Conflito global

Marcos Troyjo, ex-Brics, diz que mundo é avião que passa por "trumplência"

Em congresso da Fenabrave, o ex-presidente do Banco de Desenvolvimento dos Brics avalia que o mundo passar por um período de mais geopolítica e menos globalização

Mundo passa por grande instabilidade causada por
Mundo passa por grande instabilidade causada por "trumplência", na avaliação do ex-presidente do Banco dos Brics, Marcos Troyjo. - (crédito: Raphael Pati/CB/D.A Press)

São Paulo (SP) – O ex-presidente do Banco de Desenvolvimento do Brics Marcos Troyjo compara o segundo mandato do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com a turbulência de um avião e acredita que o mundo passa por um período de “trumplência” nas relações geopolíticas. Doutor em sociologia das relações internacionais pela Universidade de São Paulo (USP), ele acredita que a globalização deu lugar à intensificação da geopolítica nos últimos anos.

“E isso gera na aeronave uma sensação de desprazer, de desconforto ou de instabilidade. E nós estamos passando por isso, dada a personalidade do atual presidente dos Estados Unidos, que opera muito em ciclos de 24 horas”, disse o ex-presidente do banco, nesta quinta-feira (28/8), durante o 33º Congresso Fenabrave, em São Paulo.

Troyjo acredita que essa "trumplência" é composta por três elementos principais, sendo o primeiro causado pelo próprio temperamento do presidente norte-americano, que implementou uma série de tarifas contra países historicamente parceiros, como México, Canadá e nações europeias, além de desmantelar o acordo de livre comércio na América do Norte, o NAFTA, ainda no primeiro mandato, em 2020.

Também citou o conflito com a China, que escalou após o ‘Liberation Day’, em 2 de abril, com as tarifas chegando a até 245% para produtos chineses importados pelos EUA no mesmo mês. “É o que os analistas chamam de guerra fria 2.0, uma média competição em relação à China, que se não é uma guerra fria, é pelo menos uma paz muito quente”, avalia.

Apesar disso, ex-presidente do Banco dos Brics acredita que o mundo ainda depende muito dos Estados Unidos, que ofuscou nos últimos anos a Zona do Euro e mantém o posto de maior economia do mundo, apesar do crescimento expressivo da China. Ele recordou que a economia dos EUA, que em 2010-2011 era seis vezes maior que a do Brasil, hoje é 12 vezes maior.

“Empresas americanas como Nvidia, Microsoft e Apple têm capitalização de mercado individualmente superior à de toda a bolsa de valores de Frankfurt”, afirmou Troyjo, que ainda destacou que as ações do governo Trump, sejam elas acertadas ou "barbeiragens", podem gerar repercussões "muito positivas" ou "prejuízos de grande escala" para outras economias, dado o tamanho e a influência que a economia norte-americana ainda exerce sobre outros países.

O doutor em sociologia pela USP acredita, também, que o Brasil poderia ser mais favorecido com a falta de competitividade e restrições a produtos chineses na Europa e nos EUA, mas que a alta carga tributária no país ainda o torna menos competitivo em relação a outros países. “Então, esse efeito da ‘melhoria do ambiente interno de negócio dos Estados Unidos’ é um fator microgeopolítico que pode tirar muito da fragilidade do Brasil. O Brasil, neste momento, poderia estar, de uma maneira sustentada, voando”, comentou Troyjo.

* O repórter viajou a convite da Fenabrave

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postado em 28/08/2025 13:06 / atualizado em 28/08/2025 13:06
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