Pensar a deficiência a partir de uma perspectiva inclusiva, de expansão e não de ausência de um membro ou de um sentido, é o ponto central do trabalho da artista Céu Vasconcelos na exposição Monumento Aleijado, em cartaz no Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul). Original de Pacajus, na região metropolitana de Fortaleza (CE), Céu constroi esculturas que também são próteses utilizadas em performances nas quais reflete sobre capacitismo e inclusão.
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Na exposição, a artista mostra fotografias e objetos feitos em gesso, barro e tecidos, espécies de extensões idealizadas para vestir e propor ao público uma reflexão sobre o que significa a normalidade. "Sou uma pessoa com deficiência física, então minha pesquisa, desde o início, está atrelada a essa questão", explica. "O pensamento da prótese está muito ligado, às vezes, ao capacitismo, à ideia de entender o corpo como um corpo que falha e precisa ser corrigido pelas próteses. Então, há anos proponho criar minhas próprias próteses a partir de um trabalho artístico."
Ocupar o espaço público e a rua também faz parte da proposta. Assim, as performances costumam ser realizadas ao ar livre, de preferência próximo a monumentos, edificações que trazem um simbolismo especial para o artista. "Começo a fazer esse trabalho de ir para as ruas com esse grande corpo, essa grande prótese, e faço as fotos. No espaço público, tento discutir essa questão dos monumentos e entender o que essas palavras — aleijado e deficiente — ativam nas pessoas. Muitas vezes, ativam coisas negativas. Então me interessa disputar esse local público e reescrever meu corpo no espaço público", diz.
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Pensar sobre a memória e em como as pessoas com deficiência são representadas e lembradas também faz parte da pesquisa do artista. A ele interessa entender o que fica impresso na memória coletiva quando se fala as palavra deficiência ou aleijado. "Ou precisamente quando a gente vê uma pessoa com deficiência na rua, qual memória é construída e perpetuada?", conta. "Muitas vezes, essa percepção está ligada a pena, dó, estranhamento, a capacitismo." Com as próteses, ao ocupar o espaço público, Céu acredita ser possível reduzir a ideia de ausência causada pelo adjetivo deficiente e estimular uma perspectiva de extensão, como se aquela construção fosse um acréscimo ao corpo.
Serviço
Monumento aleijado
Exposição de Céu Vasconcelos. Visitação até 10 de agosto, de terça a domingo, das 10h às 20h, no Espaço Cultural Renato Russo
