Política monetária

IPCA atinge 5,23% em 12 meses e permanece acima do teto da meta

Puxada pela conta de luz, inflação oficial do país acelera para 0,26% em julho. Nos 12 meses, indicador está em 5,23%

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, foi de 0,26% em julho, novamente pressionado pela conta de luz. No ano, a inflação acumulada é de 3,26% e, nos últimos 12 meses, de 5,23%, permanecendo acima do teto previsto para meta. 

Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o maior impacto individual sobre o indicador, em julho, foi o da energia elétrica residencial, assim como nos últimos três meses. Em contrapartida, os preços dos alimentos consumidos no domicílio recuaram, contribuindo para atenuar a elevação generalizada da inflação.

Em julho, manteve-se a bandeira tarifária vermelha patamar 1, vigente desde junho, que adiciona R$ 4,46 na conta de luz a cada 100 Kw/h consumidos. O patamar indica que as condições de geração de energia estão mais críticas, resultando em um custo mais elevado para a produção.

Segundo o gerente da pesquisa, Fernando Gonçalves, de janeiro a julho, a energia elétrica residencial acumula uma alta de 10,18%. "Esta variação é a maior para o período de janeiro a julho desde 2018 quando o acumulado foi de 13,78%", afirmou.

Na comparação com o mês anterior, o IPCA apresentou uma variação de 0,02 ponto percentual, ante os 0,24% registrados em junho. O resultado do mês ainda ficou abaixo do piso das projeções do mercado financeiro. A mediana das expectativas era de 0,36%, com intervalo previsto entre 0,30% e 0,39%. 

Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, seis registraram alta nos preços. O grupo transportes acelerou para 0,35% em julho, ante 0,27% em junho, impulsionado por uma alta de 19,92% das passagens aéreas, segundo maior impacto individual na inflação de julho. Os combustíveis, por sua vez, recuaram 0,64% no mês com quedas nos preços do etanol, do óleo diesel, da gasolina e do gás veicular.

Igor Cadilhac, economista do PicPay, avaliou o resultado como qualitativamente misto, porém melhor do que o esperado. “Com exceção dos serviços, que subiram 0,59%, todas as demais medidas vieram melhores do que nossas projeções. No entanto, como os serviços subjacentes, com alta de 0,49%, representam uma das principais métricas qualitativas, o resultado deve ser interpretado com cautela.”

Alimentos em queda

Entre os que registraram retração, o destaque novamente foi para alimentação e bebidas, cujos preços tiveram queda de 0,27%, segundo mês consecutivo no campo negativo. O resultado de julho foi puxado por uma retração de 0,69% da alimentação no domicílio, com destaque para a baixa nos preços da batata-inglesa, cebola e arroz. Já a alimentação fora do domicílio acelerou para 0,87% em julho, com destaque para o subitem lanche.

“Com a queda de alimentos importante na cesta de consumo das famílias, o resultado do IPCA no mês ficou em 0,26%. Sem a contribuição dos alimentos, a inflação seria de 0,41%. As altas no grupamento de alimentação fora do domicílio refletem o período de férias”, destacou o gerente da pesquisa.

Em comunicado, a Warren Investimentos destacou que itens voláteis foram os principais responsáveis por conter a alta dos preços, da feira ao posto. “Já nos componentes mais estruturais da inflação, o cenário é positivo, com desaceleração da alimentação no domicílio subjacente”, reiterou. “Esses resultados reforçam o alívio no cenário inflacionário e sustentam a projeção de que a inflação em 2025 deve encerrar abaixo de 4,8%. No entanto, para 2026, com previsão de 4,5%, ainda existem riscos altistas.”

Café

Os preços do café recuaram 1,01% em julho, interrompendo uma sequência de altas que durava um ano e meio. Durante grande parte desse período, o produto esteve entre os principais responsáveis por pressionar a inflação no país. O movimento reflete a redução nas cotações pagas aos produtores após o avanço da colheita da safra de 2025, que está em fase final no Brasil. A maior oferta no mercado interno contribuiu para aliviar os preços ao consumidor.

Apesar do recuo, o acumulado no ano ainda mostra forte alta de 41,46%, enquanto, no intervalo de 12 meses, o café registra valorização expressiva de 70,51%. Esses números evidenciam que, embora haja alívio momentâneo, o produto segue muito mais caro do que há um ano.

O cenário interno se soma a fatores externos. O mercado internacional do café vive um momento de forte volatilidade, influenciado por condições climáticas, variações cambiais e pela recente imposição de uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. 

Enquanto outros produtos, como suco de laranja e aviões, sofreram sobretaxas menores, parte das exportações brasileiras de café foi diretamente impactada, ampliando as incertezas no setor. Com a taxação mais elevada nos EUA, analistas avaliam que parte da produção destinada à exportação pode ser redirecionada ao mercado interno, aumentando a oferta e, consequentemente, favorecendo novas quedas nos preços para o consumidor brasileiro nos próximos meses. 

Questionado se o tarifaço poderia resultar em uma redução de preços, o gerente da pesquisa evitou cravar uma avaliação, ressaltando que é prematuro. "Pode ser um efeito de maior oferta, e não dá para dizer ou cravar que tem a ver com tarifaço. O tarifaço só começou este mês", disse Gonçalves.

Juros 

Segundo o departamento de pesquisa econômica do Banco Daycoval, o resultado ainda não altera a perspectiva de juros no curto prazo, que deve permanecer em 15% até o fim de 2025. “?Nesta leitura, como esperado, os destaques altistas concentraram-se nos grupos de serviços e administrados. No grupo de serviços, as passagens aéreas registraram alta expressiva devido à sazonalidade das férias e festas regionais.” 

“Contudo, embora os serviços subjacentes ainda estejam em patamar elevado, têm mostrado arrefecimento na margem. Além disso, os itens intensivos em trabalho apresentaram moderação relevante, o que pode contribuir para a flexibilização do ciclo de juros mais à frente, em 2026”, avaliou o banco. 

O economista do PicPay reforçou ainda a projeção para 2025: “Olhando à frente, mantemos nossa projeção de inflação em 5,1%. Por ora, seguimos observando um balanço de riscos equilibrado, com efeitos líquidos desinflacionários da guerra tarifária. O câmbio permanece relativamente comportado e as expectativas vêm melhorando persistentemente. Além disso, os dados correntes indicam uma dinâmica mais positiva.”

Apesar do cenário mais favorável, Cadilhac alertou para os riscos. “O quadro permanece significativamente pressionado. Seguimos atentos às pressões altistas, associadas à desancoragem das expectativas, à manutenção de um hiato do produto positivo e à eventual depreciação do real em um cenário de maior percepção de risco fiscal e/ou geopolítico”, disse. 

 

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