
A líder da oposição venezuelana María Corina Machado reapareceu em público nesta quinta-feira (11/12), em Oslo, na Noruega, após uma viagem mantida em sigilo. Um dia depois de faltar à cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz, na qual foi representada pela filha, a opositora afirmou no Parlamento norueguês que a “tirania” na Venezuela “acabará muito em breve” e que trabalha para retornar ao país com segurança.
A chegada repentina da vencedora do Nobel reacendeu tensões em meio à já delicada crise entre Caracas e Washington, além de mobilizar centenas de exilados que a receberam como ícone da resistência democrática.
Em discurso em inglês, Machado, 58 anos, declarou ter ido à Noruega “em nome do povo venezuelano” e prometeu levar o prêmio à Venezuela “no momento adequado”. “Não direi quando nem como isso acontecerá, mas farei todo o possível para voltar e para acabar com esta tirania muito em breve”, afirmou, ao enfatizar que é preciso “terminar o trabalho” para restabelecer a democracia no país. Ela agradeceu “os homens e mulheres que arriscaram suas vidas” para que pudessem viajar a Oslo.
Ovacionada como “estrela do rock”
A última aparição pública de Machado foi quando participou de uma marcha contra a posse de Nicolás Maduro. Ela a apareceu na varanda do hotel onde estava hospedada, pouco depois das 2h locais, sendo ovacionada por apoiadores que entoavam canções típicas e palavras de ordem como “Liberdade!” e “Corajosa!”. Admiradores seguravam o cuatro, instrumento tradicional venezuelano, e pediam: “María, nos ajude a voltar!”. Depois, ela desceu às ruas, onde foi recebida como “uma estrela do rock”, segundo relatos, em uma cena que rompeu a calma habitual do centro da capital norueguesa.
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
A viagem ocorre no auge da crise entre Venezuela e Estados Unidos. Desde agosto, Washington mobiliza uma flotilha naval no Caribe e no Pacífico sob justificativa de combate ao narcotráfico, operação que resultou em 87 mortes. Maduro, entretanto, acusa os EUA de tentarem derrubá-lo para controlar o petróleo venezuelano. Em Caracas, o procurador-geral já havia advertido que Machado seria considerada “foragida” caso deixasse o país. Ela é acusada de “conspiração, incitação ao ódio e terrorismo”, acusações que a oposição classifica como perseguição política.
Pressão internacional e recado direto a Maduro
A ausência de Machado na cerimônia de entrega do Premio Nobel, quarta-feira (10/11) foi suprida pela filha, Ana Corina Sosa Machado, que leu o discurso da mãe pedindo que a comunidade internacional “lute pela liberdade” e denuncie “crimes contra a humanidade”, documentados pela ONU, atribuídos ao regime chavista. O presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Jørgen Watne Frydnes, dirigiu-se diretamente a Maduro: “Senhor Maduro: você deve aceitar os resultados eleitorais e renunciar ao cargo”, afirmou, sob aplausos.
Especialistas ouvidos pela Agência France-Presse afirmam que a viagem de Machado aumenta o risco de sua prisão caso retorne. “Ela corre o risco de ser detida, embora as autoridades tenham mostrado maior moderação com ela do que com outros opositores, já que sua prisão teria um simbolismo muito forte”, avalia Benedicte Bull, professora da Universidade de Oslo e especialista em América Latina.
Machado entrou na clandestinidade após as eleições presidenciais de julho de 2024, que concederam a Maduro um terceiro mandato, resultado não reconhecido por Estados Unidos, União Europeia e vários países latino-americanos. A oposição sustenta que o pleito foi fraudado e publicou cópias de atas eleitorais como suposta prova. O chavismo nega irregularidades.
Mesmo celebrada por setores democráticos internacionais, Machado enfrenta críticas internas por sua proximidade com Donald Trump, a quem dedicou o Nobel. Questionado sobre o risco de prisão da opositora, o presidente americano afirmou, na quarta-feira: “Não seria do meu agrado que ela fosse detida, eu não ficaria feliz”.

Flipar
Flipar
Revista do Correio
Mundo
Cidades DF
Economia