Literatura

A voz das mulheres

O movimento nasceu de rodas de conversas realizadas em João Pessoa, das quais escritoras de Brasília participaram

Nesta quarta-feira será realizado o 2° Encontro do Mulherio das Letras DF, na sede do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (703/903 Sul). A programação começa às 9h, com duas rodas de conversas: "A violência contra a mulher na atualidade e a violência de gênero" e "A escrita como forma de resistência: desengavetar nossos textos". Os bate-papos são mediados pela escritora e professora Ana Rossi e têm participação das também escritoras Rosângela Vieira, Waleska Barbosa, Maria Lícia, Basilina Pereira, Natália Aniceto e Carla Nery.

A partir de 14h30, o público pode ver a exposição de obras de escritoras do Distrito Federal e Entorno e um sarau lítero-musical até às 18h. O último evento do dia tem início às 18h30, com o lançamento do livro Violência, não!, uma coletânea de poemas escritos por 49 artistas do Mulherio das Letras DF. 

O Mulherio das Letras DF é derivado do coletivo literário feminista de mesmo nome, criado em 2017. O movimento nasceu de rodas de conversas realizadas em João Pessoa, das quais escritoras de Brasília participaram. Na volta à cidade, criaram o grupo nacional e, a partir dele, várias unidades estaduais se derivaram. 

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Beth Fernandes, escritora e uma das organizadoras do encontro, explica que o tema deste ano foi escolhido devido ao alto número de casos de violência contra a mulher no Distrito Federal. "São trabalhos sobre várias perspectivas. Poemas muito crus e dolorosos, poemas que apontam caminhos, outros que tratam de recomeço após uma libertação de relacionamentos abusivos, e outros de forma amorosa", resume.

É o que traz Basilina Pereira, uma das autoras do livro, em Feminicídio: "Hoje acendem luzes e mandam flores. / Dizem aquelas palavras ornadas de fitas e lantejoulas, / que brilham até no silêncio. / Sim, com certeza, brilham — hoje. Amanhã o traçado é outro: cobertos de suor, hematomas na face / (por que sempre na face?) / o coração sangrando mágoas e as notícias… / Todas aquelas que alimentam as estatísticas. / Num universo distinto, / foram buscar uma palavra suntuosa / para retratar o desatino de corações ruidosos / tomados pela chama da violência / e cobertos pela insensatez dos homens, / que num momento de covardia / desaprenderam a amar"

Além de chamar a atenção à violência de gênero, outros objetivos do encontro foram dar destaque à escritoras e incentivar que as mulheres se expressem. "As mulheres sempre foram voz secundária na literatura. Ali por 2010, as premiações só tinham homens, raramente aparecia uma mulher. Era um apagamento histórico", explica Fernandes. 

A escritora também observa que muitas das mulheres que participam do livro Violência, não! são mais velhas ou já aposentadas: "É um reflexo da vida da mulher com vários papéis na vida, é só quando sossega que consegue colocar as ideias pra fora."

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco

2° Encontro do Mulherio das Letras DF

Amanhã, na sede do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (703/903 Sul). Inscrições feitas por meio de formulário disponível nas redes sociais do Mulherio das Letras
(@mulheriodasletrasdf),
com taxa de R$20.

 


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