Consumo

Amigo secreto ganha força no Natal e deve movimentar R$ 6,7 bi no varejo

Pesquisa da CNDL/SPC mostra que 36% dos consumidores participarão da brincadeira, vista como forma de economizar, fortalecer laços e impulsionar as compras presenciais e digitais em dezembro de 2025

36% dos consumidores pretendem participar de amigo secreto este ano -  (crédito: The Retro Store/Unsplash)
36% dos consumidores pretendem participar de amigo secreto este ano - (crédito: The Retro Store/Unsplash)

Com o início das confraternizações e a retomada do clima típico de dezembro, o amigo secreto volta a ocupar espaço nos encontros de fim de ano. Dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) indicam que a troca de presentes continua sendo uma forma prática de organizar os gastos e reunir pessoas em diferentes ambientes, movimento que acompanha a expectativa de maior circulação nas festas de 2025.

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Um levantamento realizado pelos órgãos, em parceria com a Offerwise Pesquisas, revela que 36% dos consumidores pretendem participar de amigo secreto este ano. A estimativa é de que 60,1 milhões de pessoas devem participar deste tipo de evento no período do Natal.

Luís Rocha, 23 anos, confirmou a participação em três amigos ocultos neste ano. Um da família, outro entre os amigos e o terceiro no trabalho, onde estagia. Na avaliação dele, comprar um presente para a pessoa sorteada é uma ótima estratégia financeira, pois adquirir um presente individual para cada membro de cada grupo seria muito caro.

“A gente estipula um valor mínimo e máximo, que fique confortável para todo mundo, e faz a brincadeira. Além de ser bem mais barato do que comprar um presente para cada um, ainda tem a emoção de tentar descobrir quem te tirou, de pensar como você vai descrever o seu amigo, que você sorteou, e de ser descrito por alguém”, disse ele. Luís completou que tem uma relação de proximidade com todos os grupos em que está participando da dinâmica, o que, de acordo com ele, deixa a experiência mais divertida.

Dos participantes do estudo, 53% adoram participar de amigos ocultos, 39% consideram que é uma boa maneira de poder presentear gastando menos dinheiro e 14% participam apenas para não serem julgados como antissociais. Já dos que não participarão, 45% justificaram dizendo não gostar, 35% não têm o costume no grupo e 23% estão sem dinheiro.

Cláudio Braga, 25 anos, não vai participar de nenhuma dinâmica neste ano, pois afirmou estar cansado de comprar presentes interessantes e somente receber brindes genéricos. “Eu compro uma coisa legal, gasto meu tempo e dinheiro, para depois ganhar um pijama e uma meia. Está de sacanagem, sem condições. Desta vez, para não me estressar, resolvi não participar de nada, nem do 'amigo da onça' da minha família, que nem é de sorteio, mas que também me irrita”.

Em média, os consumidores pretendem participar de 1,6 evento de amigo secreto, principalmente entre familiares (69%), com amigos (35%) e com colegas do trabalho (28%). A previsão da pesquisa é que seja gasto a média de R$ 72 com cada presente. Estima-se que a brincadeira movimente R$ 6,7 bilhões no varejo neste fim de ano.

Clara Silva, 57 anos, resolveu entrar na brincadeira com as amigas da turma do pilates e disse estar “muito animada” para revelar quem sorteou. Para ela, a brincadeira não é só sobre o presente, e sim sobre a interação entre as pessoas, principalmente as que não nutrem uma grande amizade.

“Essas dinâmicas fazem com que a gente conheça mais as pessoas e invista tempo e dinheiro pensando no que vamos comprar para elas, É muito mais um gesto de carinho do que um gesto financeiro, além de, na maioria das vezes, não ser muito caro. Até brinquei com os meus dois netinhos de que ano que vem vovó vai fazer amigo oculto com eles, para só dar um presente e receber um também”, ela falou, sorrindo.

Para o presidente da CNDL, José César da Costa, “o amigo secreto é muito mais do que uma simples troca de presentes; é uma poderosa ferramenta de confraternização que permite celebrar o espírito natalino sem exigir grandes despesas individuais”.

“Vemos que a brincadeira é uma boa maneira de presentear gastando menos, o que a torna especialmente atrativa para os consumidores. É uma tradição que movimenta bilhões na nossa economia, mas, acima de tudo, garante que os laços familiares, de amizade e de trabalho sejam fortalecidos de forma leve e acessível a todos”, emendou.

No estudo, foram entrevistados consumidores das 27 capitais brasileiras, homens e mulheres, com idade igual ou maior a 18 anos, de todas as classes econômicas (excluindo analfabetos) e que pretendem comprar presentes para o Natal, entre os dias 15 e 23 de outubro de 2025. A margem de erro no geral é de 3,6 p.p e 4,0 p.p. para um intervalo de confiança a 95%.


Economia aquecida

Ao analisar os efeitos da tradição no varejo, Riezo Almeida, economista e coordenador do curso de ciências econômicas no Iesb, observou que “o valor médio estipulado para os presentes, historicamente, tem um ticket médio baixo e traz engajamento no trabalho e na família”, o que amplia o alcance da prática.

Ele também apontou que a brincadeira estimula múltiplos segmentos do comércio e reforça a arrecadação pública: “essa circulação de presentes na economia local favorece impostos como ICMS e ISS”. Segundo Almeida, produtos como cosméticos, livros, acessórios e itens de decoração ajudam a evitar a concentração do movimento em um único setor.

Ainda segundo o economista, o efeito é contínuo ao longo de dezembro, especialmente entre pequenos comerciantes. Em suas palavras, esse fluxo gera o fôlego necessário para que lojas locais consigam “cobrir custos fixos, liquidar dívidas e pagar o 13º salário dos funcionários enquanto não chega os dias do Natal”, reforçando que a prática social se traduz também em impacto econômico direto para milhares de negócios brasileiros.

75% dos consumidores preferem comprar presencial

O avanço das compras presenciais marca uma inflexão no comportamento de consumo de fim de ano. Depois de temporadas dominadas pelas transações digitais, a pesquisa “Intenção de Compras para o Natal 2025”, feita pela CNDL e pelo SPC Brasil, mostra que 75% dos consumidores pretendem adquirir presentes presencialmente, reforçando o papel do comércio físico na data mais relevante do varejo nacional. As vitrines voltam a atrair fluxo, e muitos consumidores retomam o hábito de escolher itens pessoalmente, motivados pela segurança do contato direto com o produto e pelo clima social típico do período.

As lojas de departamento, citadas por 36% dos entrevistados, e os shopping centers, lembrados por 31%, serão os principais centros de compra. O retorno se sustenta no valor prático e simbólico da experiência presencial, que une comparação imediata, interação e rapidez. Mesmo assim, o digital segue relevante: 58% pretendem comprar ao menos um presente pela internet, com destaque para aplicativos (71%) e sites (61%), enquanto o Instagram aparece para 23% das pessoas. O comportamento híbrido, que combina pesquisa on-line e compra física, se consolida como padrão.

Essa busca por equilíbrio também se expressa na preparação das compras. A pesquisa indica que 82% farão comparação de preços antes de concluir a compra, e 87% farão esse levantamento on-line, ainda que a compra ocorra em loja física. Sites internacionais (69%) lideram a consulta, seguidos por buscadores e marketplaces (52%) e lojas de departamento (47%).

Luzia Cabral, 78 anos, disse preferir “comprar no shopping, porque eu não sei comprar pela internet. E, muitas vezes, é propaganda enganosa”. “No shopping, eu compro, vejo a mercadoria e sei que está tudo certinho”, comentou, relatando a confiança depositada no atendimento presencial.

Para o varejo, a combinação de compra física e digital aponta para um Natal em que a jornada integrada definirá resultados. A presença crescente nos shoppings, o uso do celular como ferramenta de comparação e a busca por conveniência ampliam a necessidade de estratégias que conectem canais. O consumidor volta às lojas, mas mantém o hábito de pesquisar tudo pelo celular. Essa reconstrução do percurso de compra evidencia um movimento de adaptação contínua, no qual a experiência presencial soma-se ao universo digital, reforçando o papel da loja física como espaço de escolha, convívio e confirmação de compra.

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LC
postado em 16/12/2025 15:12 / atualizado em 16/12/2025 15:13
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