
Armando Sobral Rollemberg — ex-editor de política do Correio, foi secretário do Comitê Pelo Voto no DF, presidente da Fenaj e da OIJ
Saí decepcionado da manifestação que a esquerda organizou no 7 de setembro, em Brasília. Em primeiro lugar, a Praça Zumbi dos Palmares não estava repleta, como seria de se esperar. Além do mais, compareceram bem mais velhinhos e velhinhas do que jovens. Também chamava a atenção a ausência das lideranças da nossa cidade. Por outro lado, com raras exceções, os discursos versaram sobre realidades bem específicas, proferidos por entidades com restrita representatividade.
O comando do microfone, vez por outra, estimulava a plateia a repetir "sem anistia para os golpistas" e "pela taxação dos super-ricos, já!". Também, obviamente, aflorou com frequência a frase "o Brasil é dos brasileiros" e o mote em "defesa da nossa soberania". O julgamento dos golpistas, a prisão de Bolsonaro, o tarifaço americano e a indevida interferência de Trump nos assuntos brasileiros, naturalmente, foram abordados nos pronunciamentos.
Mas em nenhum momento tratou-se da urgente necessidade de as legendas progressistas se articularem para evitar, no pleito previsto para 26, a conquista de dois terços do Senado pela forças reacionárias que formam a direita — o que representaria o marco inicial de uma crise sem precedentes em nossa História, capaz de colocar em risco os fundamentos da própria democracia.
Aqui em Brasília, por exemplo, ninguém observou que deve haver um empenho especial para assegurar a reeleição da Leila do Vôlei (PDT) e a vitória da Erika Kokay (PT) para o Senado Federal. Ninguém abordou expressamente esse estratégico e complicadíssimo desafio, já que um dos adversários, muito provavelmente, será o próprio governador Ibaneis.
Lamentavelmente, apesar da presença, pelo menos em alguns bonés, do MST, também nenhum dos que usaram o microfone hasteou a bandeira da Reforma Agrária. Falou-se em "assentamentos", mas ignorou-se a imensa concentração de terras em mãos do "grande agro".
Na verdade, no circuito progressista, muito tem se falado nos super-ricos, na "turma da Faria Lima", mas ninguém dessa "nova" esquerda, tampouco o governo Lula de plantão, tem mirado, especificamente, na imensidão latifundiária que avassala nosso país, destruindo o meio ambiente e provocando estratosférica concentração de riqueza.
O privilégio garantido a algumas centenas de latifundiários só consolida e exacerba a monstruosa desigualdade que permeia nossa sociedade. Essa afirmação, à primeira vista, pode parecer um disparate: "O que seria da nossa balança comercial se não existisse o grande agro?" — se apressariam a argumentar os defensores do capitalismo selvagem. Ora, não estou aqui ignorando o significativo volume de recursos advindos da exportação das commodities agrícolas (como a soja, o milho, o trigo, as carnes etc.), decisivos para o bom desempenho da balança comercial brasileira. Seria negar o óbvio ululante!! O que estou prospectando é que uma realidade muito mais favorável ainda à economia brasileira poderia acontecer se fosse realizada uma ampla e profunda Reforma Agrária.
Desde logo, devo ressalvar que o que eu estou pregando não tem nada a ver com "comunismo", nem ameno, nem disfarçado, nem desenfreado. Tampouco com "socialismo". Longe disso! Além da inclusão de terras devolutas, não haveria confisco de um único hectare que fosse predestinado à reforma nos moldes que defendo. A União, auxiliada pelos estados e municípios, ressarciria o custo da aquisição das terras pelo preço justo, que seria aquele praticado no mercado.
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Paralelamente, além da destinação criteriosa de glebas a milhões de lavradores em todas as regiões do país, deveriam ser criadas milhares de cooperativas (uma em cada um dos 5.570 municípios), com a finalidade de planejar e tocar a produção agrícola para a frente!
Cumprida essa básica etapa, mediante o financiamento dos bancos estatais e a assistência técnica da Emater e do Sebrae, bastariam uns cinco ou seis anos para testemunharmos uma escalada monumental na nossa balança comercial. E, assim, alcançaríamos outro patamar, seja no que se refere à distribuição de renda, seja no desenvolvimento do setor de máquinas e equipamentos agrícolas, seja na construção civil, seja no nível da felicidade geral da nação.
Até tentei me inscrever no ato público, como representante da gloriosa ABI (Associação Brasileira de Imprensa), para alinhar, rapidamente, os temas acima referidos....Mas, lamentavelmente, não tive sucesso. Fui solenemente ignorado. Engoli em seco. Fui para casa superar minha decepção. Mas resolvi escrever este artigo.
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