Literatura

"Minha relação com a escrita é de uma paixão que me assombra", diz Aline Bei

Vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura com o livro de estreia "O Peso do Pássaro Morto", Aline Bei lança seu terceiro romance

Aline Bei é vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura -  (crédito: Isadora Arruda)
Aline Bei é vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura - (crédito: Isadora Arruda)

As palavras são uma ferramenta poderosa para conectar mundos. Mais do que isso, possuem a capacidade de acolher e trazer alento aos que precisam — e que, às vezes, nem sabem. A autora Aline Bei, 37 anos, conhece bem esse universo. Lançando seu terceiro romance Uma delicada coleção de ausências, a paulista enxerga no presente uma nova forma de contar histórias, sempre deixando que a poesia tome seu espaço de direito e alcance, como de praxe, os tantos leitores que a acompanham.

E bom, Aline é, certamente, um nome muito consolidado da literatura nacional. O livro de estreia O peso do pássaro morto foi finalista do Prêmio Rio de Literatura e do Prêmio Jabuti, além de ter vencido o Prêmio São Paulo de Literatura e o Prêmio Toca. Tão renomada a nível nacional, a obra, inclusive, ganhou uma nova reedição no mês passado. “Acho muito simbólico ter essa nova versão, especialmente depois de 8 anos. Me sinto muito honrada por ter me mantido até aqui”, destaca a escritora.

De certo modo, a trajetória de Aline tem sido bonita, não somente pelo sucesso que tem feito, mas pelas vidas que tem alcançado com o desenrolar das histórias que sua criatividade permite inventar. O segundo livro da autora, A pequena coreografia do adeus, também finalista do Prêmio Jabuti e do Prêmio São Paulo de Literatura, é carregado de nuances contemporâneas, em um desatar de nós traumáticos, sensíveis e poéticos, feito que se repete na primeira obra — e que fatalmente se espelha no novo lançamento.

“Cada livro é uma história completamente diferente, nos fazendo viver muitas emoções. Nada faz eu me acostumar com essa sensação do início, da obra prestes a sair, sobre pensar no que ela vai se tornar e em como os leitores a receberão”, conta Aline. Foram quase quatro anos em silêncio até que as palavras encontrassem uma saída. A paulista se deu espaço, atravessou novas fronteiras e mergulhou em outros mares. Segundo a escritora, passou por uma imersão criativa e cursou Escritas Performáticas na PUC-Rio. 

Nesse meio tempo, diferente dos escritos anteriores, que nasceram no silêncio de seus sentimentos, compartilhou o processo do livro com os professores e colegas de classe. “Quando a obra se torna objeto livre, vai chegando nas pessoas. A gente não sabe o que vai acontecer, pois é sempre uma surpresa”, completa. Depois de dois trabalhos, Aline resolveu se encantar novamente. Adentrar para um lugar até então desconhecido, mas que já existia em si mesma. 

Paixão pela escrita

Uma delicada coleção de ausências é um livro em terceira pessoa, em um movimento contrário em relação às duas obras da autora. “Consegui criar uma narrativa que tem três protagonistas: uma bisavó, uma avó, uma neta e uma grande ausência, que é a de Glória, mãe da menina Laura. Essas quatro mulheres e esses silêncios permeiam o livro”, destrincha Aline. Desta vez, ela desenvolve uma trama bem elaborada, mas que aparece entre os caminhos escondidos do novo manuscrito. “Foi algo prazeroso e bastante difícil de fazer”, complementa.

Em uma cidade fictícia, o livro vai acompanhar a vivência dessas três mulheres — um tanto quanto diferentes — em uma pequena casa. Angústias, dores e infância ornam e costuram as linhas desse cenário que, para Aline, não chega a ser imaginário, já que é uma realidade vivida por tantas famílias. “Meus três livros falam um pouco sobre isso, um olhar para esses corpos pequenos, que passam tantas coisas que, na infância, não precisam ser passadas. Uma obrigatoriedade antinatural, mas que é tão normalizada pela sociedade”, ressalta.

Dessa forma, Aline conclui, quase que “sem querer”, uma trilogia das obras que, apesar de distintas, se completam e mostram diferentes perspectivas sob um mesmo peso e uma mesma dor. Mais do que isso, ela expõe em cada novo manuscrito uma espécie de pacto com a arte, demonstrando que é preciso ter coragem para continuar tingindo as páginas com palavras de esperança. “Com o passar do tempo, vamos nos firmando mais como artistas. A nossa relação com a escrita vai se tornando mais densa, ganhando mais intimidade”, afirma.

Aline se considera comprometida, apaixonada pela ideia de continuar escrevendo até que a fonte da inventividade se esgote. Contudo, o sentimento parece inapelável, inalcançável. “Minha relação com a escrita é de uma paixão que me assombra. Olhando com uma certa distância, é algo louco de se pensar. Desde os 21 anos, quando comecei, continuo com o mesmo grau de febre e de envolvimento agora, aos 37.”

  • A nova reedição de O Peso do Pássaro Morto, pela Companhia das Letras, foi lançada em junho deste ano
    A nova reedição de O Peso do Pássaro Morto, pela Companhia das Letras, foi lançada em junho deste ano Foto: Companhia das Letras
  • Uma Delicada Coleção de Ausências é o terceiro livro de Aline Bei
    Uma Delicada Coleção de Ausências é o terceiro livro de Aline Bei Foto: Companhia das Letras
postado em 01/07/2025 17:23
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