Estupro de vulnerável

Religioso é preso por abusar sexualmente de menores

Filho do Pastor Presidente da Igreja Batista Filadélfia, no Guará, é suspeito de usar cursos de "integridade sexual" para atrair adolescentes do sexo masculino. Polícia aponta padrão de estuprador em série

Um líder de uma igreja evangélica no Guará foi preso temporariamente, acusado de cometer estupro de vulnerável contra adolescentes do sexo masculino. Segundo a investigação conduzida pela 4ª Delegacia de Polícia (Guará 2), o homem, de 30 anos, tinha um padrão sistemático para realizar os abusos sexuais, que teriam ocorrido ao longo de aproximadamente seis anos, entre 2019 e 2024, contra membros da Igreja Batista Filadélfia.

A prisão ocorreu na última sexta-feira, mas as informações foram divulgadas ontem. As investigações, que tiveram início em novembro deste ano, apontam para uma ação baseada em manipulação psicológica e abuso de confiança. O suspeito utilizava sua posição de liderança religiosa e ministrava cursos temáticos sobre sexualidade e "integridade sexual" voltados para adolescentes. 

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O delegado Marcos Loures, chefe da unidade, detalhou o método utilizado pelo suspeito para se aproximar das vítimas. "Pela posição dele, tinha a confiança dos pais, se aproximava de adolescentes, se tornava íntimo, convidava para situações como ir na casa dele assistir a um filme, e falava que ia ter outros adolescentes lá. Chegava lá só tinha o adolescente vítima, e aí ele acabava iniciando os abusos", explicou. 

O policial confirmou que os crimes ocorriam tanto em ambiente doméstico quanto na igreja. "Teve situações que aconteceram dentro da igreja, em festa de pijama, onde ele estava dormindo sozinho com o adolescente, e iniciava abusos", detalhou. Até o momento, quatro vítimas foram formalmente ouvidas, com relatos que descrevem uma progressão de condutas abusivas. À época dos fatos, as vítimas identificadas tinham entre 10 e 17 anos. Oito possíveis vítimas estão em processo de oitiva, o que pode ampliar o alcance dos crimes apurados.

 

Estuprador em série

O delegado-adjunto Hébert Léda, que participou do interrogatório, descreveu a atitude do suspeito como extremamente fria ao ser questionado sobre os atos. "Quando perguntei, ele relatou os fatos com detalhes. Inclusive, em certo momento ele falou: 'Não, mas isso não é abuso, isso foi só uma brincadeira'." 

Léda foi categórico ao rebater essa alegação. "Não existe esse tipo de brincadeira. Se for uma brincadeira, foi uma criminosa e de muito mau gosto. Pelo direito penal, por ele ter cometido mais de quatro estupros de vulnerável, com um padrão de comportamento, ele já é considerado um estuprador em série."

Segundo o delegado, a análise de registros também indicou tentativas de abafamento informal das denúncias, mesmo após o conhecimento prévio dos fatos por pessoas do convívio institucional do suspeito. "Havia vários comentários na congregação e as informações que temos é de que as lideranças estavam tentando acobertar ou minimizar os fatos", afirmou. 

Diante das evidências, a Justiça do Distrito Federal decretou a prisão temporária do investigado por 30 dias e determinou uma série de medidas cautelares. Entre elas, estão o afastamento imediato do suspeito de qualquer função de liderança religiosa, a proibição de se aproximar das vítimas, a quebra de sigilos telemático e telefônico e a realização de buscas domiciliares.

 

Posicionamento

A Igreja Batista Filadélfia emitiu uma nota, na qual manifesta "profundo pesar e indignação diante dos fatos noticiados". O primeiro ponto contestado foi a alegação de que o investigado ainda exercia funções. "É inverídica a afirmação de que o investigado continuava atuando na instituição, pois ao longo de todo o ano de 2025 ele já não exercia nenhuma função de liderança na igreja", afirma o texto.

A instituição refutou as acusações de que teria tentado abafar o caso. "Refutamos categoricamente qualquer alegação de que houve tentativa de encobrir os fatos ou desestimular as famílias a procurarem as autoridades", diz a nota. A igreja declarou que, em todos os atendimentos, a orientação dada às famílias foi de "total liberdade e incentivo institucional para buscar as autoridades policiais".

A nota alega que "o investigado não é, nem nunca foi, 'pastor' da instituição". "Ele atuava no passado como membro voluntário em funções de liderança no Ministério de Adolescentes", completou. Sobre o fato de o suspeito ser filho do Pastor Presidente, a igreja afirmou que "a relação de parentesco (...) não interferiu, nem jamais interferirá, nas medidas disciplinares adotadas pelo Conselho Disciplinar ou na colaboração com a Polícia Civil e o Poder Judiciário".

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