FOME

Ciência como aliada no combate à fome, defende novo livro da ABC

A Academia Brasileira de Ciência faz um alerta sobre segurança alimentar e nutricional e aponta como a ciência é essencial para enfrentar desafios

O livro defenda a cooperação de diferentes campos da ciência para melhorar a produção de alimentos  -  (crédito: Reprodução Unsplash)
O livro defenda a cooperação de diferentes campos da ciência para melhorar a produção de alimentos - (crédito: Reprodução Unsplash)
postado em 12/03/2024 12:24 / atualizado em 12/03/2024 12:25

Os efeitos das mudanças climáticas e do aquecimento global são sentidos no planeta há alguns anos e a agricultura e produção de alimentos estão diretamente afetadas. Com base nisso, a Academia Brasileira de Ciências (ABC), vai lançar nesta quinta (14/3), o livro Segurança Alimentar e Nutricional: O Papel da Ciência Brasileira no Combate à Fome.

O livro é organizado pela pesquisadora Mariangela Hungria, integrante da diretoria da ABC e responsável pelo grupo de trabalho sobre segurança alimentar. A obra reúne o resultado do trabalho de 41 autores, de 23 instituições de pesquisa. O objetivo é apresentar um quadro da fome no Brasil e apontar como a ciência pode ajudar a agricultura, o poder público e outros setores a enfrentar a insegurança alimentar.

Um dos principais dados do livro é a produção agrícola recorde do Brasil. Nas últimas cinco décadas, o país apresentou uma trajetória crescente de recordes de produção agrícola, superando 300 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2023. Contudo, a produção é destinada, em sua maior parte, a commodities para exportação. O agravante, segundo o IBGE, é de que cerca de 30% da produção de alimentos no país é perdida.

Atualmente, o Brasil é o quarto maior produtor de alimentos do mundo. Entretanto, uma pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), em parceria com organizações da sociedade civil nacionais e internacionais realizou, em 2020 e 2021-2022, dois Inquéritos Nacionais sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 (VIGISAN). Os dados produzidos documentam o retorno do quadro grave de fome no país em 2020, quando mais de 50% dos brasileiros foram classificados em insegurança alimentar e 19,1 milhões conviviam com a experiência de fome. Em 2021-2022, os resultados mostraram 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer e 57,8% em algum grau de insegurança alimentar.

“É preciso inovar fazendo uma ciência cidadã, em que há compromisso de diversos setores. Porque só ouvindo toda a sociedade e construindo essa ciência conjunta é que vamos conseguir definir estratégias adequadas para enfrentar a fome”, comenta Mariangela Hungria.

Entre as conclusões do livro está a necessidade de cooperação entre diferentes campos da ciência como forma de melhorar a produção de alimentos, valorizar a agricultura familiar e permitir parcerias entre governos, empresas e terceiro setor.

Outro ponto apresentado é de que produzir mais é o primeiro passo para o combate à fome. “Mas existe uma grande defasagem entre os resultados obtidos pelas ciências agrárias e a adoção no campo. É preciso, portanto, inovar em ações de transferência de tecnologia”, argumentam os pesquisadores. O documento destaca a necessidade de maior incentivo à pesquisa científica básica, aplicada ou de desenvolvimento de novos produtos para que o país acompanhe na linha de frente as tecnologias emergentes e faça sua implementação na agricultura.

O papel das mulheres na segurança alimentar é outro ponto destacado livro, elas representam cerca de 43% do total de produtores na agricultura familiar, além de terem destaque no processamento, comercialização e preparo de alimentos. Apesar disso, mulheres têm dificuldade no acesso à terra e enfrentam outras desigualdades de gênero.

“O combate à fome deve estar sempre na pauta do dia. Esperamos que esse livro sirva de alerta à sociedade em geral e, em especial, aos tomadores de decisão, sobre a urgência do tema”, comenta no prefácio a presidente da ABC, Helena Nader. 

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