SALTOS ORNAMENTAIS

Maria Faoro e Karolina Polizos, os talentos "importados" dos saltos

Elas nasceram nos Estados Unidos e escolheram defender a bandeira verde-amarela mirando os Jogos de Los Angeles-2028 e são atrações do Troféu Brasil, na UnB, a partir desta terça-feira (15/4)

Maria Faoro (E) e Karolina Polizos: laços de família fizeram as duas escolheram o Brasil como país olímpico -  (crédito:  Carlos Vieira/CB/DA Press)
Maria Faoro (E) e Karolina Polizos: laços de família fizeram as duas escolheram o Brasil como país olímpico - (crédito: Carlos Vieira/CB/DA Press)

Em tempos de relações estremecidas dos Estados Unidos com outros países, o Brasil comemora a "importação" de dois talentos dos saltos ornamentais. Maria Faoro, de 18 anos, e Karolina Polizos, 14, nasceram na principal potência econômica e esportiva do planeta. No entanto, escolheram honrar as raízes brasileiras no ciclo rumo aos Jogos Olímpicos em casa, em Los Angeles-2028. Elas estão no Distrito Federal para a disputa do Troféu Brasil no Centro Olímpicos da Universidade de Brasília (UnB), desta terça-feira (15/4) até sábado (19/6). A competição é classificatória para o Mundial de Esportes Aquáticos, em Cingapura.

Maria é filha de brasileiros. A mãe, Márcia, e o pai, Attilio, são de Curitiba e estão há 26 anos nos Estados Unidos. A caçula do casal nasceu em Cincinnati, no estado de Ohio. Portanto, têm dupla cidadania. Hoje, moram em Dallas, no Texas. A história de Maria com o esporte começou pela ginástica. A modalidade, porém, não se encaixou perfeitamente com a atleta. O match, mesmo, foi com os saltos. "Isso aqui é mais ela, a dinâmica e a animação", destaca Márcia.

Competir sob a bandeira verde-amarela sempre foi um desejo de Maria. Cerca de quatro anos depois do início nos saltos, um coach romeno que treinava uma colega francesa de Maria nos EUA questionou por qual motivo ela ainda não representava o país. Ele foi o responsável por viabilizar os contatos com Confederação Brasileira de Saltos Ornamentais. A porta aberta possibilitou o vínculo com o Instituto Pro Brasil e, posteriormente, com a Associação Time Rio 21. Maria compete pelo país desde 2023. De lá para cá, conquistou o ouro no Campeonato Brasileiro Juvenil e o bronze no trampolim adulto.

Talento em lapidação, Maria avalia ter mais chances de realizar o sonho olímpico pelo Brasil do que pelos Estados Unidos. "Lá, muitos fazem saltos. Onde moro, quase 100. Aqui é mais exclusivo, não são muitos. Mas no Brasil a competição é alto de nível, acho que é quase o mesmo. Os EUA fazem qualificatórias para as Olimpíadas com notas altas e você precisa se classificar para essas qualificatórias", detalha.

Maria vê diferenças entre os saltos ornamentais praticados no Brasil e nos EUA. "Acho que o treino lá é pouco mais fraco que aqui. Treino duas horas por dia. Aqui, são sete, é muito mais forte, com exercícios com pesos, 3h de água", compartilha. "Os saltos nos EUA são mais para se divertir, mais legal e mais tranquilo. Aqui é para ganhar bolsa, representar o país no Mundial e em Olimpíadas", completa.

Maria jamais esteve em Los Angeles, o que torna o sonho de 2028 mais especial. Em alguns momentos, ela costuma até se imaginar ouvindo o hino brasileiro em solo estadunidense. "Muitas vezes. É o meu sonho representar o Brasil nas Olimpíadas". Perguntada se observa a mistura cultural nos hábitos diários, ela não titubeia: "Percebo na comida, como falo, em dar abraço. Acho que sou 50/50. Amo estrogonofe. Açaí é muito bom, mas para uma refeição é estrogonofe", conta.

Embora esteja no início da carreira, Maria é supersticiosa. "Aqueço, escuto minha música mais hype e faço unha azul toda vez para competir. Sento longe da competição e fico na minha zona. Sobre o esmalte azul, tive uma competição nacional nos EUA pela primeira vez. Antes, na qualificatória, pintei dessa cor e deu sorte, na melhor competição da minha vida. Fui para o nacional, para a final e mantive", relata a atleta, recrutada pela Universidade de Auburn, no Alabama. Ela representará a instituição pelos próximos quatro anos e receberá todo o suporte e acompanhamento necessário.

A precisão de Maria Faoro durante salto na preparação para o Troféu Brasil, na UnB
A precisão de Maria Faoro durante salto na preparação para o Troféu Brasil, na UnB (foto: Carlos Vieira/CB/ DA Press)

Karolina Polizos é filha da brasileira Tatiana com o grego George. O esporte está no DNA da jovem. O pai foi nadador profissional e a apresentou às piscinas nos primeiros meses de vida. Karolina cresceu e deu indícios do que poderia se tornar. Em vez de nadar, curtia muito mais pular repetidamente nas águas. Por volta dos quatro anos, foi introduzida nos saltos. Houve um pequeno intervalo longe da modalidade, mas retornou aos oito.

Cidadã americana, grega e brasileira, Karolina tinha três opções de países para representar. Escolheu o Brasil. A história, inclusive, está ligada à família Faoro. No ano passado, Tatiana viu a mãe de Maria enérgica nas arquibancadas de um torneio nos EUA e a procurou para elogiar o desempenho da atleta e procurar saber qual era o caminho para realizar o sonho de Karolina de defender a bandeira verde-amarela. Karol passou pelos processos, enviou vídeos, entrou em contato com o técnico Renato e, hoje, é uma das joias dos saltos ornamentais do país.

A cultura brasileira foi o que cativou Karolina. "Gosto muito das pessoas, são simpáticas e receptivas. Adoro a comida, principalmente açaí", ressalta. Ela está pela primeira vez em Brasília, mas conhece outras capitais e revela qual é a predileta. "Conheço São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. O Rio é a minha favorita, pelo estilo de vida. As pessoas são muito relaxadas e calmas", justifica.

Karol é, inclusive, familiarizada com a sede da próxima Olimpíada. Mora no condado de Orange County, a cerca de 56 km de Los Angeles, e é entusiasta de uma edição dos Jogos no "quintal de casa". Mas será que será tão boa como em Paris? "Acredito que seria muito diferente, porque os EUA têm muitas construções. Mas os EUA, em geral, são muito organizados e capazes de receber Olimpíadas", defende.

Assim como Maria, Karol bate na tecla de que no Brasil se treina muito mais em termos de quantidade. "No Brasil, há muitos treinos. Nos EUA, é só um por dia. Treino cinco dias na semana. Aqui, são seis de sete, duas vezes por dia". Para a jovem saltadora, ter a vivência dos dois países é um fator que pode colocá-la à frente de concorrentes. "Acredito que, por termos bastante experiência nos EUA e em competirmos frequentemente, faz sentido, porque temos muito mais experiência do que alguns atletas que competem apenas algumas vezes no ano."

Karol se considera privilegiada por a oportunidade de fazer o que ama e pelo país que a abraçou. "Penso que experiências internacionais são legais e nem todos podem ter e quero fazer isso representando a bandeira do Brasil". Inspirações brasileiras? Ela tem também. A maioria é dos saltos ornamentais, como Isaac Souza, Luana Lira, Ingrid Oliveira e Diogo Silva. Também acompanha o fenômeno Rebeca Andrade e a ginasta estadunidense Sunisa Lee. Na primeira convocação pelo país, Karolina ganhou três ouros e uma prata juvenil.

Toda a desenvoltura de Karolina Polizos durante salto no Centro Olímpico da UnB
Toda a desenvoltura de Karolina Polizos durante salto no Centro Olímpico da UnB (foto: Carlos Vieira/CB/DA Press)

Maria Faoro (E) e Karolina Polizos compartilham o sonho de competir nos Jogos Olímpicos de Los Angeles-2028
Maria Faoro (E) e Karolina Polizos compartilham o sonho de competir nos Jogos Olímpicos de Los Angeles-2028 (foto: Carlos Vieira/CB/DA Press)

Competição

A abertura do Troféu Brasil é hoje, a partir das 8h30. As provas terão início diariamente às 9h, com sessões matutinas e vespertinas. A entrada ao público é gratuita. O Canal Olímpico do Brasil transmite ao vivo as finais das provas olímpicas no sábado, a partir das 14h.

Ingrid Oliveira está confirmada e disputará a primeira competição oficial desde os Jogos Olímpicos de Paris-2024. Assim como a companheira Giovanna Pedroso, Ingrid busca da classificação para Cingapura na prova de Plataforma 10m. Seis atletas atingiram o índice A para o Mundial: Luana Lira (trampolim 3m Individual e Sincronizado) e Anna Lúcia dos Santos (trampolim 3m Sincronizado), no feminino; Luís Felipe Moura (trampolim 3m Individual e Sincronizado); Rafael Fogaça (trampolim 3m Individual e Sincronizado); Rafael Max (trampolim 3m Sincronizado); e Rafael Borges (trampolim 3m Sincronizado)

  • Maria Faoro (E) e Karolina Polizos compartilham o sonho de competir nos Jogos Olímpicos de Los Angeles-2028
    Maria Faoro (E) e Karolina Polizos compartilham o sonho de competir nos Jogos Olímpicos de Los Angeles-2028 Foto: Carlos Vieira/CB/DA Press
  • Toda a desenvoltura de Karolina Polizos durante salto no Centro Olímpico da UnB
    Toda a desenvoltura de Karolina Polizos durante salto no Centro Olímpico da UnB Foto: Carlos Vieira/CB/DA Press
  • A precisão de Maria Faoro durante salto na preparação para o Troféu Brasil, na UnB
    A precisão de Maria Faoro durante salto na preparação para o Troféu Brasil, na UnB Foto: Carlos Vieira/CB/ DA Press
postado em 15/04/2025 06:00 / atualizado em 15/04/2025 10:22
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