
Quando o assunto é reprodução, poucos animais desafiam quanto os cavalos-marinhos. Nessa espécie, são os machos que engravidam, carregam os filhotes e passam pelo trabalho de parto. Agora, uma pesquisa publicada na revista Nature Ecology & Evolution revelou, em detalhes, como o corpo desses animais evoluiu para permitir esse feito extraordinário.
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O estudo mostra que os cavalos-marinhos machos desenvolveram um órgão chamado bolsa incubadora, que funciona de forma muito parecida com o útero humano — controlado, porém, por hormônios masculinos, e não femininos, como ocorre em outros animais vivíparos.
Durante o acasalamento, a fêmea deposita os ovos dentro dessa bolsa, localizada na barriga do macho. É ali que ocorre a fertilização e o desenvolvimento dos embriões. O órgão fornece oxigênio, nutrientes e até remove resíduos, um verdadeiro sistema de gestação subaquático.
Com o avanço da gravidez, o tecido do macho sofre transformações e passa a atuar como uma “placenta” natural, garantindo trocas vitais entre o corpo paterno e os filhotes. Quando chega a hora do parto, ele contrai a bolsa e libera dezenas, às vezes centenas, de minúsculos cavalos-marinhos já formados.
Os pesquisadores descobriram que o processo é comandado por andrógenos, como a testosterona. Esses hormônios estimulam o crescimento celular e o aumento da vascularização, formando uma estrutura biológica quase idêntica à placenta humana, mas desenvolvida a partir de tecidos completamente diferentes.
Outro detalhe chamou atenção: enquanto em humanos o corpo materno precisa “aceitar” o feto, evitando que o sistema imunológico o ataque, os cavalos-marinhos machos não possuem o gene foxp3, ligado a essa tolerância. Mesmo assim, o corpo não rejeita os embriões, sinal de que os hormônios masculinos também ajudam a suprimir essa resposta imune.
A pesquisa reforça que o fenômeno da gravidez masculina é exclusivo da família Syngnathidae, que inclui cavalos-marinhos, peixes-cachimbo e dragões-marinhos. Ao longo da evolução, os ancestrais desse grupo passaram de carregar ovos grudados na pele para desenvolver uma estrutura cada vez mais complexa, até chegar à bolsa incubadora atual, considerada um dos saltos evolutivos mais notáveis da natureza.
O estudo ajuda a entender como a reprodução evolui de formas surpreendentes e independentes. No caso dos cavalos-marinhos, a natureza literalmente reinventou o conceito de paternidade.

Ciência e Saúde
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