Artes cênicas

Cena Contemporânea celebra 30 anos com olhar para a América Latina

Festival Cena Contemporânea comemora 30 anos com mais de 30 espetáculos e os olhos voltados para a produção da América Latina

Verdar vem 
do Chile com uma 
reflexão sobre a morte -  (crédito: Divulgação, )
Verdar vem do Chile com uma reflexão sobre a morte - (crédito: Divulgação, )

Mais importante festival de teatro de Brasília, o Cena Contemporânea chega aos 30 anos com uma edição que olha para Brasil, Chile e Argentina, uma escolha dos curadores que mira na inventividade do teatro produzido no continente e em como ele reflete as questões mais urgentes da contemporaneidade. "A cara do cena é a de um festival maduro, que chegou aos 30 anos bonitão, saudável. O que aconteceu nesse período é que o festival foi ganhando corpo, num período em que tudo se prejudicou no Brasil em termos de cultura, e, mesmo assim, não deixamos de realizar todas as edições, mesmo na pandemia", aponta Guilherme Reis, idealizador do Cena Contemporânea, que começa na terça-feira (26/8) e segue até 7 de setembro. 

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Nascido em 1995 com a ideia de ser um festival capaz de promover diálogos entre a cena teatral brasileira e a brasiliense, além de investir numa abertura para outros países, o Cena Contemporânea cresceu, ganhou franjas como as atividades ligadas à formação e ao mercado e virou uma espécie de bandeira do teatro da cidade. "O festival ganhou corpo e uma comunidade que está sempre presente. E continuamos fiéis aos princípios da primeira edição: dialogar com o Brasil, trazer pessoas que pudessem conhecer a produção de Brasília criando uma via de mão dupla, criando também uma atualização de público com espetáculos que não passam pela cidade. E uma internacionalização com circulação para grupos e artistas do DF. A gente nunca deixou de fazer isso", explica Reis.

Este ano, os curadores fizeram a opção radical de trazer apenas espetáculos da América do Sul. "Porque é um momento em que o teatro da América Latina está muito potente e porque, nos 30 anos, a gente quis honrar alguns compromissos que o festival tem e um deles é com a América do Sul", avisa Reis. "E fizemos opções para trazer espetáculos focando na Argentina e Chile. Argentina porque tem uma produção de cinema, teatro e literatura muito incrível. A gente sempre aprende muito com eles e se atualiza. E Chile porque a gente vinha dialogando com vários grupos e, durante a pandemia, conseguimos programar alguns em versão on-line."

Do Brasil, o Cena recebe algumas peças que têm se destacado com salas lotadas e milhares de espectadores. É o caso de Ao vivo, com Renata Sorrah e direção de Márcio Abreu, e O céu da língua, de Gregório Duvivier, vista por mais de 100 mil espectadores e com 110 apresentações em teatros no Rio de Janeiro e em São Paulo. "Ao vivo é um convite ao público a entrar dentro da cabeça de uma artista. O que a memória ativa de uma artista traz de visão singular do mundo", adianta o diretor, Márcio Abreu.

Do Chile, vem Verdar, dirigido por Paula Aros Gho e com Mariana Loyola, atriz popular na televisão e no cinema chilenos. "A Paula está fazendo um teatro mais inventivo, mais poético. E a poesia me toca muito. Verdar aborda, com sensibilidade, o tema do suicídio e da criação artística caminhando juntos", conta Reis.

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Da Argentina, o público poderá conferir Seré, de Lautaro Delgado Tymruk e Sofia Brito, que dá voz a um preso político da ditadura argentina, um nome fundamental no julgamento dos militares que torturaram durante o regime. O espetáculo ganhou o Premio Argentores 2025 de melhor Teatro Documentário. Do mesmo país, o palhaço Gabriel Chamé Buendia traz Medida por medida, uma adaptação muito especial de um texto de William Shakespeare. "É um dos grandes clowns da atualidade, ele adota um formato de espetáculo teatral baseado no clown, mas conversando com a alta dramaturgia. É uma peça enlouquecida, divertida e engraçada na forma de retratar a corrupção no poder. É muito atual e joga Milei (Javier Milei, presidente da Argentina) dentro do Shakespeare", avisa Reis. 

A programação de espetáculos de Brasília também tem destaque no Cena Contemporânea. Entraram para a seleção Sombrio, do Coletivo Levante, Galhada, em tempos de fissura, do Teatro do Instante, Pai Nosso, de Geise Prazeres, Valvarius, a fraude, do Teatro Caleidoscópio, e Ovelha Dolly, de Micheli Santini. No total, a programação terá mais de 30 espetáculos, sendo um deles o show de Amaro Freitas, distribuídos por seis espaços, incluindo Sala Martins Pena, no Teatro Nacional, Caixa Cultural e Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul. 

Além das apresentações, o Cena Contemporânea também reserva espaço para uma série de atividades formativas e encontros com profissionais para refletir sobre as artes cênicas. Márcio Abreu traz para o festival o projeto Voo livre —  História, no qual investiga as relações entre memória íntima e memória coletiva por meio de uma série de ações que envolvem residência artística, debates e seminário. Um total de 14 artistas foram selecionados para participar do projeto e parte do material vai alimentar uma produção em gestação. "O trabalho em Brasília é parte de um processo maior para a criação de uma nova peça que estreia ano que vem e que se debruça sobre como a grande história com H maiúsculo é formada, sobre o que essa ideia de história contemporânea significa no contexto dos movimentos e transformações do mundo", explica o diretor. 

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As atividades formativas contam ainda com um programa de encontros, palestras, oficinas e residência artística sob curadoria de Kenia Dias, Júlia Guimarães e Valmir Santos. "Os encontros do cena são espaços para se gerar reflexão sobre determinados temas a partir de alguns recortes específicos, como processos de criação e formação, arte por sujeitos periféricos", explica Kenia. A ideia é gerar reflexão, interlocução e criar uma rede de pensamento a partir de encontros entre artistas que produzem em contextos diferenciados, em contextos de cidades. 

Serviço

Cena Contemporânea 2025


De terça-feira (26/8) de agosto a 7 de setembro, na Sala Martins Pena (Teatro Nacional Cláudio Santoro), Espaço Cultural Renato Russo, Teatro da CAIXA Cultural, Espaço Multicultural Casa dos Quatro, Espaço Cultural Venâncio e Teatro Sesc Ary Barroso 504 Sul. Ingressos: R$ 15 até R$ 100, disponíveis na
Bilheteria Digital e no site da Caixa Cultural.

 


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    Na história de Shakespeare, um déspota observa um puritano governar Foto: Fotos: Carlos Furman
  • A beleza do 
português é um dos temas de Gregório Duvivier em 
O céu da língua
    A beleza do português é um dos temas de Gregório Duvivier em O céu da língua Foto: Raquel Pellicano
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    Renata Sorrah vive uma epifania em Ao vivo Foto: Fotos: Lina Sumizono e Nana Moraes
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    Seré: em cartaz no Cena Contemporânea Foto: Divulgação
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postado em 24/08/2025 06:00
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