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CB.Agro: Pesquisadores da Embrapa ressaltam força da agricultura familiar

Em entrevista ao Correio, estudiosos apontam que o setor responde pela maior parte da produção rural do país

No CB.Agro, os pesquisadores José Humberto (E) e Suênia comentário que a escolaridade é um desafio -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
No CB.Agro, os pesquisadores José Humberto (E) e Suênia comentário que a escolaridade é um desafio - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A agricultura familiar concentra a maior parte dos estabelecimentos rurais do Brasil e responde por parcelas relevantes da produção de alimentos consumidos diariamente no país. A avaliação foi feita por José Humberto Xavier, pesquisador da Embrapa, durante entrevista, ontem, ao programa CB.Agro, parceria do Correio com a TV Brasília.

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De acordo com Xavier, dos cerca de 5 milhões de estabelecimentos agropecuários existentes no país, aproximadamente 4 milhões, o equivalente a 75%, enquadram-se nesse perfil.

A também pesquisadora da Embrapa Suênia Cibele de Almeida destacou que a base da alimentação cotidiana está fortemente ligada à agricultura familiar. "Verduras e hortaliças no geral são muito importantes, assim como feijão e arroz, que estão distribuídos em todo o território brasileiro", disse. No caso da mandioca, a dependência é ainda maior. "82% do valor da produção da mandioca no Brasil vem da agricultura familiar", afirmou.

Outro aspecto recorrente apontado pelos especialistas, na entrevista aos jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Roberto Fonseca, é o protagonismo feminino nas unidades produtivas. Suênia destacou que mudanças recentes ampliaram o papel das mulheres no campo. "Algo muito importante nos últimos anos é que as mulheres passaram a ter a propriedade da terra, o que permite o acesso a recursos", explicou. Na cadeia do leite, ela ressaltou reflexos diretos na qualidade do produto. "Quando as mulheres tomam conta da limpeza dos utensílios, a qualidade é muito mais forte", disse.

"Um dos critérios da qualidade do leite é a contagem bacteriana total, que está diretamente relacionada à higiene da ordenha, e observamos que as mulheres são muito mais cuidadosas nesse processo", afirmou Xavier. Segundo ele, a atuação feminina também se destaca na gestão financeira, "as mulheres costumam ter mais propensão para o controle de renda e das anotações financeiras", acrescentou.

Entre os principais desafios do setor está a gestão das propriedades, especialmente em função da baixa escolaridade média no meio rural. "O desafio é que a escolaridade é muito baixa", afirmou Xavier. Ele explicou que a Embrapa atua com ferramentas simplificadas e parcerias locais. "Nós desenvolvemos soluções junto com os agricultores, na perspectiva da pesquisa participativa, para que os resultados ganhem escala", disse.

Suênia chamou atenção para os impactos das mudanças climáticas sobre a produção. "O milho para silagem é central na cadeia do leite, mas é uma cultura frágil. Em áreas ambientalmente fragilizadas, uma longa estiagem pode comprometer totalmente a alimentação do rebanho", afirmou.

As pesquisas em ambiente real buscam responder a esses desafios, Xavier relatou experiências conduzidas diretamente nas propriedades. "Trabalhamos com uma rede de 140 produtores para validar tecnologias em ambiente real", explicou. Segundo ele, houve adaptação dos sistemas produtivos. "Conseguimos cerca de 20% a mais de alimento e aproximadamente 20 dias adicionais de alimentação para o rebanho no final da seca", disse. Ele ponderou, no entanto, que o custo dos insumos é um entrave. "Os agricultores classificaram o custo como muito alto, especialmente por causa do gesso agrícola", afirmou.

Para Xavier, a permanência dos jovens no campo depende de condições mais amplas. "É preciso garantir qualidade de vida, com educação, saúde e lazer, semelhantes às do meio urbano", afirmou. Suênia reforçou o diagnóstico ao mencionar a baixa mecanização. "O trabalho na pecuária de leite é muito penoso, e ainda não temos máquinas desenvolvidas para a escala da agricultura familiar", disse.

Apesar dos desafios, os especialistas avaliaram positivamente a qualidade da produção nacional. "O Brasil tem excelência e segurança sanitária na produção de leite, temos políticas como o Mais Leite Saudável, que garantem um produto seguro para o consumidor", concluiu Suênia.

*Estagiário sob a supervisão de Edla Lula

 

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postado em 20/12/2025 04:37
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