Cinema

Festival de Cinema: Histórias femininas tomam conta do 5º dia

No quinto dia de Mostra Competitiva Nacional, histórias femininas tomam conta do Festival de Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

Histórias protagonizadas por personagens femininas tomaram conta do quinto dia de Mostra Competitiva Nacional do Festival de Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Os filmes exibidos, nesta quarta-feira (17/9), no Cine Brasília e no Complexo Cultural Planaltina foram Aqui não entra luz (MG), de Karol Maia, A pele do ouro (RR), de Marcela Ulhoa e Yare Perdomo, e Cantô meu alvará (MG), de Marcelo Lin.

Karol Maia, cineasta mineira, estreia o longa Aqui não entra luz na quinta noite de Mostra Competitiva Nacional. A diretora é filha de ex-trabalhadora doméstica e o filme reúne entrevistas com mulheres que trabalhavam como domésticas e compartilham relatos e lembranças desse período. As entrevistadas são da Bahia, Maranhão, Minas Gerais e Rio de Janeiro, quatro estados que mais receberam mão de obra escravizada no país.

O filme parte da experiência pessoal de Karol Maia, filha de uma ex-trabalhadora doméstica. “O trabalho doméstico no Brasil é um alicerce social que a gente tem. Eu não imagino esse país sem as trabalhadoras domésticas. E eu tô falando isso desde a ama de leite lá atrás, até as mulheres que hoje estão trabalhando como diaristas”, reflete a cineasta.

Para Karol Maia, é muito simbólico estrear o filme em Brasília, lugar onde decisões sobre o país são tomadas. A diretora reforça que é importante pensar no que deve ser feito para mudar a vida de trabalhadoras domésticas. “A PEC das Domésticas, é muito recente, que essa profissão foi considerada profissão institucionalmente. Ainda tem muita coisa pra ser conversada, mas também mudada, porque no final é sobre mentalidades, porque o trabalho doméstico é uma coisa muito cotidiana. As pequenas mudanças podem ser feitas pelos contratantes”, ressalta a diretora que acredita que o pensamento individual deve ser analisado para garantir a valorização desse trabalho.

A noite de exibições reúne histórias femininas e a diretora comenta que fazer cinema sendo uma mulher negra é uma atitude abusada. “É um lugar que não foi feito pra gente, mas insistir nisso é muito importante. Quero contar histórias de outras mulheres, mas também de qualquer outra coisa, assim como os homens brancos fazem, as cineastas negras, indígenas e trans tem que ter esse direito também”, afirma Karol Maia.

Iniciando a exibição de curtas da noite, A pele do ouro é um documentário que visita os diários de Patri e mostra as memórias da sua infância na Venezuela e os riscos assumidos no garimpo da Amazônia. Com direção de Marcela Ulhoa e Yare Perdomo, o curta tem roteiro, narração e atuação de Patri.

Para as diretoras, o filme é também um gesto de denúncia. “Roraima, hoje, é um estado altamente violento, um dos primeiros no país de violência contra a mulher”, ressalta Marcela Ulhoa. Yare Perdomo acrescenta que a dupla já vinha explorando a temática da violência de gênero “não só no cinema, mas fora do cinema”, e que dá voz a Patri é “um ganho muito grande” por revelar “esses lugares invisibilizados”. A partir dos diários íntimos escritos no coração da floresta, A pele do ouro transforma a experiência individual em relato coletivo, expondo o risco, o isolamento e a resistência das mulheres no garimpo.

Patri, que se emocionou durante o discurso de abertura do filme, reforça o caráter coletivo da obra ao lembrar que seus escritos, antes guardados em diários, hoje ecoam para além da experiência pessoal. “Eu nunca imaginei que meus escritos tivessem chegado tão longe”, afirma.

Para ela, o documentário ultrapassa a fronteira do relato individual e se tornou não só um filme, mas também a vida de muitas mulheres que hoje em dia atravessam situações de carência e violência. Patri vê na exibição “um chamado da sociedade para sensibilizar-nos com o fato de nossas problemáticas no nosso país” e agradece pela acolhida que permitiu que sua vivência “que não seja só um filme, mas também uma sensibilidade de chamar a todas as comunidades para que possamos agir juntos em solidariedade e apoio”.

O diretor Marcelo Lin estreia o curta Cantô meu alvará no Festival de Brasília. Filmado no Aglomerado da Serra, uma das maiores favelas de Belo Horizonte, o curta nasce da relação do diretor com a comunidade. A narrativa acompanha Nayara, Lara e Fernanda e o curta busca retratar o cotidiano periférico com afeto, criatividade e sonhos. “Aqui é o melhor estreia que um realizador poderia ter”, celebra Lin pela participação no Festival de Brasília.

A produção, que levou seis anos para ser finalizada, apresenta uma metáfora para a liberdade, a partir de Nayara, personagem com paralisia cerebral que deseja estudar inglês e conhecer o mundo. "Liberdade vai muito além de romper as grades, é ter liberdade de acesso, de sonhar com outras profissões. O cinema não foi pensado para mim nem para Nayara, o filme é uma forma de furar a bolha", diz o diretor. "Fazemos um cinema de território, com amigos, família, com os invisibilizados e tentamos fugir desse estereótipo de como se olha para a periferia, da violência, da pobreza, da escassez e tenta reinventar um lugar através do cinema. É uma estética da dignidade", completa Lin.

A Mostra Competitiva continua nesta quinta (18), com exibições no Cine Brasília e no Complexo Cultural Planaltina. Os filmes da noite são Assalto à brasileira (SP), de José Eduardo Belmonte, e Ajude os menor (AL), de Janderson Felipe e Lucas Litrento.

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