
Um mito inédito proveniente da mitologia suméria foi descoberto em uma tábua de 4.400 anos de idade. A placa, apesar de ter sido originalmente encontrada ainda no século XIX, só teve o conteúdo devidamente traduzido e divulgado em fevereiro deste ano.
Conhecida como "Ni 12501", a peça foi criada por volta do ano 2400 a.C., na região de Nippur, uma área autônoma na Mesopotâmia, onde hoje está situado o sul do Iraque. Nippur era descrita, segundo informações do portal IFL Science, como a sede de culto do deus sumério Enlil, o senhor do vento.
- Leia também: Deuses populares da mitologia do Egito
Por conta do estado pouco conservado da peça, com bordas esfareladas e alguns pedaços a menos, a pedra foi pouco explorada por anos. Inicialmente, a história do mito foi traduzida pelo assiriólogo Samuel Noah Kramer, em 1956. Apesar de ter fornecido uma breve descrição do conteúdo do artefato, nunca realizou a transcrição completa. A responsável por fazê-la de forma completa foi a Dra Jana Matuszak, sumerologista, ou seja, especializada na mitologia suméria, da Universidade de Chicago.
Por meio de artigo publicado no portal da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, a especialista relata que a tábua conta a história de Ishkur, o deus das tempestades, das chuvas e da primavera. No mito, ele é capturado no submundo, chamado de Kur, junto do próprio gado.
Depois do acontecido, crianças passam a falecer logo que nascem, e, em seguida, são carregadas para Kur. A descrição pode indicar, de acordo com a especialista, uma seca e uma onda de fome, em decorrência da ausência do deus.
O pai dele, Enlil, citado anteriormente como deus do vento, convoca uma reunião junto aos demais deuses, conhecidos como Anunnaki. O encontro serviu como uma espécie de convocação, para que o responsável pelo resgate de Ishkur fosse escolhido.
No entanto, o único a se oferecer foi Fox (raposa, em português). Ao chegar no submundo, realizou um ato considerado como trapaça para entrar. Aceitou água e pão, mas não o consumiu. Ao invés disso, os colocou em uma bolsa. A história, porém, acaba interrompida pelas limitações da própria tábua. Os desgastes oriundos da má conservação e da avançada idade do objeto impedem a conclusão da trajetória de Fox em Kur.
Ainda assim, a pesquisadora consegue fazer suposições e outras análises. De acordo com ela, Enlil é, sem dúvidas, o deus mais poderoso. Isso é explicitado no momento em que consegue reunir os demais. O desaparecimento de Ishkur no inferno, adicionalmente, é interpretado como uma temática de morte e reaparecimento.
Como um deus que representa a chuva e vitalidade, o sumiço dele pode retratar momentos de chuva e seca, por exemplo. Jana também explica que características como essa são comuns em histórias cuneiformes. A escrita cuneiforme, vale ressaltar, é um tipo específico de escrita feita por meio de objetos em formato de cunha.
"A tábua, portanto, contribui significativamente com o nosso conhecimento da mitologia mesopotâmica, ao mesmo tempo que oferece vislumbres do uso de diversos elementos para contar histórias sobre o passado mitológico”, explica Matuazak, no artigo.
- Leia também: Os principais deuses e símbolos da mitologia Hindu
"Aqui, assim como em outros lugares, as coisas da vida eram livremente adaptáveis a diferentes contextos. As histórias carregavam o potencial de tecer uma rede de elos associativos, com a capacidade de reforçar tanto semelhanças quanto diferenças entre as próprias manifestações individuais no contexto", acrescentou.
Mundo
Mundo
Mundo
Mundo
Mundo
Mundo