
Ana Yuri Matsumoto era recém-formada em medicina quando chegou a Brasília, 25 anos atrás. O objetivo era a residência médica em oftalmologia, especialidade que, na época, não era acessível na sua cidade natal, Belém. Chegou a ser chamada, mas tarde demais: já havia iniciado o trabalho na ala de psiquiatria do Hospital de Base.
A psiquiatria se tornou uma paixão. “O residente fica praticamente internado ali com seus pacientes e aquela vivência tão rica, eu não tinha mais como abrir mão dela”, explica a médica.
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Durante a época de residência, resolveu olhar para os prontuários dos pacientes de outra forma e, no fim do dia, passou a escrever sobre o que via. Foi assim que surgiu a ideia de lançar um livro de crônicas sobre as vivências no hospital, Louco é quem me diz, publicado em 2005.
A intenção, explica Matsumoto, era “dar voz ao paciente tão marginalizado”. “O ‘louco’ nunca tem credibilidade, especialmente o paciente internado. Por isso, escolhi estes. São os mais graves, os mais desacreditados e desumanizados pelo sistema que já vi. E ao mesmo tempo, ali eu descobri que eles eram como nós do lado de fora da internação”, diz.
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Agora, 20 anos depois da edição original, a autora publica uma nova edição de Louco é quem me diz, com lançamento marcado para esta sexta-feira (10/10), às 19h, na Livraria da Travessa, no shopping CasaPark. A segunda publicação apresenta dois novos casos, ainda da época da residência e reflexões sobre cada situação ao fim do texto.
Durante os anos, Matsumoto pôde observar muitas mudanças no campo da psiquiatria e na própria experiência profissional. “Eu mudei, grande parte da inocência da residente se foi, ficando calejada pelas dificuldades do caminho. Os diagnósticos e terminologias mudaram. De várias formas, esses limites têm sido alterados, acrescentados ou extintos. O estigma felizmente está mudando também”, comenta. “Só não muda o fato de que somos humanos e seguimos adoecendo mentalmente.”
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A autora comemora a diminuição do preconceito relacionado ao tratamento de doenças mentais, mas afirma que há necessidade de aumentar a capacitação de profissionais da área. “O estigma contra a doença mental, o doente, os medicamentos e os profissionais destas áreas vêm caindo lenta mas perceptivelmente. Ao mesmo tempo, por diversos fatores da vida moderna, vem aumentando a necessidade de se tratar, de se conhecer. É uma combinação que exige profissionais cada vez mais preparados, não apenas IA”, diz.
Louco é quem me diz representa a continuação da missão de Matsumoto para melhorar a percepção do público sobre assuntos relacionados à saúde mental. “Apesar de atualmente se falar tanto de distorções como hiperdiagnósticos, exageros diversos e "chá revelação" de distúrbios, ainda temos, no mundo todo, baixo acesso a tratamento psiquiátrico, enorme quantidade de suicídios e na verdade, subdiagnósticos de vários transtornos mentais” finaliza.
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Serviço
Lançamento de Louco é quem me diz
De Ana Yuri Matsumoto. Nesta sexta-feira (10/10), às 19h, na Livraria da Travessa, no Casapark.
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