Brasília abre as portas para a história de uma modalidade não tão conhecida, mas repleta de simbolismo. A partir de hoje, o Centro de Convenções Ulysses Guimarães se transforma no palco do Mundial de Kungfu Wushu, o mais importante torneio da modalidade. Pela primeira vez realizado em solo latino-americano, o evento reunirá 800 atletas de 77 países até domingo, com entrada gratuita para o público. No meio da constelação internacional, o Brasil chega com 16 representantes. Sete são do Distrito Federal. Entre eles. estão Ângela Ximenes e Everson Pereira. Campeã sul-americana, a dupla carrega não só medalhas no currículo, mas também a emoção de competir em casa.
A história dos amigos com o wushu, um esporte sem grande visibilidade no quadradinho, começou cedo e parece estar ligada ao destino. Deveria acontecer. Natural do Vale do Amanhecer, em Planaltina, Everson Pereira conheceu a modalidade aos seis anos. O irmão do ex-padrasto do segundo casamento da mãe Vânia Lúcia era professor de kungfu e aceitou acompanhá-lo para assistir a uma aula. Foi amor à primeira vista.
Pouco depois, foi a vez de Ângela ingressar no universo das artes marciais. A brasiliense iniciou no esporte através de um projeto social no Vale do Amanhecer, na mesma academia da qual Everson fazia parte. Assim como o amigo, a vontade era de treinar e evoluir. Durante a caminhada até chegarem em uma competição mundial, os amigos tiveram mais um companheiro na trajetória: o atleta David William vai disputar o torneio na mesma categoria.
Os três começaram juntos em Planaltina. À época, o momento atual não passava de um sonho. Ao conversarem sobre a expectativa para a disputa, relembraram a profecia do professor Werottydes Luiz: um dia, alguém sairia do projeto para conquistar o mundo. "Eu acho que hoje ele deve sentir um orgulho muito grande", exclamou Everson. O atleta revelou não ter dado muita moral naquele tempo. "Ele vai poder ver três de oito atletas da Seleção Brasileira que saíram de um pinguinho de, sei lá, 30 mil habitantes, e, agora, representam o Brasil inteiro", destacou.
Por se tratar de um esporte ásiatico, o wushu tem como característica ter atletas de baixa estatura. Para Ângela, esse fator foi um dos primeiros desafios enfrentados na modalidade. "Eu sou muito grande (1m75). E, no início, foi muito difícil porque eu era mais comprida. Tudo era mais complicado. Saltar, movimentar. Então, estar aqui representa uma grande superação e acreditar que eu posso", afirmou. "Uma coisa que eu quero levar para esse mundial é justamente uma das características que eu mais tentei abafar ao longo do tempo. Eu quero ser vista como a menina mais alta", complementou.
Organizado pela Confederação Brasileira Kungfu Wushu (CBFW), com o apoio da Secretaria de Esporte e Lazer do Distrito Federal (SEL/GDF), o evento consolidará a importância de Brasília na modalidade. A capital federal sediou outras competições importantes do esporte: o Mundial Júnior de 2018, o Pan-Americano de 2022 e edições do Campeonato Brasileiro.
Dos 16 atletas da Seleção Brasileira, oito subirão no tatame para disputar as provas na modalidade de Taolu e seis são naturais do DF. A categoria conta com apresentações coreografadas e incorporam ataques e defesas baseados nos princípios tradicionais do wushu. A avaliação é feita nos critérios de força, técnica, ritmo e expressividade. Já os demais competidores competem na categoria Sanda, estilo de combate com combinação de socos, chutes, quedas e projeções.
Individualmente, os amigos conquistaram duas vezes o torneio Sul-Americano e ambos possuem experiência no Mundial de Kungfu Wushu. Ângela e Everson competem no Taolu. Durante o certame, serão duas arenas de Taolu e uma de Sanda. Na categoria dos brasilienses, as áreas são divididas em parte sulista e parte nortista. A primeira demanda mais força. Os movimentos são curtos, rápidos, com uma intenção de golpe um pouco diferente. A outra vertente exige movimentos mais alongados. De fato, com muita influência no território chinês.
Fator casa
Competir em casa em uma disputa mundial dá um fôlego extra para Ângela e Everson mostrarem todo o talento no Kungfu Wushu. "É de arrepiar e mais motivador. Você entra com sede de dar o seu melhor, porque as pessoas estão ali junto com você", descreveu. Em 2022, Ângela conquistou o Pan-Americano em Brasília e pôde contar com o apoio especial no triunfo. "Foi uma das minhas melhores competições. Só de saber que todos estavam lá. Não era só eu entrando. Foi muito mais mágico", reviveu.
"Vai ser um evento que vai marcar muito. Não só os atletas, mas a modalidade. Todo mundo vai terminar no domingo com uma sensação de dever cumprido. Mas, principalmente, de felicidade transbordando no coração. Terei a oportunidade de fazer a coisa que mais amo, com todas as pessoas que eu amo vendo, perto e sentindo um pouco do que a gente sente", vibrou Everson.
Programe-se
17º Campeonato Mundial de Kung Fu Wushu
Local: Centro de Convenções Ulysses Guimarães
Competição: 3 a 7 de setembro, a partir das 9h
Entrada gratuita
*Estagiária sob a supervisão de Danilo Queiroz
Esportes
Esportes
Esportes
Esportes
Esportes
Esportes