
A relutância da França em apoiar a assinatura do acordo entre Mercosul e União Europeia pode ter um fim nesta semana, após o parlamento europeu ter aprovado medidas que garantem salvaguarda para os países do bloco elevarem tarifas em caso de ameaça à competitividade de produtos europeus. A aprovação veio na manhã desta terça-feira (16/12), com 431 votos favoráveis ao texto e 161 contrários.
Entre as medidas aprovadas, está a possibilidade de que a Comissão Europeia intervenha se o preço de um produto do Mercosul for pelo menos 5% inferior ao equivalente europeu e também caso o volume das importações isentas de direitos aduaneiros cresça acima de 5%. Inicialmente, a proposta previa limites de 10%, mas foram endurecidos com a versão final aprovada no parlamento.
Ao contrário da Alemanha, que espera a concretização do acordo neste próximo sábado, durante a Cúpula do Mercosul, em Foz do Iguaçu, a França ainda se mostra relutante em assinar o acordo, sobretudo diante das pressões do setor produtivo no país. No entanto, com a garantia das salvaguardas, especialistas consultados pelo Correio acreditam que o país governado pelo presidente Emmanuel Macron pode mudar de ideia até o fim da semana.
“Se o Conselho Europeu arbitrar e chegar a um consenso em uma salvaguarda que agrade a França, possivelmente a gente tem uma assinatura sim nesse final de semana, porque a França deve ter algum tipo de proteção estratégica ao seu setor agrícola”, comenta o diretor de Comércio Internacional na BMJ Consultores Associados, José Pimenta.
O especialista não acredita que o acordo fique em risco caso a França se oponha, no entanto. Ele explica que uma parcela muito forte do empresariado da União Europeia em diversos setores da economia esperam por uma definição sobre o tema, para ampliar as estratégias comerciais. “Há uma grande parcela do empresariado da União Europeia que tem interesse no acordo, por conta do mercado cativo, por conta dos laços históricos com a América Latina e com países do Mercosul”, acrescenta.
Já a professora de Relações Internacionais na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Regiane Bressan considera que, para o Brasil, a imposição das salvaguardas pode representar o fim dos potenciais ganhos do agronegócio brasileiro esperados com o acordo.
Apesar disso, caso o texto não seja aprovado, ela avalia que a Europa tende a perder bastante influência na América do Sul, em um espaço onde China e Estados Unidos tentam ampliar a hegemonia. ”Hoje em dia, a gente está falando tudo em questão comercial, porque é uma coisa comercial, mas ele não é apenas estrategicamente comercial, ele é estrategicamente geopolítico”, sustenta Bressan.

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