Teatro

'Caim e Abel — as bestas' reflete sobre masculinidade no palco do Espaço Renato Russo

Enredo acompanha dois homens atravessando um deserto não só físico, como também simbólico

Gil Roberto e Márcio Minervino refletem sobre masculinidade na peça 
Caim e Abel — As bestas -  (crédito: Diego Bresani)
Gil Roberto e Márcio Minervino refletem sobre masculinidade na peça Caim e Abel — As bestas - (crédito: Diego Bresani)

O espetáculo Caim e Abel — As bestas é atração hoje, às 15h, e amanhã, às 19h, no Espaço Cultural Renato Russo da 508 Sul. A peça do Grupo Desvio é inspirada no texto bíblico, questiona a masculinidade e a violência da sociedade contemporânea. Segundo o diretor Rodrigo Fischer, a obra nasce do desejo de revisitar debates sobre masculinidade presentes em trabalhos anteriores do grupo, como no espetáculo Os fracassados, de 2014. 

Fique por dentro das notícias que importam para você!

SIGA O CORREIO BRAZILIENSE NOGoogle Discover IconGoogle Discover SIGA O CB NOGoogle Discover IconGoogle Discover

O enredo acompanha dois homens atravessando um deserto não só físico, como também simbólico. Lá, os personagens enfrentam medos e vulnerabilidades, tendo que lidar também com atos violentos. "Caim e Abel funda uma narrativa do homem como homicida do próprio homem. A peça não fala sobre Caim e Abel, ela revisita a história a partir deles", observa Gil Roberto, dramaturgo e ator da peça. Para ele, revisitar essa narrativa é essencial para "descortinar muitas das formas de violência praticadas pelo homem".

O espetáculo apresenta a execução de uma trilha sonora ao vivo, que materializa afetos e memórias, acompanhando as cenas de tensão e reflexões propostas pela peça. O cenário da peça também é composto por projeções audiovisuais. Algumas das imagens foram captadas durante o processo de imersão da equipe em Cavalcanti (GO). "A trilha e as projeções participam como atores, elas estão em cena o tempo inteiro. A ideia é que os elementos audiovisuais multipliquem a narrativa e tragam outras camadas", diz o diretor. 

Caim e Abel — As bestas recorre ao humor e ao nonsense para expor os temas retratados de forma absurda. Para o diretor, tratar da masculinidade é "uma questão de sobrevivência". "Porque os homens matam muito e se matam muito também. É um tema muito delicado, muito sensível", explica Fischer. Gil acrescenta que a violência patriarcal permanece na base das relações sociais: "É uma violência estrutural, e precisamos falar sobre esse assunto até que não seja mais uma necessidade vital". 

 A obra não se organiza de forma linear, seguindo diversas ordens narrativas e mesclando sonhos, realidades e memórias. Essa característica reforça a atmosfera onírica do espetáculo. O ator e dramaturgo afirma não conseguir resumir a peça por sua complexidade, mas revela a poesia que encerra o espetáculo: "Éramos grão / guardados na dureza / paciente das pedras". 

O Grupo Desvio soma 23 anos de trajetória, com nove espetáculos apresentados em oito países. As produções do grupo são marcadas pela incorporação de tecnologias e elementos audiovisuais no teatro. Ao fim de cada apresentação, a equipe realizará um bate-papo com o público, ampliando a reflexão da obra para além dos palcos. 

Caim e Abel — As Bestas

Grupo Desvio. Hoje, às 15h, com libras e audiodescrição, e quinta-feira, às 19h, no Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul). Entrada gratuita mediante retirada de ingressos pelo Sympla. Não recomendado para menores
de 16 anos.

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco

 


  • Google Discover Icon
BL
postado em 03/12/2025 03:51 / atualizado em 03/12/2025 17:42
x