Copom

Lula evita críticas, mas membros do governo atacam BC após aumento na Selic

O presidente apenas comentou que a economia está crescendo, mesmo com juros altos. Gleisi, por sua vez, condenou os juros "estratosféricos"

Aliado do PT, Galípolo colaborou com o partido na montagem do programa do governo Lula 3  -  (crédito: Esfera/Divulgação)
Aliado do PT, Galípolo colaborou com o partido na montagem do programa do governo Lula 3 - (crédito: Esfera/Divulgação)

Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou fazer críticas ao Banco Central (BC) pelo novo aumento na taxa básica de juros (Selic), aliados e membros do governo reprovaram a postura da autoridade monetária, que optou por prosseguir com o aperto monetário. Na última quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou os juros a 15% ao ano, na 7ª alta consecutiva, renovando o maior patamar da taxa em quase 20 anos.

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Ontem, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, disse ser "incompreensível" a postura do BC. "No momento em que o país combina desaceleração da inflação e deficit primário zero, crescimento da economia e investimentos internacionais que refletem confiança, é incompreensível que o Copom aumente ainda mais a taxa básica de juros", escreveu em sua conta no X.

Essa não é a primeira crítica ao aumento de juros da ministra, que até março ano ocupava o cargo de presidente do Partido dos Trabalhadores (PT). A decisão do Copom foi unânime, ou seja, todos os diretores votaram no mesmo sentido, incluindo o presidente Gabriel Galípolo, indicado por Lula. No entanto, Hoffmann não citou o chefe da autarquia. "O Brasil espera que este seja, de fato, o fim do ciclo dos juros estratosféricos", reiterou.

Até o fim do ano passado, o alvo principal das críticas sobre os juros era o ex-presidente, Roberto Campos Neto, indicado pelo governo de Jair Bolsonaro, que deixou o cargo em dezembro.

O aumento foi impulsionado por uma combinação de pressões inflacionárias persistentes, crescimento econômico acima do esperado e incertezas fiscais no cenário pré-eleitoral. O Copom sinalizou que pode manter os juros no patamar atual, mas que poderá voltar a aumentar a taxa caso necessário.

Ainda no âmbito do governo, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, afirmou ser "difícil de entender a decisão", enquanto o secretário de Desenvolvimento Industrial do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Uallace Moreira, definiu a alta como uma "insanidade total".

Diversos parlamentares da base governista manifestaram preocupação com o impacto da medida. O líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), definiu a nova taxa de juros como "indecente" e "proibitiva", desestimulando investimentos no país. "Falam muito de ajuste fiscal e da dívida pública. Mas o crescimento da dívida não vem dos programas sociais com saúde ou educação — vem do pagamento de juros", disse em suas redes sociais.

"O Banco Central não pode ignorar o impacto fiscal de sua política monetária. Se dizem que a dívida preocupa tanto, por que a política de juros não considera o custo que ela própria impõe às contas públicas?", indagou o parlamentar, que também fez críticas ao sistema tributário desigual.

Presidente da Comissão de Finanças e Tributação, o deputado Rogério Correia (PT-MG), afirmou que cada ponto percentual da Selic custa R$ 38 bilhões aos cofres públicos. "Esse dinheiro vai direto para os bancos, para o sistema financeiro e para os juros da dívida", destacou. "Falam em responsabilidade fiscal, mas não há qualquer sinal de que o compromisso com o crescimento do país seja compartilhado por todos os atores."

Tom moderado

Ontem, em entrevista no Podcast Mano a mano, Lula manifestou-se, defendendo o decreto do governo que elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), mas se esquivou de falar sobre a decisão do Copom. Com o BC agora sob o comando por um aliado, o presidente vem adotando um tom mais moderado, evitando críticas diretas aos juros altos.

Em conversa com a imprensa, no início deste mês, o presidente disse acreditar que a autoridade monetária tomaria a "atitude certa" e que a Selic deveria começar a cair em breve, sinalização inversa à dada nesta última reunião. Questionado sobre uma pausa nas críticas do Planalto sobre o patamar da Selic, Lula ironizou e afirmou que o cenário sobre os juros "já estava precificado". 

"Acham que eu não critico os juros porque é o (Gabriel) Galípolo está lá? Não é por conta disso, é porque, quando a gente discute no governo o que está acontecendo, é porque já estava precificado. A gente já sabia que ia acontecer", disse a jornalistas. "Eu tenho 100% de confiança na idoneidade do companheiro Galípolo. Ele é uma figura muito especial, e eu acho que ele vai dar conta do recado, fazendo aquilo que é necessário fazer", reiterou o chefe do Executivo.

Lula ponderou que, mesmo com os juros altos, a economia está crescendo. "Os juros estão muito altos. Agora, é engraçado, porque mesmo com juros tão altos, a economia continua a crescer", comentou o petista, que criticou, ainda, a avaliação de que o crescimento da economia pode levar a um aumento da inflação. "Se para controlar a inflação for preciso ter fome, não é possível a gente aceitar, é preciso encontrar outro jeito para controlar a inflação."

 

postado em 20/06/2025 03:29
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