
Enquanto o mundo sofria com os horrores da Segunda Guerra Mundial, um consagrado economista austríaco publicava nos Estados Unidos o livro Capitalismo, Socialismo e Democracia (1942). Na obra em questão, o autor Joseph Schumpeter explica o que ele chama de "destruição criativa" como um processo no qual um produto inovador e mais atraente entra no mercado e toma o lugar de empresas que comercializam itens mais antigos.
O termo voltou a ganhar notoriedade e repercussão na manhã de ontem, após a divulgação dos vencedores do Prêmio Nobel de Economia — a última categoria a ser premiada no ano. O francês Philippe Aghion e o canadense Peter Howitt beberam da mesma fonte de Schumpeter e reacenderam o debate sobre a inovação como um acelerador do crescimento econômico dos países. Não apenas isso, a teoria levantada pelos dois pesquisadores também defende o surgimento de novas ideias como uma causa para o progresso contínuo.
Aghion e Howitt buscaram desvendar os segredos que desvendam a fórmula de sucesso dessa teoria. Ainda em 1992, os dois assinaram juntos um artigo que elabora um modelo matemático da chamada destruição criativa. Na tese apresentada, eles explicam que a inovação é criativa, por representar algo novo, mas também é destrutiva, visto que as empresas ficam obsoletas quando são superadas pela tecnologia das concorrentes. Em resumo, quando um produto inovador entra no mercado, as empresas que vendem produtos antigos perdem espaço, naturalmente.
O presidente do Comitê do Prêmio em Ciências Econômicas, John Hassler, acredita que o trabalho dos pesquisadores mostra que o crescimento econômico não pode ser dado como garantido. "Devemos preservar os mecanismos que sustentam a destruição criativa, para que não voltemos à estagnação", destaca.
Além dos dois, o holandês Joel Mokyr foi laureado por ter "identificado os pré-requisitos para o crescimento sustentado através do progresso tecnológico". Mokyr voltou um pouco mais no tempo para tentar investigar os motivos que levaram o crescimento sustentado a ser encarado como o "novo normal". Com base em fontes históricas, ele explica que, para entender como as inovações ocorrem em um processo muito mais rápido do que há dois séculos, por exemplo, não basta saber que algo funciona, mas é preciso ainda assimilar cientificamente o porquê. Nas suas pesquisas, ele também ressalta a importância de a sociedade estar aberta às novidades e não impedir o surgimento das mudanças.
O professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB) César Bergo destaca a importância do prêmio para o avanço do ESG (Environmental, Social and Governance) — meio ambiente, social e governança, em tradução livre — que está cada vez mais presente nas discussões políticas e econômicas no mundo. "Eu sempre coloquei que depois do ESG tinha que ter o 'I', que é de inovação. E aí confirma realmente essa tendência mundial de valorização desses trabalhos. Então, obviamente, existem investimentos, mas não tenha a menor dúvida de que o avanço tecnológico acaba melhorando as condições econômicas e, como ficou bem claro aí, no prêmio que foi concedido", analisa o professor.
William Baghdassarian, professor de Economia do Ibmec-DF, compara o processo de destruição criativa de Schumpeter ao investimento público em uma rodovia. Caso o Brasil investisse 15% do PIB apenas construindo novas estradas, chegaria em um patamar que não haveria mais crescimento, pois os recursos deveriam ser investidos no reparo e manutenção dessas rodovias.
"Para continuar crescendo de forma sustentável, seria preciso fazer mais com o mesmo dinheiro. Isso significa que, em vez de usar aquela mesma tecnologia para construir estrada que eu tinha antes, eu agora uso menos recursos para fazer a mesma coisa, sobra um pouquinho, e esse pouquinho faz com que você cresça a mais. Então, esse debate é importantíssimo no cenário atual para os países conseguirem aumentar a sua produtividade", diz.
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