A Universidade de Brasília (UnB) homenageia, na quinta-feira (6/11), a pensadora e referência no feminismo negro Lélia Gonzalez com o título póstumo de Doutora Honoris Causa. A cerimônia acontece no auditório da Associação dos Docentes da UnB (ADUnB), às 17h, e vai contar com a presença de familiares da feminista. A historiadora Melina Lima, neta de Lélia, deve fazer discurso durante o evento.
Segundo a UnB, o doutorado Honoris Causa é concedido à “personalidade que se tenha distinguido pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos”. Em 60 anos, essa é a segunda vez que a universidade dá o título a uma mulher negra. A primeira condecorada foi a filósofa Sueli Carneiro, em 2022.
A diretora do Instituto de Ciências Humanas (ICH-UnB), Neuma Brilhante, explica que a iniciativa partiu de professores dos departamentos de História e Filosofia, ambos no ICH. A docente ressalta que o pensamento de Lélia Gonzalez representa uma importante contribuição para os estudos acadêmicos, mas para a compreensão da sociedade brasileira.
“Seu trabalho é marcado por caráter radicalmente transdisciplinar e muito ajudaram a promover a valorização das tradições culturais afro-brasileiras e indígenas”, afirma. Para a professora, a homenageada foi pioneira no país ao abordar gênero, raça e classe em uma perspectiva interseccional, que analisa como os diferentes tipos de opressão se sobrepõem.
“Lélia desenvolveu conceitos poderosos como a Amefricanidade e o "Pretoguês", propondo uma leitura decolonial e afro-latino-americana da sociedade, da cultura e da linguagem, deslocando o negro da posição de mero objeto de estudo para a de sujeito do conhecimento”, declara.
Para conceder um título de Doutor Honoris Causa, é necessário que a proposta seja aprovada pelos conselhos da unidade proponente e de outros dois institutos da universidade. Uma vez aprovado, a proposição passa por votação pelo Conselho Universitário (Consuni).
Referência
Além da concessão do título, o memorando fez um pedido para que o Centro de Convivência Negra (CCN) passe a levar Lélia Gonzalez no nome. A diretora da Faculdade de Comunicação (FAC-UnB), Dione Moura, conta que a iniciativa surgiu após uma pesquisa feito com os alunos que frequentam o espaço.
Moura, que foi relatora da proposta do sistema de cotas raciais da UnB em 2003, explica que a homenageada foi uma figura central na defesa de políticas afirmativas para pessoas negras. “Antes de virar uma política, Lélia já falava que, para juventude negra alcançar seu lugar no mercado, teria que mudar as políticas de acesso”, comenta.
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Para a jornalista, além da justa homenagem, a entrega do título pós mortem é uma forma de exercer uma vigilância comemorativa, isto é, de garantir que figuras históricas importantes, sobretudo de grupos minoritários, não sejam esquecidas. “Lélia era uma liderança que agregava e convocava para a resistência, nós mulheres negras somos descendentes do pensamento dela”, declara.
“O título não é uma forma de transformar a Lélia em algo maior, ela já é um legado, uma figura histórica, e a UnB que fica maior em ter um nome como o dela”, conta, cheia de emoção. “E eu tenho muito orgulho de agora fazer parte da mesma instituição que ela”.
Lélia Gonzalez morreu em 1994, no Rio de Janeiro (1994). Autora, professora e ativista, ela foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado, em 1978. A pensadora é uma das maiores referências do feminismo negro, com obras como a coletânea póstuma Por um Feminismo Afro-Latino-Americano (2020) e o livro Lugar de Negro (1982).
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