A trajetória do ator Vinicius Teixeira, de 34 anos, é uma prova de que os caminhos da arte são sinuosos e surpreendentes. Aprovado no curso de educação física, ele decidiu preencher o tempo de espera antes do início da graduação com um curso de teatro, apenas para vencer a timidez. O que era uma distração passageira se revelou uma vocação. Incentivado por um professor, trocou a faculdade de educação física pela de artes cênicas e nunca mais parou. Quinze anos depois, ele colhe os frutos de uma carreira versátil e é um dos nomes em evidência na novela Três Graças, da TV Globo, onde vive o complexo Vandílson.
O personagem integra o núcleo da Chacrinha, que se tornou um fenômeno nas redes sociais, batizado carinhosamente pelo público de "bandivos" — uma junção de bandidos e divos. Ao lado de Lucas Righi e Xamã, que interpretam, respectivamente, Alemão e o chefe, Bagdá, Vinicius forma o trio que conquistou os telespectadores. "Tem sido uma delícia! Tenho gostado muito de trocar ideia com as pessoas que estão acompanhando a novela e receber todo esse carinho", comemora o ator, ao Correio.
"Não é um cara ruim"
Vandílson é um jovem ambicioso da periferia de São Paulo, que vê em Bagdá uma figura de referência e autoridade. Para compor o personagem de forma verossímil e humana, Vinicius mergulhou em uma pesquisa extensa. Suas referências incluíram a literatura de Ferréz (Manual Prático do Ódio) e Paulo Lins (Cidade de Deus), o documentário Falcão – Meninos do tráfico, a música dos Racionais MC's e de Sabotage, e o podcast Mano a mano, de Mano Brown.
"Acredito que, ao invés de negar quem eu sou, eu preciso fundir o meu universo com o dele", explica Teixeira. "Deixar com que esse universo [da periferia] ressoe e se some com as minhas experiências. É como se ele me apresentasse uma outra versão de mim mesmo."
Além do estudo teórico, o ator passou um mês em São Paulo, filmando na Brasilândia, bairro que serve de locação para a comunidade fictícia da Chacrinha. "Pude trocar muito com os moradores locais, entender mais de perto a forma de falar, o sotaque e lidar com essa realidade de uma forma mais concreta e real", conta.
Essa base sólida permite a ele defender uma visão humanizada de Vandílson. "Ele não é um cara ruim. É um jovem sem muitas possibilidades de escolha", reflete. "É um rapaz que não teve boas referências emocionais, que reproduz o que viveu. Na relação dele com o Bagdá, tem carinho, respeito, medo, opressão e admiração, que vira ambição. Todos esses sentimentos misturados. Não consigo enxergá-lo de uma forma maniqueísta, pensando em bem ou mal. Só consigo enxergá-lo de forma humana."
Diversidade em cena
A carreira de Vinicius é marcada pela diversidade. Antes de Três Graças, ele já havia passado por outras novelas, como Babilônia (2015) e Rock story (2016). No streaming, acumula trabalhos no Globoplay em séries como Justiça 2, Rio heroes, Feras e Carcereiros.
Nos palcos, sua base, são mais de 20 montagens. Ele ganhou projeção com o musical universitário The Book of Mormon (2013) e conquistou o Prêmio Aplauso Brasil de Melhor Ator Coadjuvante por Gabriela (2017). Recentemente, encarou o desafio do monólogo Selva: Solidão, que pretende retomar em circulação após o término das gravações da novela. "O cinema modificou o ator que eu sou no teatro. O teatro me deu ferramentas que fazem toda a diferença no cinema e na tevê", analisa. "Acho que, hoje em dia, o meu trabalho é mais coeso e eu consigo navegar por esses caminhos diferentes de uma forma fluida, sem pânico."
No cinema, ele recentemente protagonizou seu primeiro longa-metragem, O melhor amigo, um musical, ao lado de Gabriel Fuentes. "Foi um mergulho profundo e deliciosamente intenso", relembra. "Lidar com essa responsabilidade em um filme que retrata a comunidade LGBTQIAPN+ de uma forma solar, romântica e divertida foi incrível."
Para alimentar sua arte, Vinicius não para de estudar. Além da formação em artes cênicas, é cantor, dançarino e atualmente estuda Libras no Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). "Quanto mais ferramentas eu tenho, mais consigo agregá-las ao meu trabalho artístico. Penso no meu corpo como um instrumento de conexão e comunicação", diz.
Outro pilar fundamental é o apoio dos pais, Gisela e Julio Cesar, que, inicialmente receosos com a instabilidade da profissão, se tornaram seus maiores incentivadores. "Meus pais me viram mais feliz do que nunca desde que comecei a estudar e trabalhar com teatro, e acho que isso foi o que fez com que eles me apoiassem", relata. "Esse apoio é definidor da minha trajetória."
Com uma rotina intensa de atividades físicas — academia seis vezes por semana e ciclismo diário —, o ator garante que a disciplina é crucial. "Isso me deixa mais preparado para a correria da vida e faz muito bem para a minha saúde mental. É um momento terapêutico de cuidado comigo."
Novos projetos
Para o futuro, Vinicius mantém o desejo de interpretar personagens que provoquem reflexão. "Eu amo ler um roteiro e sentir um frio na barriga de: 'será que eu dou conta desse desafio?', e correr para uma mesa grande com um caderno e várias canetas para começar a estudar", conta.
O público pode esperar novidades. O ator planeja a retomada do monólogo Selva: Solidão para entre o fim de 2025 e início de 2026. No cinema, aguarda o lançamento de Corpo clandestino, atualmente em pós-produção, e de outro longa em 2026, além de finalizar um filme autoral.
Seja no sucesso atual da tevê, seja em seus projetos pessoais, sua missão permanece a mesma: "Eu realmente encaro essa profissão de ser artista como um caminho para criar diálogos com as pessoas".
"No caso do Vandilson, acho que a novela propõe um ponto de vista humanizado. Acho que isso ajuda na recriação de um imaginário coletivo, e faz com que pessoas que enxergam jovens como ele de uma forma perversa possam rever esse olhar", finaliza o ator.
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