
Assunção — O Pan-Americano Júnior de Assunção-2025 está apresentando ao continente a futura geração responsável por buscar conquistas olímpicas nos Jogos de Los Angeles-2028 e de Brisbane-2032. Ao todo, são mais de 4 mil atletas entre 12 e 23 anos competindo por duas semanas na capital paraguaia em 40 modalidades diferentes. Nas disputas, os jovens apresentam não apenas o talento, mas as histórias por trás da aproximação com esporte. Chama a atenção a quantidade e as características das nuances responsáveis por forjar a formação dos novos ídolos e gerar a paixão envolvida por todo o processo de profissionalização.
Ao longo dos primeiros dias de caça às medalhas no Pan Júnior, o Correio desviou o olhar das zonas de disputas e buscou entender como os atletas do Time Brasil escolheram as modalidades nas quais, agora, caminham para se tornarem referências. As respostas são variadas: influência da família e de amigos; projetos sociais; maneiras de distração; e até curiosidade misturada com criatividade estão entre os trajetos responsáveis por guiar os brasileiros em direção ao esporte, muitos deles, até mesmo, de fora da bolha dos preferidos no país. Dentro da realidade e do universo de criação vivenciado por cada um, o esporte surgiu como um fator capaz de transformar vidas.
É o caso dos irmãos Davi e Deivid Carvalho, do badminton. Moradores da comunidade da Chacrinha, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, os gêmeos viram na modalidade a possibilidade de se distraírem e prosperarem em um ambiente com forte presença do crime organizado. "A gente era muito viciado no badminton na época. Faltávamos aula para treinar e até corríamos perigo também, porque é um risco em alguns momentos na nossa comunidade. O fruto disso está aí", destaca Deivid, medalhista de prata no individual masculino, relembrando o início no projeto social Associação Miratus, fundado por Sebastião Oliveira, pai do atleta olímpico Ygor Coelho.
No Instituto Rugby Para Todos, de Paraisópolis (SP), Raylanne Kimberlyn se deparou com uma oportunidade de mudar de vida em meio a um propósito extremamente valioso. "O rugby sempre me ajudou emocionalmente. Então, tudo que vem sobre o rugby me lembra de uma fase de onde eu saí e não quero voltar. Isso faz com que eu me fortaleça cada vez mais e sempre siga em frente. É a tal da resistência e resiliência, saber ir para o zero e voltar com tudo", conta a camisa três da campanha de ouro das Yarinhas do Brasil na capital paraguaia.
Também cria de periferia da Zona Leste de São Paulo, Gabys viu no projeto social Drible Certo a oportunidade de direcionar a vida por meio do basquete 3x3. "Eu não sabia o que eu ia fazer. Eu queria jogar basquete, mas eu sou um moleque de periferia. Então, tinha que ajudar em casa, não tinha dinheiro. Estava com muito tempo ocioso e fui fazer uma peneira", explica. Até um grave acidente de carro sofrido em 2022, na GO-320, fez parte do processo de transformação do atleta. "Eu quase morri e percebi que a vida podia acabar de repente. Voltei a amar o basquete de uma forma que talvez não amasse tanto", detalha.
As boas influências
Família e amigos também têm uma relação importante na formação da nova geração brasileira presente nos Jogos Pan-Americanos Júnior de Assunção-2025. Para muitos dos atletas do Time Brasil, os incentivos foram primordiais para a aproximação ao esporte se consolidar. Agora, com medalhas no peito e a certeza de um futuro brilhante pela frente, eles olham para trás e agradecem a quem deu aquele "empurrãozinho" fundamental para a brincadeira de criança se transformar em uma potencial carreira de sucesso.
Dona de quatro medalhas no remo, a brasiliense Lara Pizarro mergulhou na modalidade graças ao amor da família pelo esporte. "Comecei a remar com 14 anos em Brasília mesmo na Crossrowing, escola de remo da minha família fundada pelo meu pai e pelo meu tio. Meu irmão e eu começamos como timoneiros", lembrou. Destaque do Brasil na ginástica rítmica, Sarah Ferreira Mourão conheceu o esporte por intermédio de uma amiga. "Ela já fazia e teve um dia do amigo, no qual poderia levar alguém. Ela me convidou, eu fui e fiquei apaixonada", resume a atleta.
Medalhista de ouro no tiro com arco, Rafael Magalhães fez da criatividade um caminho para se destacar em um esporte pouco usual no país. "Eu via pessoas fazendo coisas de madeira e vi alguém fazendo arco. Falei: 'bacana, vou tentar fazer'. Tentei e fiz uma balestra com o meu pai. Essa quase deu certo, mas eu dava dois tiros e quebrava. Eu comecei brincando lá em casa, vi que tinha uma escola de arco lá perto. Eu comecei a fazer de brincadeira e agora estou aí. Faz quatro anos", destaca.
Bronze no lançamento de dardo, Thiago Lacerda passou boa parte da infância na zona rural de Lagoa da Prata (MG). A mudança para um centro maior exigiu novas distrações e o atletismo surgiu como caminho natural. "Eu morava na roça. Quando eu fui para a cidade, eu não tinha nada para fazer. Eu não gostava de outros esportes, como futebol. Minha tia falou: vai lá testar, brincar de atletismo. Eu fui brincando. Quando criança, sentia que só ia ficar na brincadeirinha, mas começou a virar mais sério", relembra.
Muitas das histórias contadas pelos brasileiros estão ganhando um capítulo bastante especial na capital paraguaia. A nova geração vem forte e recheada de histórias por trás das conquistas do Pan Júnior. Seja por projetos sociais ou pela influência de pessoas importantes, a trajetória no esporte se consolida de uma maneira capaz de orgulhar a versão mais nova dos protagonistas do Time Brasil. Toda trajetória tem um ponto de partida importante. Mas olhar para frente e ver o futuro brilhante possibilidade pelo começo é ainda mais especial.
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