Oriente Médio

Ministro de Israel admite anexar territórios palestinos

Ministro da Defesa acena com incorporação da Cisjordânia, adverte que suas tropas jamais deixarão a Faixa de Gaza e não descarta assentamentos no norte do enclave. Bloqueios militares dificultaram o trânsito de peregrinos cristãos até Belém

Garoto segura a bandeira palestina sobre ruínas de casa demolida por Israel, em Bazzaryah, na Cisjordânia  -  (crédito: Zain Jaafar/AFP)
Garoto segura a bandeira palestina sobre ruínas de casa demolida por Israel, em Bazzaryah, na Cisjordânia - (crédito: Zain Jaafar/AFP)

Israel Katz, ministro da Defesa do governo de Benjamin Netanyahu, admitiu que seu país implementa uma anexação "de facto" da Cisjordânia, com a construção de assentamentos judaicos e a expulsão de palestinos dos chamados "campos terroristas". "Estamos implementando uma política de soberania prática. É impossível, agora, declarar soberania", afirmou Katz, durante conferência sobre educação promovida pelo jornal sionista religioso Makor Rishor, segundo o jornal Haaretz

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"Soberania prática significa... (retirar) os palestinos dos campos de concentração e estacionar as Forças de Defesa de Israel lá, e estabelecer assentamentos", acrescentou. Katz também alertou que "Israel nunca abandonará o território de Gaza" e permitirá aos colonos judeus viverem no norte do enclave, "em algum momento do futuro". 

No domingo (21/12), Israel havia anunciado a autorização para a construção de 19 assentamentos judaicos na Cisjordânia, território sob ocupação há 58 anos. A decisão foi condenada por 14 países, entre eles, Reino Unido, França, Espanha e Japão. "Governos estrangeiros não restringirão o direito dos judeus de viver na Terra de Israel, e qualquer apelo neste sentido é moralmente incorreto e discriminatório contra os judeus", declarou Gideon Saar, ministro das Relações Exteriores israelense.

Religiosos oram no local onde, segundo a tradição cristã, ficava a manjedoura de Jesus, em Belém
Religiosos oram no local onde, segundo a tradição cristã, ficava a manjedoura de Jesus, em Belém (foto: Hazem Bader/AFP)

A primeira celebração de Natal em Belém (Cisjordânia) desde o início da guerra em Gaza foi marcada pela dificuldade de acesso à cidade pelos peregrinos cristãos. "A estrada foi terrivelmente bloqueada. Eu levei cerca de quatro horas para me deslocar de Ramallah até Belém, por causa dos inúmeros postos de controle. O movimento natural da comunidade cristã da Cisjordânia para Jerusalém e, depois, para Belém foi obstruído. Esse percurso está mais difícil do que antes. Por isso, a quantidade de fiéis em Belém, na noite de Natal, foi bem menor do que em 2024", disse ao Correio Mustafa Barghouti, secretário-geral da Iniciativa Nacional Palestina e potencial sucessor do presidente Mahmud Abbas.

De acordo com Barghouti, a Cisjordânia enfrenta um processo de apropriação e confisco de terras. "A expansão de assentamentos judaicos busca sufocar os palestinos, sob os pontos de vista da geografia, da economia e da demografia", denunciou, por telefone. Ele admitiu que os ataques de gangues de colonos judeus em áreas próximas aos assentamentos aumentou drasticamente. "Temos registrado até dez ataques diários em várias partes da Cisjordânia. Essas ações são estimuladas por ministros do governo israelense, que fazem parte da extrema direita e também são colonos", comentou.

Linha Amarela e Líbano

Nesta quinta-feira (25/12), soldados das Forças de Defesa de Israel mataram, em dois incidentes separados, três palestinos que teriam cruzado a chamada Linha Amarela — uma fronteira imaginária que corta a Faixa de Gaza em uma parte ainda ocupada por tropas israelenses e outra, ao oeste, da qual as IDF se retiraram em cumprimento ao acordo firmado em 10 de outubro.

Nibal Al-Hissi, 25, e a filha Rita, 2, do lado de fora de sua casa, em Jabalia, norte de Gaza
Nibal Al-Hissi, 25, e a filha Rita, 2, do lado de fora de sua casa, em Jabalia, norte de Gaza (foto: Bashar Taleb/AFP )

As IDF anunciaram que um bombardeio no Líbano assassinou Hussein Mahmud Marshad Al-Jawhari, integrante da Força Quds — a unidade de elite da Guarda Revolucionária Iraniana. O Exército israelense referiu-se a Al-Jawhari como "um terrorista-chave na unidade operacional da Força Quds". "Ele se envolveu em atividades terroristas, dirigidas pelo Irã, contra o Estado de Israel e suas forças de segurança a partir do Líbano e da Síria", afirmou o Exército. Israel e Irã travaram uma guerra de 12 dias, em junho passado. Com a ajuda dos EUA, os israelenses atacaram alvos do programa nuclear de Teerã.

DUAS PERGUNTAS PARA...

MUSTAFA BARGHOUTI, secretário-geral da Iniciativa Nacional Palestina e potencial sucessor do presidente Mahmoud Abbas

Como o senhor avalia a situação na Cisjordânia?

A situação na Cisjordânia é absolutamente horrível. Ela está sujeita a uma expansão sem precedentes dos assentamentos judaicos. O governo israelense acaba de aprovar mais 19 assentamentos. Mas o número de assentamentos e de postos avançados chega a 500. Eles têm espalhado assentamentos por todos os lados e praticamente confiscaram 60% da Cisjordânia. Também impuseram mais de mil postos de controle para transformar áreas do território em pequenos guetos separados entre si. 

De que maneira o senhor vê a ameaça de Israel de anexar o território?

Os ministros Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional), Bezalel Smoutrich (Finanças) e Israel Katz (Defesa) continuam falando em anexar a Cisjordânia. Eles estão praticamente anexando-a gradualmente, sem uma declaração oficial. O processo de construção de assentamentos e a apropriação de terras, e os ataques das gangues de colonos judeus a comunidades de palestinos, ocorrem porque o mundo nada faz. Todos os países, que falam sobre uma solução baseada em dois Estados, não estão prontos e nem sequer impuseram uma única sanção a Israel. Sem sanções, Israel continuará. Ninguém se importa com condenações. (RC)

  • Nibal Al-Hissi, 25, e a filha Rita, 2, do lado de fora de sua casa, em Jabalia, norte de Gaza
    Nibal Al-Hissi, 25, e a filha Rita, 2, do lado de fora de sua casa, em Jabalia, norte de Gaza Foto: Bashar Taleb/AFP
  • Religiosos oram no local onde, segundo a tradição cristã, ficava a manjedoura de Jesus, em Belém
    Religiosos oram no local onde, segundo a tradição cristã, ficava a manjedoura de Jesus, em Belém Foto: Hazem Bader/AFP
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postado em 26/12/2025 05:50
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