Literatura

Autora de Brasília, Cibele Tenório leva à Flip história do voto feminino

Em mesa na Flip, Cibele Tenório conta a história de Almerinda Gama, que lutou pelo voto feminino no Brasil. História rendeu o livro 'Almerinda Gama — A sufragista negra'

sufragista Almerinda Gama, que lutou pelo voto feminino no Brasil -  (crédito: Divulgação)
sufragista Almerinda Gama, que lutou pelo voto feminino no Brasil - (crédito: Divulgação)

Foi uma espécie de fascínio que fisgou a jornalista Cibele Tenório quando viu, pela primeira vez, o rosto de Almerinda Gama em uma foto da década de 1930. Cibele fazia uma oficina de produção audiovisual no CPDOC da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ficou encantada com a imagem daquela mulher negra depositando um voto em uma urna numa época em que mulheres não eram muito bem-vindas na seara da política. Foi a semente para o livro Almerinda Gama — A sufragista negra, tema de uma mesa nesta sexta-feira (1/ 8), às 17h, na Casa República, como parte da programação da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que começou nesta quarta-feira (30/7). Cibele divide a mesa com Bruno Ribeiro, autor de Era apenas um presente para meus irmãos: a barbárie de queimadas, a história do estupro coletivo que chocou o Brasil em fevereiro de 2012. 

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Almerinda Gama — A sufragista negra, que ganhou o prêmio Todavia de não-ficção, conta a história de uma figura fundamental no movimento feminino pelo direito ao voto das mulheres no Brasil das primeiras décadas do século 20, o mesmo que teve à frente nomes como Bertha Lutz. Almerinda, ao contrário desta última, era pobre e negra. Acabou apagada na história da luta pelo sufrágio feminino. O cineasta Joel Zito chegou a se interessar por ela e fez o curta Almerinda, uma mulher de trinta, que Cibele recuperou em um arquivo da PUC de São Paulo. 

  • Escritora e jornalista Cibele Tenório, autora de Almerinda Gama: a sufragista negra
    Escritora e jornalista Cibele Tenório, autora de Almerinda Gama: a sufragista negra Divulgação
  • Título de eleitora da sufragista Almerinda Gama, que lutou pelo voto feminino no Brasil
    Título de eleitora da sufragista Almerinda Gama, que lutou pelo voto feminino no Brasil Divulgação
  • sufragista Almerinda Gama, que lutou pelo voto feminino no Brasil
    sufragista Almerinda Gama, que lutou pelo voto feminino no Brasil Divulgação
  • sufragista Almerinda Gama, que lutou pelo voto feminino no Brasil
    sufragista Almerinda Gama, que lutou pelo voto feminino no Brasil Divulgação
  • Escritora e jornalista Cibele Tenório, autora de Almerinda Gama: a sufragista negra
    Escritora e jornalista Cibele Tenório, autora de Almerinda Gama: a sufragista negra Divulgação

Almerinda acabou por se tornar tema de pesquisa de mestrado de Cibele na Universidade de Brasília (UnB). O livro é uma adaptação dessa pesquisa, que precisou de muita escavação em arquivos de todo o Brasil para encontrar dados sobre a trajetória da personagem. “No CPDOC, fui fazendo logo um recorte de gênero para ver quem eram as mulheres e, por ordem alfabética, uma das primeiras a aparecer foi Almerinda. E o que tinha dela era uma ficha com algumas informações”, conta Cibele, que logo descobriu ser conterrânea da sufragista pois, como ela, nasceu em Maceió. “E eu nunca tinha ouvido falar. Ela também era jornalista, como eu, e uma liderança do movimento de mulheres nos anos 1930. Fiquei muito curiosa. Hoje, revisitando essa história, que é muito masculina, muito militar, já que Alagoas é terra dos marechais, vejo que sabemos pouco sobre alagoanas. E aquilo me intrigou muito.” 

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A história de Almerinda também rendeu um curta, como resultado da oficina de roteiros da FGV. Além de um papel central no movimento sufragista feminino, a ativista também era poeta e compositora. Ativa na vida política, ela começou representando o Sindicato dos Datilógrafos e Taquígrafos do Distrito Federal e acabou como figura importante na luta pelo voto feminino. Mas Cibele teve dificuldade em coletar informações sobre a vida pessoal de Almerinda, que chegou ao Rio de Janeiro em 1929, viúva, em busca de um emprego melhor como secretária. “Ela viveu 100 anos, viu esse país se transformar e fez parte da história durante 10 décadas. Aí você percebe que o apagamento em torno dela fica ainda mais inexplicável. E ela morreu sem nenhum reconhecimento”, lamenta Cibele. Nascida em 1899, a sufragista morreu em 1999, dois meses antes de fazer 100 anos. “Por que a gente nem conhece essa histórias, por que essa personagens não nos foram apresentadas, não estão presentes nas instituições de guarda? Conhecer essa história é fazer uma reparação, claro, mas essas figuras servem meio como búzios, apontam caminhos, nos dão estratégias. Aprendi muito lidando com essa personagem.”


Almerinda Gama — A sufragista negra

De Cibele Tenório. Todavia, 280 páginas. R$ 89,90


 

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postado em 31/07/2025 17:19 / atualizado em 01/08/2025 13:59
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