A urgência em preservar uma memória que começava a cair no esquecimento levou a artista Suyan Mattos a escrever A nave 508, cujo segundo volume ela lança hoje, às 19h, no Bar Beirute da 109 Sul. Artista, produtora e curadora, Suyan é também espectadora do espaço. "Minha formação estética e política passa por ali. Pesquisar esse lugar é devolver ao espaço aquilo que recebi. É uma escrita que também é memória viva", explica. "A 508 sempre foi intensa, mas pouco documentada. Reunir essas histórias é um gesto de cuidado e reconhecimento, uma forma de impedir que um capítulo fundamental da cultura do DF desapareça."
Para escrever o livro, Suyan partiu de pesquisa histórica, mas também da coleta de testemunhos e depoimentos colhidos ao longo de anos. Dividido em quatro partes, A nave 508: Segundo Volume reúne entrevistas, memórias, um texto poético e uma galeria documental. "Os testemunhos foram escolhidos porque a história da 508 é polifônica", explica Suyan, que reuniu os relatos a partir de entrevistas presenciais, depoimentos escritos, telefonemas e chamada pública. "A seleção priorizou relevância histórica, diversidade de linguagens e representatividade. Nada foi descartado: tudo está arquivado para futuras expansões", garante a autora.
O primeiro volume, lançado em 2021, mapeou a formação e a primeira época da 508 Sul. No segundo, concentrado na história do espaço entre 1993 e 2013, o foco é a intensa efervescência cultural dessas duas décadas. "O segundo volume aprofunda a investigação iniciada no primeiro e reúne depoimentos de 70 artistas e agentes culturais. Ele complementa o primeiro ao ampliar vozes, imagens e memórias, formando um retrato mais denso e múltiplo da história viva do espaço", conta Suyan. Ela lembra que a 508 Sul funcionou como um organismo de invenção, conflito e liberdade.
Para a artista, o espaço foi laboratório, uma escola subterrânea e um campo de experimentação num DF ainda em formação institucional. "Resistiu ao abandono, à falta de políticas e ao esquecimento. É cápsula porque condensa tempos, corpos e linguagens, preservando uma memória que pode ser reaberta no futuro como documento vivo da cultura brasilienses", diz. No livro, Suyan procura mostrar como o centro cultural se tornou um eixo estruturante da arte no DF. "Foi o lugar do risco, da formação, da convivência e da experimentação cotidiana. Muitos dos principais artistas, curadores e gestores da cidade passaram por ali. A 508 moldou práticas, modos de fazer e formas de habitar a arte. Falar da arte de Brasília sem citar a 508 é ocultar metade de sua história", defende.
A nave 508: Segundo Volume
De Suyan de Mattos. Edição independente, 279 páginas. Distribuição gratuita. Lançamento hoje, às 19h, no Bar Beirute da 109 Sul
