São várias as frentes de luta que se apresentam para o personagem Charlie, da peça A baleia. Obeso, ele enfrenta uma condição de saúde delicada e agravada por uma série de decisões que acabaram por afastá-lo da filha. Assinada por Samuel D. Hunter, a dramaturgia da obra fascinou o ator José de Abreu, que chegou ao texto graças a um amigo francês, que viu uma montagem em Nova York em 2012. Abreu decidiu que queria montar o espetáculo, mas o filme, uma adaptação feita para o cinema com roteiro do próprio autor, desanimou o ator. Foi preciso uma pandemia, a mudança para quatro países e uma volta ao Brasil para reativar A baleia, que agora chega ao palco do Teatro Unip com direção de Luís Artur Nunes e elenco formado por Luisa Thiré, Gabriela Freire e Eduardo Speroni. O trabalho também representa uma volta de José de Abreu aos palcos após uma década concentrado em projetos de audiovisual.
A montagem brasileira é fiel ao texto da peça, da qual o filme de 2022 se afasta um pouco. No texto, Charlie quer se reconciliar com a filha, de quem se afastou ao se apaixonar por Allen, que já está morto quando a ação se desenvolve. José de Abreu convidou o autor para acompanhar os primeiros ensaios. "A peça foi montada em 12 países e em 12 línguas, mas ele jamais foi contactado pela produção. Eu não só o contactei, como o trouxe. Quando viu o primeiro ensaio, ele disse 'que bom que recuperaram o humor'. Porque o filme tirou todo o humor do texto", explica o ator.
A baleia trata de temas pesados como a solidão, a morte, a culpa, a homofobia e o isolamento, mas também tem diálogos nos quais o absurdo, de tão extremo, provoca o riso dos espectadores. "Os absurdos que a menina fala têm humor, ela é muito inteligente e diz coisas tão absurdas que as pessoas riem", diz Abreu, para quem o maior desafio foi lidar com a questão corporal. Charlie, o protagonista, lida com a obesidade crônica e foi preciso construir um figurino especial para o ator. "A grande dificuldade foi vestir aquele corpo imenso. Depois que me adaptei à roupa, veio o problema, que era interior, psicológico, porque Charlie sofre muito, é uma pessoa muito pura, sensível, ele só vê o lado bom, inclusive da filha, apesar de ela ser um horror", conta.
A peça, ele explica, tem uma estrutura diferente da dramaturgia clássica. "É uma dramaturgia contemporânea em mosaico, não tem estrutura aristotélica que começa com apresentação de personagens, conflito, clímax, solução do conflito e desfecho. Cada cena, fala ou entrada de personagem vai montando esse quebra-cabeça e o público vai junto", avisa.
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Serviço
A baleia
Com José de Abreu, Luisa Thiré, Gabriela Freire e Eduardo Speroni. Direção: Luís Artur Nunes. Sexta-feira (19/9) e sábado (20/9), às 20h, e domingo (21/9), às 19h, no Teatro Unip. Ingressos: de R$ 25 a R$ 200, no Sympla
