VISÃO DO CORREIO

Paz no trânsito precisa voltar a ser prioridade

Hoje, o trânsito mata e assusta motoristas e pedestres do Distrito Federal — uma realidade que se repete pelo país

Os acidentes com motocicletas cresceram mais de 10 vezes no país nos últimos 30 anos. -  (crédito:  Mariana Campos/CB/D.A Press)
Os acidentes com motocicletas cresceram mais de 10 vezes no país nos últimos 30 anos. - (crédito: Mariana Campos/CB/D.A Press)

O Distrito Federal encerrou 2024 com queda 19,7% no número de mortes no trânsito em relação a 2023. De janeiro a fevereiro do ano passado, ocorreram 191 óbitos, 47 a menos do que no ano anterior, quando foram registrados 238 óbitos em acidentes nas vias da capital federal. Entre as cinco vias urbanas com mais acidentes fatais de 2015 a 2024, só nas avenidas Hélio Prates e Recanto das Emas foram registradas mortes no trânsito neste ano. A tendência de queda, porém, foi interrompida. 

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Na capital do país, de janeiro a julho, ocorreu um aumento de 10% no número de vítimas (142 no total), na comparação com igual período de 2024, quando foram registradas 129 mortes. No último fim de semana, três pessoas morreram e pelo menos sete ficaram feridas, superando o número de ocorrências dos últimos 10 fins de semana, com uma morte a cada dois dias em média. Esses episódios comprometem a imagem de Brasília como referência na construção coletiva pelo trânsito seguro. Foi a capital do país a primeira cidade a conquistar a adesão da população a respeitar a faixa de pedestre, campanha protagonizada pelo Correio. Hoje, o trânsito mata e assusta motoristas e pedestres — uma realidade que se repete pelo país.

Boa parte dos sinistros envolve motoqueiros. Os acidentes com motocicletas cresceram mais de 10 vezes no país nos últimos 30 anos. Indiscutivelmente, esse tipo de veículo ganhou as ruas —  a frota cresceu 42% de 2015 a 2014, estima a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). O fenômeno tem relação com novas modalidades de trabalho — sobretudo, a de entregadores de encomendas — e facilidades de deslocamento — ganho de tempo e redução de gastos, por exemplo. Mas trouxe consigo um cenário de insegurança e morte nas estradas brasileiras. 

São Paulo lidera o ranking de óbitos em acidentes de trânsito com motocicletas: 1.329 mortes de janeiro a junho deste ano, o que equivale a 7,3 mortes por dia. No Distrito Federal, o Departamento de Trânsito (Detran) registrou mais de 50 casos em 2025. O índice de sobreviventes que ficam com sequelas irreversíveis em razão desse tipo de sinistro também é alto: o Instituto de Segurança no Trânsito (IST) calcula que, anualmente, cerca de 250 mil pessoas passam a viver nessa condição.  

Embora boa parte dos acidentes seja por imprudência, imperícia ou negligência, ingestão de bebida alcoólica, cansaço do condutor, há outros fatores que colaboraram para a insegurança tanto dos motoristas quanto dos motociclistas. Entre eles estão, rodovias mal sinalizadas, esburacadas, sem  manutenção e iluminação pública. Há, portanto, necessidade de ampliar nos orçamentos recursos destinados à manutenção das vias públicas, assim como aprimorar a fiscalização da qualidade e da lisura de obras realizadas.

O monitoramento também precisa ser reforçado em relação ao cumprimento de legislações que visam garantir a segurança do trânsito, sobretudo a Lei Seca. Cabe ainda aos governos promoverem campanhas educativas para todos os segmentos da sociedade. Para isso, não basta usar os meios virtuais. É necessário recorrer a todos os meios de informação que chegam aos cidadãos, incluindo linguagens que convençam os mais jovens, que são as maiores vítimas fatais desses acidentes. O trânsito não pode ser um ambiente de fatalidades, mas de atenção e cuidados com a vida das pessoas.

 


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Por Opinião
postado em 09/09/2025 05:00 / atualizado em 09/09/2025 07:47
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