COMPLIANCE ZERO

BC fica sob a mira do TCU e de parlamentares após liquidação do Master

No Senado, presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirma que o órgão seguiu as regras no caso Master, mas Congresso e TCU apuram possíveis falhas da autarquia

Na CAE, Galípolo diz aos senadores que BC cumpriu todos os procedimentos legais no processo de liquidação  -  (crédito:  Andressa Anholete/Agência Senad)
Na CAE, Galípolo diz aos senadores que BC cumpriu todos os procedimentos legais no processo de liquidação - (crédito: Andressa Anholete/Agência Senad)

A liquidação extrajudicial do Banco Master abriu uma nova frente de questionamentos sobre a atuação do Banco Central na supervisão do sistema financeiro. A decisão, tomada após a identificação de indícios de fraude bilionária pela Polícia Federal, levou o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) a solicitar que a Corte investigue possíveis falhas, omissões ou insuficiências na fiscalização exercida pela autarquia sobre o Master e suas subsidiárias.

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Em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, ontem, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, foi alvo de forte pressão de parlamentares, que cobraram explicações sobre a atuação da autarquia no caso e questionaram a efetividade dos mecanismos de supervisão do sistema financeiro.

Galípolo defendeu a atuação da autoridade monetária e afirmou que a autarquia seguiu integralmente todos os procedimentos legais no processo de intervenção e liquidação do Master, decretado na semana passada. Segundo ele, cada etapa foi conduzida "dentro do rigor técnico previsto em lei", em resposta a indícios graves identificados pela área de supervisão.

"O BC trabalhou desde o primeiro minuto", disse Galípolo, ao agradecer o apoio do Ministério Público, da Polícia Federal e do Judiciário, responsáveis pelas etapas criminais e judiciais do caso. Galípolo ressaltou que as liquidações bancárias frequentemente se arrastam por décadas no Judiciário e contou que está seguindo, no caso Master, exatamente o que prevê a legislação.

O banqueiro central ressaltou que aspectos que têm despertado atenção no caso não constituem, necessariamente, irregularidades a serem questionadas pelo regulador. "Você emitir CDBs (Crédito de Depósito Interbancário) a 140% não configura nenhum tipo de infração ou problema em nenhum sentido. Assim, como também foi colocado aqui, eventualmente, ter fotos de acionistas ou de dirigentes frequentando festas não são, vamos dizer assim, um elemento para uma liquidação", comentou. Ele reiterou que não cabe ao Banco Central avaliar "a conveniência" de transações feitas pelo mercado, e reforçou que "o BC cumpre o que está no gabarito da norma legal".

Sobre o caso do Master, Galípolo declarou que o ponto mais surpreendente foi o fato de uma instituição com "restrição de liquidez" negociar uma carteira de crédito. "Ora, o problema original não era justamente a falta de liquidez? Então, é raro você ver uma instituição que está sofrendo algum tipo de restrição de liquidez constituir uma carteira", disse. Segundo ele, ao analisar essa carteira, o BC identificou inconsistências. Testes por amostragem não encontraram evidências de que os créditos "efetivamente existiam".

"A partir daí, saímos da esfera administrativa e de regulação. Poxa, existiu, eventualmente, uma fraude? De quem é a responsabilidade? Esse processo extrapola o Banco Central e entra na esfera criminal", destacou o presidente do BC, que destacou que a autarquia comunicou o caso ao Ministério Público desde o início.

Galípolo também criticou a circulação de informações distorcidas e o que chamou de "especialistas de WhatsApp". Segundo ele, decisões regulatórias sempre desagradam algum interesse, o que abre espaço para interpretações oportunistas nas redes. "Toda decisão vai provocar algum tipo de setor que não pode ser agradado", disse. "Você pode juntar a dificuldade de transmitir a informação com algum eventual oportunismo nas redes sociais."

Senadores cobram CPI

Parlamentares defenderam a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as operações que culminaram na liquidação extrajudicial do Banco Master. A senadora Leila Barros (PDT-DF) afirmou que o pedido de criação já está protocolado e convocou os colegas a assiná-lo. Ela acrescentou que o BC atuou com rapidez logo após a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) aprovar a compra do Master pelo Banco de Brasília (BRB). A parlamentar ainda questionou Galípolo sobre o papel do BRB no episódio, perguntando se o banco teria sido uma "vítima incompetente" ou se teria agido de má-fé. Galípolo, por sua vez, alegou que não poderia comentar todos os pontos devido a informações sob sigilo e ao fato de a investigação ainda estar em curso.

O presidente do BC também foi pressionado por outros parlamentares e aproveitou a audiência para pedir que o Legislativo avance na votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que reforça a autonomia da autoridade monetária. A medida cria um novo marco institucional para o Banco Central, garantindo autonomia técnica, operacional, administrativa, orçamentária e financeira.

O senador Esperidião Amin (PP-SC), que já assinou o pedido da CPI do caso Master, defendeu que uma Comissão poderia esclarecer os desdobramentos do caso e criticou a supervisão do BC. "Estamos vendo cenas do século passado. Hoje, não voto a favor da autonomia do BC. O algoritmo não mostrou que o crescimento do Master era anômalo? Não confio em quem não tem esse algoritmo", afirmou.

Eduardo Braga (MDB-AM) chamou a situação de "farra no sistema financeiro" e classificou o episódio como "um escândalo". "O Master era uma tragédia anunciada", disse.

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postado em 26/11/2025 03:59
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