SURFE

Conheça o livro que inspirou a história campeã de Yago Dora

Guia de autodescoberta e espiritualidade na prática, a obra "Alma indomável", do americano Michael Alan Singer, esteve com o brasileiro em cinco dos sete meses de disputas

Yago Dora levitou nas ondas de Fiji e lavou a alma com o título inédito da WSL     -  (crédito: Ed Sloane/World Surf League)
Yago Dora levitou nas ondas de Fiji e lavou a alma com o título inédito da WSL - (crédito: Ed Sloane/World Surf League)

A temporada 2025 da World Surf League (WSL) foi inaugurada em 27 de janeiro em Pipeline, no Havaí, e terminou em 2 de setembro em Cloudbreak, Fiji. Ou seja, foram sete meses ou 218 dias de espera até conhecermos o campeão e vermos Yago Dora coroado com o primeiro título na elite das ondas. Embora tenha pouco tempo para se dedicar às atividades extracurriculares, o paranaense radicado em Florianópolis carregou durante a maior parte da disputa com 12 etapas uma obra que o ajudou aliviar a tensão e o fazer levitar sobre as águas do Circuito Mundial.

Escrito pelo americano Michael Alan Singer e publicado em 2018, o livro A alma indomável: Como se libertar dos pensamentos, emoções e energias que bloqueiam a consciência, esteve para lá e para cá na bagagem de Yago durante cinco meses. A obra é uma espécie de guia de autodescoberta e espiritualidade prática, com propostas de desapego, aceitação e coragem para libertar-se de medos e bloqueios.

"Está sendo legal. Leio bem devagar, não sou aquele leitor que come um livro inteiro rápido. Leio antes de dormir e mais no outro dia. É bem legal. Sempre aprendemos coisas com os livros, que podemos levar para a nossa vida e até para a minha profissão. Aprendo muito", compartilhou ao Correio.

O lado off competição tem muita atenção de Yago. Em 26 agosto, o Correio mostrou como o líder do ranking utilizava meditação, yoga e exercícios de visualização para chegar livre, leve e solto para as competições. "Isso me ajuda a manter a cabeça no lugar a estar calmo e com o foco afiado para os dias de competição. É algo que faço toda manhã durante as janelas de campeonato, tento fazer pelo menos uns 20 minutos antes de começar o dia. Tem me ajudado bastante", comentou.

Curtindo a vida de campeão, Yago Dora foi provocado pela reportagem com a pergunta: qual seria o título para uma obra que retratasse a sua iluminada temporada de 2025? O melhor surfista do planeta ficou em cima do muro. "Não sei… se fosse para dar um título, precisaria de mais tempo para pensar (risos)", respondeu.

 

"Sentei no sofá, encarei o troféu e é muito doido pensar que é meu para sempre", relatou Yago Dora
"Sentei no sofá, encarei o troféu e é muito doido pensar que é meu para sempre", relatou Yago Dora (foto: Fotos: Ed Sloane/World Surf League)

Torcedor do Athletico-PR, Yago nunca escondeu a paixão pelo futebol. Houve um período da vida em que a bola esteve acima da prancha. Porém, o incentivo do pai, Leandro Grilo, foi fundamental para "virar a casaca". O campeão do surfe saiu do futebol, mas o futebol nunca saiu dele. Basta olhar para a lycra, o uniforme do surfe.

Yago veste a 9 em homenagem ao ídolo dos gramados: Ronaldo Fenômeno. "Dois anos atrás, quis mudar o número da minha lycra, porque o 9 representa isso, o cara que chega na hora importante, define e faz as coisas acontecerem", confidenciou.

O tributo não parou por aí. Inspirado no centroavante pentacampeão da Copa do Mundo em 2002 com a Seleção, o paranaense mais catarinense fez questão de ostentar o corte de cabelo cascão, consagrado pelo astro da bola 23 anos atrás. Realização do sonho do menino que tinha seis de idade naquela época.

"Cresci com as memórias do Ronaldo jogando, da Seleção Brasileira. Eu era criança quando o Brasil ganhou o penta, isso ficou marcado na minha cabeça. Sempre foi meu jogador favorito. O futebol é um esporte muito bonito. Adoro assistir, mas é um pouco difícil, estando a cada hora em um lado do mundo, com fusos horários."

Yago mantém o Brasil no topo do surfe, com oito campeões nas últimas 11 edições. Para Ivan Martinho, presidente da WSL na América Latina, o país vive um ciclo virtuoso. "Dentro d'água, nossos atletas acumulam títulos. Fora, somos palco dos maiores eventos, líderes de audiência e base de fãs. Esse movimento se retroalimenta: cada vitória amplia nossa relevância global, e as consequências são condições cada vez maiores para novos campeões surgirem", destacou.

No feminino, a australiana Molly Picklum faturou o troféu inédito. A WSL não tinha dois campeões pela primeira vez nas duas categorias desde o havaiano John John Florence e a compatriota de Picklum, Tyler Wright, em 2016. 

Perguntada pelo Correio sobre qual o ponto em comum entre a trajetória dela e a de Yago, Picklum destacou a troca de treinadores. "Decidimos mudar nossa equipe, porque queríamos fazer do nosso jeito. Valeu a pena. Essa é uma semelhança entre nossas temporadas. Não vi muito o Yago durante a temporada, mas foi ótimo vê-lo na final. Ele é o campeão do povo, uma lenda, e acho que ele surfa de uma forma incrível. É o melhor surfista do mundo agora", cravou a australiana. 

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postado em 02/09/2025 22:35 / atualizado em 03/09/2025 09:54
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