Música

Clodo lança o álbum Constelação de palavras, com faixas inéditas

Disco de Clodo Ferreira é constituído por 10 composições inéditas gravadas pelo compositor acompanhado do violão

Compositor Clodo Ferreira lança novo álbum -  (crédito:  Telmo Ximenes/Divulgação)
Compositor Clodo Ferreira lança novo álbum - (crédito: Telmo Ximenes/Divulgação)

Com 10 composições inéditas, acompanhado apenas do violão, Clodo Ferreira desfia, a palo seco, canções intimistas que expressam a consciência do limite, a incerteza e a imprevisibilidade da vida no álbum Constelação de palavras, recém-lançado nas plataformas digitais: "Quem teve o mundo nas mãos/sabe que o mundo é de palha/Fogueira de ilusão/Cai na gravidade a seus pés/constelação de palavras/Montanhas de papéis."

Aquiles Reis, do MPB4, escreveu sobre o álbum de Clodo: "A tranquilidade com que ele toca violão só não é mais impressionante do que o timbre de sua voz". Na verdade, o álbum foi gestado e produzido em 2001, mas Clodo avaliou que as letras eram muito densas e poderiam suscitar uma rejeição. Ele estava equivocado. As canções transmitem  realismo, coragem serena, romantismo sutil  e sabedoria na arte de viver. O prazer de viver cada instante é valorizado, a paixão se transmuta em amor e a imprevisibilidade da vida é plenamente acolhida. Clodo tem 120 canções gravadas por Nara Leão, Dominguinhos, Zé Ramalho, Milton Nascimento, Elba Ramalho, Fagner e Ângela Maria, entre outros. Nesta entrevista, ele  fala sobre o novo álbum.

Entrevista//Clodo Ferreira

Qual é a história desse álbum?

 Em 2000, concebi esse disco, compus em três meses, fui ao estúdio e gravei 10 canções, só eu com o violão. A ideia  era que meu filho João fizesse os arranjos. Passei para ele, mas cismei que não estava legal.  Resolvi brecar o projeto e deixar de molho. Fiz o álbum Gravura, compus  outras canções e, mais adiante, fiz o álbum Clodo interpreta Sinhô. E, em seguida, gravei outro álbum chamado Clodo Ferreira.  Depois de 20 anos, João  começou a fazer arranjos para três músicas, com banda e tudo.  Mas aí o João falou: "eu estava ouvindo a sua fita e gostaria de sugerir que você vai lançar o disco do jeito que você me mandou." Ouvi de novo e percebi que estava equilibrado e emocionado. Então, resolvi lançar a versão com voz e violão. Como disse o Aquiles do MPB4, fazer um disco de inéditas só com um violão é um desafio.


Qual o lugar desse álbum em sua discografia?

Antes desse disco, eu tinha feito o álbum Corda de aço, no qual eu gravava com o seguinte critério: músicas  muito conhecidas ou gravadas por pessoas muito conhecidas. Eram sempre canções minhas com os meus parceiros. Foi o Zelito passos que sugeriu, seria uma espécie de cartão de visitas. Em Constelação das palavras, que saiu agora, quis fazer um álbum  só músicas minhas novas, para dar uma reciclada na minha vida. Mas, naquela época, achei que ficou muito denso. Deixa as dez canções paradas e compus o disco Gravura, mais nordestino, com viola sertaneja.

Você já disse que não gosta de fazer música a partir de acontecimentos factuais. Mas, nesse disco, em que medida, ele reflete uma vivência?

Nisso acho que radicalizei um pouco os sentimentos. Não são sentimentos biográficos, mas o pensamento sobre esses sentimentos humanos. A Sandra Dualibe disse que achava que Dia a dia era uma música sobre a pandemia, porque fala da paciência de viver cada dia. 

As canções falam sobre a incerteza, a imprevisibilidade e os limites da vida com muita coragem?

Concordo com isso, é exatamente por isso que talvez estivesse muito pesada. É difícil ser recebido com facilidade. Mas, hoje, eu estou convencido de que eu estava errado. A música me parece mais fluída. Quando a gente está ansioso para fazer uma coisa nova, a nossa avaliação se turva. É um disco de maturidade. Hoje,eu vejo que a vida tem uma carga de incerteza que a gente tem de aceitar. Aceitar que a vida é incerta, já é um passo à frente. Sempre fui muito ligado a alguns filósofos, Camus e Freud, principalmente.E acho que algo das minhas leituras aparecem aí. Além disso, fazer psicanálise lacaniana me ajudou muito na compreensão sobre os sentimentos.

Parece decantado também do ponto de vista musical...

Tem também o lance de ter centrado muito a voz e o violão, há um cuidado especial do casamento da música com a letra, tinham de ser muito bem aproximadas. Acho até que, como não era para ser publicado, toquei livremente, relaxei. Eu  estava gravando só para preparar os arranjos. Isso fez com que tudo fluísse de maneira mais espontânea. Gravei só com o técnico de som, em uma hora registrei os violões e na outra as vozes.

Na juventude, você cantou muito os dramas da paixão. Mas, neste álbum, parece que você reavalia também a relação entre paixão e amor.

Exatamente, nesta música mesma tem um verso que fala isso: "Para não morrer de paixão, descobrir novamente o amor." Eu acho que isso é maturidade. Na juventude tem amor, mas é de uma maneira diferente. Falo de um amor que não depende da paixão somente, pode ser um amor pessoal e um amor geral, que te torna uma pessoa amorosa.

 

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 24/05/2024 17:47 / atualizado em 24/05/2024 17:48
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação