registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e avançar para a comercialização. A nossa ideia é ampliar a disponibilização da máscara para os profissionais de saúde do SUS. Embora ela possa ser adquirida comercialmente, existe a intenção de expandir ainda mais o uso.

Ela também é eficaz contra outras doenças virais?

Marcella Lemos: A máscara possui a quitosana como camada de proteção extra, cuja função é atrair e neutralizar os vírus. É como se ela 'segurasse' o vírus e impedisse que ele se multiplique. Essa ação neutralizadora também foi testada contra o H1N1, vírus da gripe que circula anualmente, além de oferecer proteção contra bactérias. Realizamos testes em bancada que demonstraram a amplitude dessa proteção, graças à quitosana, um composto bioativo encontrado na nossa biodiversidade e extraído da casca de camarões e outros crustáceos. Esse resíduo, muitas vezes descartado como lixo, pode ser reaproveitado, gerando autonomia tecnológica para o país, valorizando a biodiversidade e promovendo sustentabilidade.

O aproveitamento de compostos bioativos é um dos focos do laboratório?

Graziella Joanitti: O Laboratório de Compostos Bioativos e Nanobiotecnologia (LCBNano) existe há mais de 10 anos e foi criado com o objetivo de valorizar a biodiversidade brasileira, estudando como esses compostos podem gerar produtos para a saúde, cosméticos e suplementação alimentar. Pesquisamos diversas espécies, especialmente do Cerrado. Utilizamos a nanotecnologia, que trabalha com materiais em escala nanométrica — cerca de 100 vezes menor que um fio de cabelo. Nessa escala, os materiais apresentam novas propriedades, capazes de melhorar a estabilidade dos compostos naturais e aumentar sua eficiência no tratamento e na aplicação.

Outros departamentos participaram da pesquisa?

Marcella Lemos: Desde o início, contamos com a colaboração de outros institutos e também de instituições externas à UnB. O Projeto Vida nasceu com esse propósito de união em prol da valorização da vida. Foi muito bonito ver pessoas trabalhando de forma voluntária, autônoma e com o desejo genuíno de contribuir. Esse esforço coletivo foi determinante para o sucesso do projeto. É mais do que ciência: é união e generosidade. Esse conjunto permitiu que o projeto saísse do papel e se tornasse um produto em apenas dois anos. Chamamos isso de modelo da tripla hélice — governo, universidade e indústria.

 


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VT
postado em 30/12/2025 02:00
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