VIOLÊNCIA E CONTRABANDO

FGV: Crime organizado lucra R$ 10,2 bi por ano com cigarros ilegais

Conforme estudo inédito da Fundação Getulio Vargas (FGV), mercado ilegal de cigarros gera R$ 10,2 bilhões para o crime organizado, o que corresponde a 7% do total do faturamento das organizações criminosas

Corpos são vistos enfileirados na Praça São Lucas, na favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, Rio de Janeiro, Brasil, em 29 de outubro de 2025, após a Operação Contenção       -  (crédito: PABLO PORCIUNCULA / AFP)
Corpos são vistos enfileirados na Praça São Lucas, na favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, Rio de Janeiro, Brasil, em 29 de outubro de 2025, após a Operação Contenção - (crédito: PABLO PORCIUNCULA / AFP)

O mercado ilícito de cigarros não só provoca prejuízos bilionários aos cofres públicos, mas também alimenta a engrenagem da violência no país, conforme estudo inédito da Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgado nesta segunda-feira (3/10). Pelas estimativas da entidade, o mercado ilegal de cigarros gera R$ 10,2 bilhões por ano ao crime organizado, o que corresponde a cerca de 7% do total de faturamento dessas organizações criminosas.

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O levantamento demonstra a ligação direta entre o comércio ilegal de cigarros  —  que responde por 32% do mercado nacional (33,7 bilhões de unidades) — e a escalada de crimes violentos no Brasil — de homicídios a ataques a agentes do Estado. Pelas estimativas do estudo, um aumento de 1,0 ponto percentual no mercado ilegal de cigarros está associado ao aumento de: 239 homicídios dolosos por ano em todo o país, nove roubos a banco por ano, 892 ocorrências anuais de tráfico de drogas, 339 roubos de carga por ano e 2.868 roubos de veículos, por exemplo.

O estudo foi elaborado pelos pesquisadores da FGV Camila Sena, Camila Lannes, Ricardo Simonsen e Renan Peri, e, de acordo com eles, "isso consolida o vínculo estrutural entre o cigarro ilegal e a economia do crime, tornando-se uma fonte relevante de financiamento para facções criminosas e redes transnacionais, que utilizam as mesmas rotas logísticas e recursos tecnológicos empregados em outros mercados ilícitos, como os de drogas e armas".

Evasão fiscal

O levantamento destacou que 24% do comércio ilegal de cigarros são de origem de contrabando, principalmente do Paraguai, e de fábricas clandestinas no Brasil (que produzem verdadeiras réplicas tanto de marcas legalizadas no Brasil.E, em 2024, a evasão fiscal do setor é estimada em R$ 7,2 bilhões, sendo R$ 3,9 bilhões em tributos federais —  Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e PIS/Cofins) — e R$ 3,3 bilhões em tributo estadual, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) estadual que é repartido com municipal. 

Pelas regras constitucionais de repartição dos tributos, 50% da arrecadação do IPI ficam com a União, 25% com os estados e 25% com os municípios. No caso do ICMS, 75% ficam com os estados e 25% com os municípios. Já as contribuições de PIS-Cofins são destinados totalmente à União. Com isso, a perda de receita com a evasão tributária fica distribuída da seguinte forma: R$ 2,6 bilhões para a União, R$ 2,9 bilhões para os estados e R$ 1,6 bilhão para os municípios.

“Recuperar 50% dessa evasão representaria um incremento de R$ 1,3 bilhão à arrecadação federal, equivalente a 11,8% do deficit primário de 2024, evidenciando o peso fiscal do setor para o equilíbrio das contas públicas”, destacou o comunicado da FGV, em parceria com o Fórum Nacional contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP). O estudo foi encomendado pela Associação Brasileira da Indústria do Fumo (Abifum).

“A correlação aponta para um dos maiores desafios econômico e institucional de nosso tempo. Toda essa engrenagem que abastece o crime é resultado da combinação entre demanda constante, fragilidades na fiscalização fronteiriça e urbana e regulação altamente restritiva, pressionando o setor produtivo, fatores que abrem ainda mais caminho ao mercado ilícito”, afirmou Edson Vismona, presidente do FNCP, no comunicado conjunto com a FGV.

Vismona, em entrevista ao Correio, defendeu o enfrentamento do crime em um outro nível. "Não estamos mais falando de um crime isolado, estamos falando de organizações criminosas que enfrentam o Estado, dominam territórios e usam o dinheiro do mercado ilegal, especialmente de cigarros, para se financiar e se fortalecer", acrescentou. 

O levantamento englobou a análise de dados da Pesquisa Instituto Ipec–Pack Swap (2024); Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp); Relatórios do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP); da Receita Federal e do Tesouro Nacional, além de uma revisão bibliográfica sobre as conexões entre mercado ilegal de cigarros e crime organizado. 

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postado em 03/11/2025 18:28
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