
Assunção — Em meio aos 42 jovens destaques de 14 países na patinação de velocidade dos Jogos Pan-Americanos Júnior de Assunção-2025, um brasileiro se destaca não apenas por despontar com chances de medalhas, mas por representar com bravura e competência um esporte ainda pouco difundido no país. Natural do Distrito Federal, Guilherme Abel Rocha é o único nome do Time Brasil nas disputas da capital paraguaia. Com resultados consistentes no currículo profissional, o brasiliense carrega nos patins não apenas uma possibilidade de pódio. Ele deseja impulsionar a modalidade. Após competir ontem, o patinador volta às pistas hoje em uma das provas com maior chance de êxito.
Para Guilherme, defender a patinação de velocidade do Brasil virou um propósito impulsionado por amor. Financeiramente, a modalidade segue o padrão de vários esportes olímpicos no país e apresenta aos praticantes profissionais a barreira da rentabilidade. A busca por patrocínios e apoio é árdua, mas não faz o atleta do DF baixar a guarda. Se aos 22 anos o patinador compete forte por resultados expressivos, é preciso agradecer ao acaso. O morador de Sobradinho teve o primeiro contato com os patins aos oito anos. A paixão começou em Fortaleza, quando ele conheceu a prática em uma viagem com o pai, Salatiel Rocha.
"Lá, tinha um calçadão à beira mar, com várias pessoas patinando. Decidimos comprar um patins para testar, porque a gente gostava de se aventurar com bike, skate, futebol", lembra, em conversa com o Correio na zona de competição de Assunção-2025. Na volta à capital federal, o gosto aumentou e se consolidou com o impulso da equipe Jaguar, presente no Parque da Cidade e em Águas Claras. "Em Brasília, é a única mesmo que dá aula, que tem time profissional de patinação de velocidade. Desde o início, fizemos essa base, e a gente segue até hoje", explica.
O tempo passou e criou em Guilherme o desejo de amplificar o alcance da patinação de velocidade. Mesmo com as provações, a paixão fala mais alto e atinge em cheio o coração do brasiliense. "Infelizmente, é um esporte que se for pesar remuneração dificulta. Mas, apesar de tudo isso, é o amor, é a paixão, esse clima competitivo, estar entre vários países. Tem esse reconhecimento internacional que a gente vem conquistando nos últimos anos. Colocar o Brasil no topo de um esporte que não é tão cultural como a patinação de velocidade. É um conjunto de coisas boas e de oportunidades que me trouxeram, que são incríveis", descreve.
Depois de se transformar em profissão, a patinação rendeu bons frutos. Guilherme ganhou duas medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos Júnior de Cali-2021. Além disso, tem no currículo uma conquista Sul-Americana, além de títulos em disputas nacionais. Em Assunção, a missão de brilhar vem em um teste de alto nível. "A gente tinha competidores bem fortes em Cali, quando fui campeão, mas aqui mudou completamente. Todos nós estamos mais velhos, são outros competidores", explica, rechaçando carregar um peso extra pelo sucesso na primeira edição do evento. "Sei o processo que estamos fazendo. Eu estou no nível bem acima e o do esporte também cresceu. Todos evoluímos. Antes, tinha três, quatro competidores. Aqui tem seis, sete ali para ganhar a medalha", analisa.
Disputado em três dias, o programa da patinação de velocidade de Assunção-2025 conta com cinco provas. O brasiliense defende as cores brasileiras em quatro. Ontem, finalizou os 1.000 m sprint na décima colocação e beliscou medalha nos 200m contrarrelógio. Hoje, a partir das 9h20, Guilherme entra em cena nos 500 m distância com chance de pódio. Se avançar nas eliminatórias, ele disputará o pódio a partir das 17h20. No Pan Júnior de Cali-2021, o patinador ganhou um ouro exatamente nesta disputa. Amanhã, às 9h30, fecha a participação na capital paraguaia nos 10.000 m por eliminação (na qual um é excluído por volta, até restar o vencedor).
Preparação
Somente dois países estão com representantes únicos na patinação de velocidade dos Jogos Pan-Americanos Júnior de Assunção-2025. Além do Brasil, o anfitrião Paraguai vive a situação. Carregar sozinho a bandeira do país não é problema para Guilherme. Interessado em gerar cada vez mais destaque ao esporte, o brasiliense coloca em prática todo o poder de foco adquirido com um trunfo: a preparação psicológica realizada com Luciana Castela, profissional da capital federal com atuação focada ao esporte. Ontem, o Correio flagrou, das arquibancadas, toda a concentração do patinador antes de lutar contra o relógio.
"Nessas competições em específico, temos dois momentos de aquecimento na pista. No primeiro, eu gosto de girar um pouco para sentir o espaço, entrando na concentração", detalha, antes de aprofundar o processo. "Sempre antes da disputa, faço visualização mental e a preparação psicológica trabalhada com a Luciana. Sempre definimos uma pré-competição, os movimentos de ativação. Tudo depende, também, da característica da prova, mas eu costumo fazer esses aquecimentos pensando em uma visualização e ativação dos ajustes para a especificidade da prova", explica. Hoje (amanhã), tudo será posto em prática novamente para manter o foco na medalha.
"Sei que vai ser uma prova complicada, mas deu para perceber que eu tenho totais condições de pegar um pódio. O objetivo sempre é ir ao lugar mais alto, mas a meta principal é não sair entre essa disputa dos três", destaca Guilherme. "No primeiro dia, o jogo ficou muito positivo. Estou me sentindo bem. Amanhã (hoje) é a prova mais importante, juntamente com os 200 metros (realizados ontem com o brasiliense fechando a prova na quarta colocação). Acho que esse primeiro dia foi bem construtivo", resume o patinador.
O repórter viajou a convite do Comitê Olímpico do Brasil (COB)
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