
Com uma carreira que atravessa décadas e se renova a cada projeto, Dhu Moraes é um verdadeiro tesouro da cultura brasileira. Aos 73 anos, a artista mantém uma vitalidade impressionante, transitando entre a tevê, o teatro e a música com a mesma paixão do início de sua jornada, em 1970. Em uma conversa franca e afetuosa, Dhu revisita memórias, fala sobre conquistas e compartilha a sabedoria de quem viu e fez história.
A experiência em um dos grupos mais icônicos dos anos 1970, As Frenéticas, é descrita por ela como "freneticamente maravilhosa". "Palcos, cidade, alegrias, trabalhos, a vida artística e profissional a todo vapor, o sonho da Leninha se realizando", recorda-se com carinho, referindo-se a seu nome de batismo, Dulcilene.
Outro marco em sua trajetória foi a interpretação da Tia Nastácia no Sítio do Pica-Pau Amarelo (2001). Dhu conta que sempre se identificou com a personagem, que lhe remetia à própria infância. O maior desafio, no entanto, foi honrar um ícone já consolidado no imaginário popular. "Era um baita desafio trazer num trabalho lúdico uma personagem que já existia no corpo de outra atriz e, no meu corpo, manter todo encantamento", explica a atriz, que estreou nas novelas no clássico Irmãos Coragem, de 1970.
Representatividade em evolução
Sobre a evolução de sua personagem de Êta mundo bom!, de 2016, para Êta mundo melhor!, que marcou um passo importante no protagonismo negro na teledramaturgia, Dhu enxerga com felicidade. "São passos que se seguem desde 1970. A cada trabalho, uma porta se abre, a presença aumenta e com ela a representatividade", reflete a intérprete da personagem Manoela, que, antiga funcionária do sítio de Cunegundes (Elizabeth Savala) e Quinzinho (Ary Fontoura), se cansa da vida de exploração e das constantes humilhações e parte com a sobrinha Dita (Jeniffer Nascimento) para São Paulo. Questionada se ainda há conquistas pela frente, ela é taxativa: "Sempre. Conquistar é realizar, e o sonho é esperança".
O humor é uma constante em sua trajetória, com participações em trabalhos de Chico Anysio e atualmente como a divertida vizinha na série Tô de Graça, além da presença em Cosme e Damião: Quase santos. Para Dhu, fazer rir é algo natural. "Acho que se divertir tem que fazer parte da vida. Ver as pessoas rirem e se emocionarem faz parte da minha vida e, digo pensando aqui, faz parte do meu ofício".
Recentemente, Dhu deu vida a Milena, uma das versões adultas da Turma da Mônica. A atriz revela que a experiência foi especial por resgatar uma paixão formada tardiamente. "Viver algo que não acompanhei na minha adolescência e juventude, momentos ocupados por afazeres... mas uma paixão que se formou pelas histórias e pelo Maurício de Souza". Ela destaca a importância da personagem: "A Milena me trouxe a lembrança da leitura para meu filho e sobrinhos. É uma pura alegria dar vida a uma mulher esperta, inteligente, que adora ciência, ama os animais e é negra. Ela traz tanta representatividade".
A família é um pilar central na vida de Dhu, que é mãe adotiva de dois homens feitos, incluindo o ator Renan Monteiro, com quem contracenou em Novo mundo (2017). Sobre a experiência única de se tornar mãe de um adulto, ela descreve com emoção: "Foi um reencontro espiritual. Havia por momentos ouvido que seria mãe de dois filhos... Quando conheci o Renan, nos conectamos e, assim, com o Rodrigo, se formou a família". A história, cheia de emoção, foi partilhada por ela no programa de Pedro Bial.
Maturidade com vitalidade
Dhu é um exemplo de como envelhecer com graça e propósito. Sobre a representação da maturidade na tevê e no cinema, ela é realista: "Nunca vai ser como gostaríamos, mas eu e meus colegas da mesma época estarmos trabalhando, vivendo o ofício com dignidade, é gratificante". Seu segredo para tanta energia aos 70 anos é uma fórmula que mistura propósito e autocuidado: "É primeiro ter a possibilidade de trabalhar naquilo que gosta. Tentar se cuidar, desde alimentação saudável, atividade física, festejar, se relacionar com pessoas que te fazem sorrir".
E os sonhos não param. O grande projeto atual é o show O canto da Dhu, que materializa 55 anos de carreira. "Poder levar ao mundo o sonho que se realizou... e viver essa emoção por todos os palcos nacionais e internacionais", é seu desejo. Para o futuro, ela adianta: "E 2026 vem aí, Tô de Graça, O canto da Dhu a partir de abril e o que mais o universo me ofertar".
Para os jovens artistas que a admiram, Dhu deixa um conselho sábio e necessário: "Veja o ser artista como uma profissão, um trabalho que, por mais divertido que seja, requer responsabilidade, muito esforço, comprometimento e dedicação".
Com a leveza de quem aprendeu a valorizar cada momento e a força de quem nunca deixou de lutar por seu espaço, Dhu Moraes segue não apenas contando histórias, mas sendo uma inspiração de vida e arte.
Diversão e Arte
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