EXPLORAÇÃO ESPACIAL

Cientistas criam proteína a partir da urina para alimentar astronautas

Projeto HOBI-WAN testa a produção da Solein, um pó nutritivo criado por microrganismos que usam ar, eletricidade e ureia como fonte de energia

O resultado da Solein é um pó amarelo, com sabor neutro e textura semelhante à farinha -  (crédito: Solar foods )
O resultado da Solein é um pó amarelo, com sabor neutro e textura semelhante à farinha - (crédito: Solar foods )

Para enfrentar o desafio de alimentar astronautas em longas missões, cientistas europeus estão apostando em uma ideia de produzir comida a partir do ar, eletricidade, de micróbios e até da urina dos próprios tripulantes. O projeto, chamado HOBI-WAN (Hydrogen Oxidizing Bacteria In Weightlessness As a source of Nutrition), é uma iniciativa da startup finlandesa Solar Foods em parceria com a empresa alemã OHB System AG, com financiamento da Agência Espacial Europeia (ESA).

Fique por dentro das notícias que importam para você!

SIGA O CORREIO BRAZILIENSE NOGoogle Discover IconGoogle Discover SIGA O CB NOGoogle Discover IconGoogle Discover

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

O objetivo é testar a produção da Solein, uma proteína em pó considerada uma das alternativas mais promissoras para a alimentação em missões espaciais. 

A primeira fase, que deve durar oito meses, é realizada ainda na Terra. Nela, os cientistas estão ajustando a tecnologia em ambiente controlado. Se tudo ocorrer bem, o próximo passo será testar o processo a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS), em que o comportamento dos microrganismos em microgravidade será colocado à prova. 

"Esse projeto visa desenvolver um recurso fundamental que nos permitirá melhorar a autonomia, a resiliência e também o bem-estar dos nossos astronautas", explicou Angelique Van Ombergen, cientista-chefe de exploração da ESA. 

Composição

O segredo da Solein está em microrganismos que se alimentam de dióxido de carbono, hidrogênio e nitrogênio, elementos que podem ser obtidos do ar e, no caso do nitrogênio, da ureia presente na urina dos astronautas. Dentro de biorreatrores, esses micróbios transformam esses compostos simples em moléculas orgânicas complexas, ricas em proteína.

O resultado é um pó amarelo-claro, com sabor neutro e textura semelhante à farinha. Segundo a Solar Foods, ele contém 78% de proteína, 10% de fibras, 6% de gordura e todos os nove aminoácidos essenciais para o corpo humano, além de ferro e vitamina B12.

Por ser leve e versátil, o produto pode ser misturado a outros ingredientes e transformado em massas, bebidas e até sorvetes, além de se integrar a qualquer refeição do dia a dia. A ideia é que seja possível produzir tudo diretamente do espaço, reduzindo custos e riscos de reabastecimento vindos da Terra.

A tecnologia não é útil apenas para o espaço. A Solar Foods acredita que a Solein pode revolucionar a produção de alimentos na Terra, especialmente em regiões com escassez de recursos naturais. 

"A Solein abre um mundo de novas possibilidades alimentares verdadeiramente sustentáveis. Ela cria um suprimento infinito de alimentos para o planeta e permite que os consumidores escolham uma fonte de proteína genuinamente limpa", diz a empresa. 

Produzida sem presenciar de plantações, gado ou água em grandes quantidades, o produto evita impactos ambientais ligados à agropecuária. Ela provém de um organismo unicelular natural, não modificado. O produto já recebeu aprovação para consumo pela Agência de Alimentos de Singapura (SFA), em 2022, e o selo de segurança GRAS nos Estados Unidos, em 2024. A empresa também já solicitou a certificação na União Europeia e no Reino Unido. 

A expectativa é que, até 2035, a Solein possa ser produzida em diferentes escalas no espaço, desde pequenas porções em estações orbitais até o abastecimento de futuras colônias na Lua ou em Marte. 

 

  • Google Discover Icon
postado em 13/11/2025 14:53 / atualizado em 13/11/2025 15:00
x