Crítica // Peter von Kant

Leia crítica do longa Peter von Kant, um dos títulos do Festival Varilux

Adaptando criação clássica de Fassbinder, o diretor François Ozon imprime novo fôlego para obra de carga pessimista, mas, ainda assim, divertida

Ricardo Daehn
postado em 23/06/2022 13:56 / atualizado em 23/06/2022 14:28
Denis Ménochet e Khalil Ben Gharbia em 'Peter von Kant' -  (crédito: Material de divulgação)
Denis Ménochet e Khalil Ben Gharbia em 'Peter von Kant' - (crédito: Material de divulgação)

Crítica // Peter von Kant ####

Peter von Kant, o mais recente longa assinado por François Ozon, traz uma gênese que acumula homenagens, ainda que muito mais importe o fato de abraçar um cinema de excelência artística e de diversão. Morto por overdose de cocaína, há 40 anos, o cineasta Rainer Werner Fassbinder assinou o longa As lágrimas amargas de Petra von Kant, derivado de um texto teatral de autoria própria. Isso, há 50 anos. Naquele filme, a inexistência de um homem em cena era marcante. Agora — no filme que tem sessões hoje (23/5), às 16h20, no Cine Cultura Liberty Mall, e às 19h20, no Cinemark Pier 21 —, Ozon opta por trocar o sexo dos personagens predominantes.

A renomada estilista do original foi trocada, na trama, pelo cineasta interpretado por Denis Ménochet. Ele segue colocando o prazer acima da fidelidade, além de seguir implantando sistemáticas humilhações junto aos que o cercam. Rigoroso e egocêntrico, Peter é brutal, especialmente com o servil Karl (o excepcional e expressivo Stéfan Crépon, da série Lupin).

Sádico e manipulador, Peter parece saído da dramaturgia de Ibsen. Com um resultado exuberante, o diretor de fotografia Manu Dacosse opta pelo caminho oposto ao de Michael Ballhaus, no clássico de 1972: investe no colorido e na agilidade imagética. De convívio enervante, Peter administra pesada violência psicológica e cargas de ironia que respingam na amiga Sidonie (Isabelle Adjani), uma antiga estrela de cinema, ao mesmo tempo em que paparica Amir (Khalil Ben Gharbia), um aspirante a astro da sétima arte, com o qual ele flerta.

Com ação toda confinada em ambiente único, a fita aposta na dissolução do amor de um carrasco controlador. Ozon retira do filme polêmicas (e desnecessárias) menções a preconceitos raciais. No novo filme, pesa a prepotência do protagonista de que "todo mundo pode ser substituído" (como dizia o texto de 1972). E o dissecar de comportamentos masculinos é revitalizado na obra que celebra Fassbinder (autor de personagens por vezes misóginos como os de Querelle).

Por fim, o mesmo diretor do musical 8 mulheres consegue levantar o ensaio de carência e desespero, com pitadas de melodrama, que ronda o dissimulado Peter. De quebra, ainda coloca em cena a atriz Hanna Schygulla, colaboradora de Fassbinder no movimento batizado de Antiteatro.

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