
Título que dá pontapé nos trabalhos da AdHoc Studios chegou com uma qualidade absurda, trazendo um foco na história e nos personagens e que criaram uma comunidade investida em cada capítulo semanal de Dispatch. A primeira temporada chegou ao seu fim na semana passada, em 12 de novembro, com os capítulos 7 e 8 sendo lançados juntos.
No jogo, encarnamos Robert Robertson III, conhecido como Mecha-man, um super-herói que utiliza uma armadura para combater os vilões. Um manto que era passado de pai para filho dentro da família do protagonista. Em uma de suas missões, o herói é encurralado e surpreendido por ataque conjunto de seus inimigos, ele consegue fugir ainda com vida, mas um item essencial do traje é danificado.
Robert decide pendurar as luvas e acabar com seus dias de heroísmo. Entretanto, Loira Luminar, uma das heroínas do serviço da SDN (Superhero Dispatch Network ou em português, A Rede de Envio de Super-heróis) entra em contato com o herói e lhe oferece ajuda para colocar o traje para funcionar, mas com uma condição: Robert deve usar sua experiência em campo para se tornar um gerente de despacho de um time nada funcional de heróis: o Time-Z. Essa é a trama de Dispatch.
Já comentamos sobre aspectos de jogabilidade de Dispatch em outras duas entradas no Correio Braziliense e o site até teve uma entrevista exclusiva com o brasileiro e veterano do gênero Charles Marcolim antes do lançamento oficial do jogo.
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Por isso, o texto a seguir tem como intenção comentar os eventos da campanha e o impacto de Dispatch no mundo dos games.
***Possíveis spoilers a seguir
Uma estreia memorável
Como primeiro jogo de veteranos do gênero point and click, o pessoal da ADHoc já tem uma bagagem cheia, tendo participado do desenvolvimento de jogos da Telltale, como a franquia The Walking Dead e The Wolf Among Us. Sendo assim, tudo que o gênero já tem de divertido era certo que estaria presente no título, contudo, quando a jogabilidade de manejar “recursos”, indicado onde cada herói deve ir, foi implementada junto à narrativa, o diferencial poderoso surgiu.
O ouro de Dispatch, além do humor sagaz e das atuações astronômicas, é o seu roteiro, que mesmo com minutos para cada personagem, consegue fazer o jogador se engajar com suas histórias. Um bom exemplo disso é o ex-namorado da Loira Luminar, o Fenômenomem, que é um tipo “Superman” do universo de Dispatch, que lida com uma depressão profunda.
Caso você o chame para participar do Time-Z, ele conta vários casos de tragédia sobre sua vida como alienígena na terra, com uma delas sendo como ele, horrível e grotesco, no planeta natal - tendo uma aparência bem normal para os padrões terráqueos - ele comenta que cada elogio o faz lembrar desses tempos horríveis em casa. Robert tenta animá-lo falando que “Não tem nada de errado com você”, ao que ele responde com um suspiro e relembra de sua aparência grotesca novamente.
Caminho esse que só pode ser ouvido por quem o selecionou na oportunidade dada pelo jogo, e o que mostra que a outra escolha - na qual você seleciona outro herói para adentrar o time - conta com diálogos diferentes, assim como interações e até cenas com desfechos distintos. O que cria pelo menos uma sensação de que cada decisão do jogador está afetando de alguma forma a narrativa.
Essas pequenas sacadas entre missões constituem um dos motivos do destaque do jogo, que não só constrói histórias pregressas e ricas para seu universo, como faz o jogador se apegar aos personagens dessa forma.
Dispatch conta com um elenco enorme e podia rapidamente perder a mão e dar mais espaço para um ou para outro personagem - o que até existe em um certo grau -, mas todos os coadjuvantes têm uma dose precisa de holofote. O que faz o jogador querer ouvir mais sobre os personagens e sobre suas interações com aquele mundo lotado de outros heróis.
A trama desenhada
O Programa Fênix, do qual o Time-Z faz parte, tem como o intuito reintegrar vilões para o lado do bem da sociedade. Ou seja, tidos além de pior equipe da empresa, ele é composto inteiramente por vilões querendo se converter. Uma dificuldade que já impacta Robert no início da história e a forma como o jogo coloca o jogador para participar dessa evolução é impressionante.
ADHoc conseguiu colocar o jogador para se sentir fazendo parte do progresso da equipe, desde um discurso mais otimista em uma reunião, a recusa de tirar um dos aliados do programa quando esse se mete numa crise.
Vamos dar nome aos bois: Invisiva, uma ex-vilã, com poderes de se tornar invisível apenas quando está segurando sua respiração - e ela ainda tem asma e fuma -, é uma das personagens mais bem desenvolvidas do título. Invisiva é instável no início da sua operação com Robert, mas conforme eles vão agindo em conjunto e se auxiliando a evoluir como benfeitores, a relação entre os dois vai se afunilando até um flerte. Ela e a Loira Luminar são opções de romance do protagonista e ambos caminhos trazem desfechos distintos, como dito anteriormente.
Esse balanço entre acontecimentos e manejamento de recursos, cria um instinto natural de progressão além de montar na cabeça do jogador alguma dose de expectativa para os próximos acontecimentos da trama. O plano de fundo do jogo como um todo traz uma história interessante, quando coloca o protagonista tendo que lidar com o assassino de seu pai diretamente, o que torna a trama pessoal para Robert Robertson, elemento esse que engaja o jogador até o último minuto, esperando o momento do confronto e quando a história vai atingir seu ponto máximo.
Quando o caos toma conta da cidade e o plano do Mortalha se desenrola, todos os heróis da SDN são recrutados e, aos poucos, como a batalha épica no melhor estilo EAD, o jogador faz parte da ofensiva. Com a conclusão de Robert voltar a usar o traje do Mecha-man e lutar mano a mano contra seu arqui-inimigo. O jogo entrega uma última decisão difícil, que pode levar Robert a matar o Mortalha caso o jogador deseje ou simplesmente deixá-lo viver mais um dia e pagar por seus crimes.
The Game Awards 2025
O barulho da comunidade foi ouvido pela banca do The Game Awards, o Oscar do mundo dos games. O título recebeu uma indicação na categoria de Jogo Independente de Estreia, que premia estúdios indies que lançam o primeiro jogo no ano vigente. Além de Dispatch, da ADHoc, estão na categoria: Blue Prince da Dogubomb, Clair Obscur: Expedition 33, da Sandfall Interactive; e Despelote, de Julián Cordero/Sebastian Valbuena.
O jogo já registrou 2 milhões de jogadores que experienciaram o título e mais de 1 milhão de cópias vendidas. Em sua primeira semana de lançamento, Dispatch foi o jogo mais vendido da Steam.
Considerações finais
Dispatch dá um novo ar ao gênero de point and click, não se limitando a ser só mais um título, mas tendo algo especial para entregar no seu interior. A atuação de Aaron Paul de Breaking Bad como o protagonista entrega muito bem o sarcasmo e o fardo do personagem, é excelente para a primeira aventura do ator nos videogames, Laura Bailey, dubladora experiente, também não fica para trás, entregando todo seu carisma em Invisiva, variando entre o humor extremo e momentos de fragilidade. Além da dupla, vale citar Jeffrey Wright, o Gordon de The Batman, que faz a voz de Chase, personagem que é a figura paternal de Robert na história.
A AdHoc Studio prometeu um jogo em maio de 2025 lançando uma demonstração do que seria seu primeiro título, contudo a empresa entregou uma experiência concisa e com o roteiro redondo e bem escrito. Não só cumprindo a promessa, mas ultrapassando expectativas. O jogo merece todo sucesso estrondoso e comunidade engajada. Dispatch tem muito a ensinar sobre como contar histórias e principalmente como desenvolver personagens, basta a indústria ouvir.
Dispatch está disponível para PC e PlayStation 5. Todos os episódios do jogo já estão disponíveis.
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*Está análise foi feita com uma cópia enviada pela ADHoc Studios para PC.

Diversão e Arte
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