
A brasiliense Renata Jambeiro celebra mais um ano de vida com o evento Jambeiro Solidário. Hoje, a aniversariante do dia homenageia Clara Nunes com o show Mestiça e arrecada donativos para a Creche Clara Nunes e o Instituto Clara Nunes. Nos palcos do Clube do Choro de Brasília, a partir das 20h, ela apresenta um repertório que passa por clássicos e faixas lado B da cantora mineira, além de narrar a história da artista por meio da música e de elementos cênicos.
Completando 44 anos de idade, Renata conta que a tradição do aniversário solidário começou em 2010. "Sempre que eu fazia alguma celebração, era essa coisa de alguém me dar um presentinho, um brinquinho, um colarzinho, uma coisinha. E aí eu percebi que isso não fazia sentido para mim, porque sempre havia gente que precisava mais do que eu, principalmente nessa época do Natal", lembra.
Há cerca de 15 anos, a cantora brasiliense começou a pedir doações no lugar de presentes nos aniversários — alimentos, roupas, remédios e brinquedos. "Eu percebi também que eu poderia usar minha visibilidade para ajudar. Eu não sou artista à toa, para subir no palco e fazer com que as pessoas me amem. Eu quero amar. É para isso que eu canto", declara a vocalista. Assim, surgiram as rodas de samba beneficentes, organizadas, anualmente, por Renata. "Cada ano, o Jambeiro Solidário acontece em um lugar diferente, com pessoas que se deslocam para tocar e cantar voluntariamente", explica a brasiliense. Neste ano, a entrada pode ser adquirida a partir de R$ 35.
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O valor arrecadado pelo show é inteiramente revertido para as instituições de caridade. Também serão aceitos donativos na porta da casa.
Na 16ª edição do Jambeiro Solidário, Renata apresenta um trabalho que vem fazendo há mais de 20 anos. "A Clara sempre caminhou junto comigo, desde que sou muito pequena", relata a cantora. Segundo ela, os domingos de manhã da infância ficaram marcados pela voz da mineira, que tomava conta da casa da família. "Minha mãe tinha muitos discos, da Alcione, da Beth Carvalho.. mas a Clara me tocava muito profundamente. Ela é quase que uma entidade para mim", declara a intérprete.
"Desde muito nova, eu aprendi a cantar as canções que ela gravou. Mas quando surgiu a ideia de cantá-las profissionalmente, há mais de 23 anos, eu achei uma grande loucura, porque não é qualquer pessoa que canta as músicas da Clara", revela a brasiliense. "Ela não era alguém que abria a boca e ia cantar, ela cantava com o corpo inteiro", define.
Para Renata, o legado de Clara Nunes vai além do material artístico deixado pela mineira. "Ela abriu caminho e espaço para que a gente falasse das culturas de matriz africana sem tabu e sem medo", enaltece a artista. "Na década de 1970, ela valorizava, mostrava e dava luz a essas culturas afro-brasileiras. Hoje, são coisas que a gente fala abertamente, mas antigamente era algo velado, que ela ajudou a desmistificar", destaca a intérprete.
"Clara também foi responsável por abrir caminhos para outras mulheres na música. Ela foi a primeira artista a vender quantidades exorbitantes de discos no nosso país", aponta. Em 1971, Clara Nunes se tornou a primeira cantora brasileira a vender mais de 100 mil cópias de um disco, um feito inédito para mulheres na época, com o homônimo lançado em 1971. Três anos depois, ela quebrou o próprio recorde com álbum Alvorecer, que vendeu mais de 400 mil cópias.
Sambista brasiliense
Formada em artes cênicas pela Universidade de Brasília (UnB), a cantora, compositora e atriz Renata Jambeiro, atualmente moradora de São Paulo, consolidou-se na carreira como sambista ainda na capital federal. "Brasília se tornou uma cidade de samba depois dos anos 2000, acompanhando um pouco de uma efervescência enorme que teve na Lapa e acabou respingando aqui", lembra a artista.
"Desde a década de 1990, o pagode de São Paulo, aquele mais meloso, que fala de amor, tomou conta da cidade. Então, todo evento daqui tinha pagode, mas não tinha samba — ele, inclusive, aparecia mais como uma MPB nos barzinhos da cidade. Até que veio uma galera jovem, universitária, e mudou esse panorama", detalha a cantora.
A partir do surgimento de casas noturnas como o Macadâmia e o Calaf, explica Renata, o samba começou a ser disseminado por Brasília. "Todo mundo que ouviu aqueles álbuns dos anos 1980 estava ali cantando aquelas músicas a plenos pulmões. Foi assim que a cidade começou a ter esse movimento do samba, quando a galera do pagode começou a cantar o samba raiz", resgata.
"Brasília foi construída artisticamente por muitas mãos, mas tiveram pontos de virada como esse, em que a galera virou a chave do pagode para o samba. Isso ajudou a formar a cidade", garante. "Hoje em dia, Brasília já não é mais a capital do rock, nem do reggae. É do samba", finaliza.

Diversão e Arte
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