
Nascida no Rio de Janeiro e criada em Salvador, Dhi Ribeiro carrega o samba consigo desde nova. Após ser eleita Cantora Revelação do Carnaval pela revista Exclusiva em 1993, Dhi foi convidada a participar da banda Trem das Cores na capital. O plano era ficar seis meses em Brasília, mas ela está no planalto central há 33 anos.
Radicada em Brasília, a cantora lançou o primeiro álbum em 2009, intitulado Manual da mulher. Participou também do grupo Nós Negras, projeto que homenageava mulheres negras do samba. Sua voz a levou para Itália, em meados dos anos 2000, para trabalhar em um circo, onde ficou por três anos. Em 2012, sua música Para uso exclusivo da casa foi trilha sonora da novela Lado a Lado. Cinco anos depois, participou do The Voice Brasil no time de Carlinhos Brown.
Hoje, perto de completar 60 anos, Dhi Ribeiro fala como Brasília mudou sua carreira musical, a importância do Dia da Consciência Negra e como percebe o samba e a cultura negra em Brasília.
Entrevista // Dhi Ribeiro
Na sua chegada a Brasília, o que você acha que mudou ou transformou na sua música?
Eu acho que tive a sorte de trabalhar com músicos excelentes, sempre. É algo que faço questão. Fui convidada para fazer trabalhos com instrumentistas excepcionais em Brasília. Logo depois, montei minha própria banda. Em seguida, fui para o grupo Coisa Nossa, do Marcelo Sena. Todas essas experiências foram verdadeiras escolas para mim.
Eu já tinha uma forte relação com o samba vinda da minha família, meu pai e minha mãe gostavam muito. Éramos aquela família que ouvia samba e música brasileira o fim de semana inteiro, colocando nossos LPs para tocar. Meus pais e minhas tias me deram uma referência musical maravilhosa e de boa qualidade. Brasília me trouxe uma referência forte de qualidade, de fazer as coisas bem-feitas.
Temos músicos incríveis na cidade, não me canso de dizer isso. Brasília é musicalmente muito feliz, com artistas de grande qualidade. Muitos artistas renomados do Brasil têm músicos brasilienses presentes em suas bandas. Essa referência musical me fez mudar e estudar muito para satisfazer minha curiosidade e as necessidades de melhorar a qualidade do meu trabalho. Brasília me fez mudar, principalmente pela qualidade musical.
Como você percebe o samba e a cultura negra em Brasília atualmente?
Eu acho que estamos vivendo um crescimento maravilhoso com relação ao samba de Brasília. Isso inclui grupos como Pede Teresa, Menos é Mais e outros, que estão tocando pelo Brasil e fazendo pagode com samba. Isso é muito bom, principalmente porque estão levando o nome de Brasília nesse estilo. Aqui, estamos tendo uma prática fantástica, as rodas de samba. Elas são incríveis: Sambinha da Vila, galera do Tia Zélia, Samba Urgente, entre outros.
Há muita gente boa fazendo um trabalho maravilhoso, levando essa cultura para os nossos jovens. Essa cultura não morre; ela cresce, e Brasília tem crescido muito nesse aspecto. Sou muito feliz por isso, porque vi muita gente começando e, agora, vejo que são grandes músicos, como Breno Alves. Fico muito feliz em ver o crescimento do samba na cidade e como as casas e espaços de rua estão se abrindo para esse estilo. Acredito que qualquer trabalho relacionado à música brasileira de boa qualidade é importante, especialmente a música brasileira em si.
É vital que nossos jovens possam curtir essa música e nossa cultura preta nos espaços que estão sendo abertos, incluindo os gratuitos e na rua, que são acessíveis a todos. Não só no samba, mas no rap, hip-hop, música e dança de rua, estamos tendo um crescimento significativo. Temos figuras muito importantes na cidade fazendo um trabalho bem bacana, e eu acredito neste movimento cultural.
Como uma mulher e artista negra, o que você acha que mais mudou ao longo do tempo? A recepção é maior hoje em dia? Você passou por muitas dificuldades no início da sua carreira?
Sim, eu passei por todas as dificuldades que alguém pode ter passado. Como toda pessoa negra, e ainda mais sendo uma mulher de pele retinta, enfrentei todos os desafios. Eu vi a montanha-russa, uma hora você está em cima, outra embaixo, mas a vida em cordilheira faz parte. Desde o começo, trabalhando como backing vocal e depois solo, sempre tive muita expressão e vontade de me expressar. A partir disso, eu consegui o meu próprio espaço, correndo atrás.
Um dia, decidi: "Eu não canto para mais ninguém, não vou trabalhar para mais ninguém, eu vou montar a minha própria banda". E já faz 27 anos que eu tenho minha banda. Tenho músicos comigo há 30 anos. Acho que consegui respeito, o que é muito importante para o que fazemos, que é divulgar nossa cultura. Eu sou uma cantora que canta basicamente música negra, e por esse motivo, apoio às pessoas que estão chegando. Sou uma pessoa contente com a trajetória que tenho. Eu viajo o mundo e o Brasil para levar a nossa música.
Acho que as mulheres estão tomando um espaço muito legal, porque vivemos em uma estrutura machista, ainda mais falando de mulher negra. Vejo as meninas novas chegando, tocando em grupos femininos. Temos grandes musicistas e profissionais no backstage aqui em Brasília.
Às vezes, trabalho em projetos totalmente em coletivo, só com mulheres dirigindo, cantando, organizando e fazendo o backstage, porque sem elas não fazemos um bom trabalho. Acredito, tenho muita fé, e acredito que ainda há muito para melhorar. Não está perfeito, mas estamos no bom caminho.
Qual você acha que é a importância do feriado nacional do Dia da Consciência Negra e de celebrá-lo com a música?
Eu acho que a música, a arte, a literatura, a dança, todos esses elementos fizeram a cultura do Brasil ser como ela é: diversa e atípica. Somos um país de dimensões continentais com influência de vários povos, incluindo uma grande influência negra. Se você, por exemplo, tirar a influência negra do Rio de Janeiro, de Salvador, ou do Maranhão, que são as três maiores capitais negras do país, o que é que resta? Você vai à Bahia para curtir a cultura negra de lá, e no Rio de Janeiro, você curte a cultura negra.
Nós não viemos apenas da África, que é um continente; cada um saiu de um lugar e de um país diferente. Isso é o que estabiliza a nossa diversidade cultural. Sem a cultura negra em nosso país, eu nem consigo ver o Brasil. Então, acredito que celebrar isso é necessário. É a hora de exaltar nossos heróis e nossos feitos.
Saiba Mais
Celebração na capital
Na Praça do Museu Nacional da República, o evento Consciência Negra 2025 reúne uma série de shows gratuitos para o público brasiliense. Com o tema Raízes que Conectam o Futuro, o projeto traz artistas locais e nacionais para celebrar a data. Os ingressos devem ser retirados no Sympla. Confira programação completa:
Hoje, a partir das 19h
Alexandre Pires
Ludmilla
Atrações locais
Amanhã, a partir das 19h
Uel
Timbalada
Mumuzinho
Atrações locais
Sábado, a partir das 19h
Benzadeus
Psirico
Carlinhos Brown
Atrações locais

Diversão e Arte
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