Mais de 100 estudantes da rede pública do Distrito Federal embarcaram nesta semana rumo à Londres pelo programa Pontes para o Mundo, projeto da Secretaria de Educação que promove uma experiência de três meses de intercâmbio na capital inglesa. Nesta quinta-feira (4/9), o Correio acompanhou o frio na barriga e a emoção das famílias de 69 alunos no Aeroporto Internacional de Brasília.
Sophia Alves, 16 anos, e Nicole Gomes, 16, comemoram a primeira viagem internacional. As duas alunas do Centro de Ensino Médio (CEM) 02 de Ceilândia não se conheciam até estarem unidas pela nova experiência que vão passar fora do país. Todos os 102 estudantes vão ficar em casas de famílias voluntárias e estudar em colégios locais. A expectativa é conhecer novos lugares, estudar muito e fazer novas amizades, mas continuar próximos uns dos outros.
“Eu espero mudar minha perspectiva de vida mesmo, espero me entender melhor, fazer novos amigos e estudar muito, principalmente”, afirma Nicole. A jovem conta que, quando soube do intercâmbio, pensou que seria para escolas particulares e comemorou quando descobriu que poderia participar. “Eu acho isso incrível, ainda mais para nós que não poderíamos arcar com os custos”.
Para Sophia, o Pontes para o Mundo é uma oportunidade para que jovens de baixa renda quem sonham em estudar fora possam realizar o desejo. “Também mostra que o governo está investindo mais na educação do nosso país e provavelmente no futuro vamos ser um país muito mais desenvolvido do que somos hoje”, declara.
Estímulo aos estudantes
Quando Nicole soube do resultado, estava com os colegas na escola. “Foi aquela emoção, voltei para casa quase desmaiando de felicidade”, relata.
Já Sophia estava em casa quando recebeu uma ligação do tio avisando que ela havia sido selecionada. “Eu não aguentei, eu comecei a chorar, e foi aquele sentimento de felicidade e de que o meu esforço valeu a pena”, relata.
A reação das estudantes, para além da surpresa, mostram a felicidade de quem fez valer a pena todo o esforço. Esse é um dos principais pontos do projeto, estimular a assiduidade e o bom desempenho dos alunos.
O professor de física Antônio Marcos Trevisoli, do Centro de Ensino Médio Integrado (Cemi) do Cruzeiro, 42 anos, destaca a importância do projeto para os estudantes. “Para ir, o estudante tem que ter mais de 80% de frequência, uma média alta em todos os componentes curriculares e saber falar inglês”, explica. “Os estudantes do primeiro ano da minha escola, por exemplo, já estão muito empolgados, empenhados em melhorar o seu rendimento para que eles atinjam o critério necessário para participar do programa no ano que vem”.
Antônio Marcos, apelidado carinhosamente de Toninho, é um dos professores que vai acompanhar os estudantes no início dessa jornada. Além dele, outros nove profissionais da Secretaria de Educação, incluindo uma psicóloga, vão passar uma semana em Londres. “A gente vai verificar junto às escolas se está tudo certo, junto as famílias para ver se os jovens estão bem alocados, se eles estão se sentindo bem, o foco é mantê-los o mais seguros e tranquilos possível”, afirma.
Um sonho coletivo
A secretária de Educação, Hélvia Paranaguá, descreve o momento de embarque como um dos mais emocionantes vividos por ela à frente da pasta. “É muito emocionante porque a gente sabe que vai ser um crescimento pessoal, um crescimento de mundo, uma vivência que eles vão ter”, conta.
Segundo a chefe da SEEDF, o maior desafio foi como elaborar contratos internacionais. Além de fazer licitações para contratar empregas especializadas, a equipe precisou pensar em formas de adaptar o currículo dos novos intercambistas. “Eles não vão perder nenhum componente, tem plataforma para eles entrarem todo dia no PAS e terem uma hora de aula, o currículo vai ser adaptado, então tudo foi muito pensado para que eles pudessem ter uma imersão e realmente voar”, comenta.
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A pedido do governador Ibaneis Rocha (MDB), Hélvia elaborou um Projeto de Lei que busca tornar o Pontes para o Mundo um programa obrigatório para todas as gestões.
A primeira-dama do DF, Mayara Noronha, também esteve presente na despedida e fez um pedido especial aos estudantes: “Quero que vocês carreguem o Distrito Federal no coração de vocês”.
Mayara contou que frequentou escola pública e sempre teve o sonho de fazer um intercâmbio. A advogada relatou ainda que a construção do programa partiu de vários servidores do governo.
“No dia do auditório, eu vi muitos servidores chorando. Talvez esses servidores que estavam chorando lá, foram aqueles que começaram a desenhar o projeto e se realizaram ali nesses jovens”, relatou. “Não é um sonho individual deles, é nosso”.
Saudades de casa
Ana Paula Rocha de Castro Medeiros, 44, e Roberto da Costa Medeiros, 41, já estavam com a saudade apertando quando viram a filha Maitê, 16, embarcar para a Inglaterra. Apesar da preocupação, o sentimento de orgulho pela filha, estudante do Centro Educacional (CED) Stella dos Cherubins Guimarães Trois, prevalecia entre os dois.
“Maitê sempre foi uma pessoa que teve interesse em coisas novas e oportunidades”, conta o pai. Assim que viram o anúncio do Pontes para o Mundo, os dois não tiveram dúvida: o programa era a cara dela.
“Ela sempre foi uma menina muito esforçada, muito estudiosa e aí eu comentei com ela: "filha, esse programa é sua cara, você podia ver fazer essa inscrição’”, lembra Ana Paula. “É um sonho que a gente tá realizando, uma oportunidade única na vida dela e que ela tinha que aproveitar, e mérito dela de ter estudado, ter conseguido passar nas etapas de avaliação”.
Para o casal, que relata nunca ter passado mais de uma ou duas semanas longe da filha, três meses parece uma eternidade. “Eu acho que não caiu a ficha ainda, mas a gente confia muito nela, então eu não tenho preocupação, acho que vai ser mais saudade mesmo”, conta Roberto.
Além de Maitê, outros 68 alunos embarcaram em três voos nesta quinta-feira (4/9). Os 33 estudantes que embarcaram na quarta-feira chegaram em solo britânico no início da tarde.
A Secretaria de Educação do DF criou uma página de informações sobre o programa. Uma nova seleção deve ser aberta no próximo ano.
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