
Ao utilizar as redes sociais, deparei-me com duas publicações vergonhosas. Em uma delas, uma imagem de uma multidão na rua e um pedido explícito para que os brasileiros se rebelassem contra a prisão de Jair Bolsonaro. Uma internauta alegou que o protesto tinha ocorrido na "reinauguração" do autódromo de Brasília. Nem se deu ao trabalho de apagar um imenso letreiro em inglês. Ao digitar o nome do estabelecimento no Google, descobri tratar-se de um ato em Nairóbi, capital do Quênia. Uma pessoa chegou a dizer que era uma motociata em apoio ao ex-presidente e que viria à capital para engrossar as fileiras.
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Outra postagem mostrava barracas armadas ao longo de uma cerca e insinuava que os bolsonaristas montaram acampamento do lado de fora da Superintendência da Polícia Federal. Detalhe: não se trata da cerca que isola a PF e nem mesmo de Brasília. O mais irônico foi ver pessoas exaltando as publicações sem que tivessem o mínimo de bom senso de questionar sua veracidade.
Por essas e outras, acredito ser urgente uma regulamentação das redes sociais. Não se trata de violar a liberdade de expressão, mas de impedir que fake news sejam lançadas a esmo com o propósito de tentar beneficiar um político ou jogar uma massa de manobra contra a Justiça brasileira. Quando entrevistei a jornalista filipina Maria Ressa, em 2021, três dias depois de ter sido anunciada ganhadora do Nobel da Paz, ela me disse que fake news podem até matar. E comparou as mentiras a uma lama tóxica escorrendo pelas redes sociais. Houve casos de pessoas serem linchadas porque ilações ou denúncias falsas de supostos crimes cometidos por elas reverberaram em grupos de WhatsApp. Como uma mulher arrastada pela rua e morta por uma multidão por ter sido acusada, falsamente, de usar crianças em rituais de magia negra. Com certeza, o clima para os ataques de 8 de janeiro de 2023 começou a ser forjado no mesmo ambiente.
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A rede social X virou uma caixa de ressonância da ideologia da extrema-direita depois que Elon Musk comprou a empresa. Também um centro de desinformação. Há 31 anos, escolhi a profissão de jornalista com o propósito de ser sempre fiel aos fatos. Ética, fidedignidade e apuração criteriosa são a base do jornalismo profissional. O governo anterior esforçou-se em uma campanha de dilapidação do trabalho da imprensa, talvez movido por interesses próprios, enquanto cortejava blogueiros e investia no gabinete do ódio e da desinformação. Hoje, entristece-me saber que parte da população brasileira se atualiza por mensagens recebidas pelo WhatsApp — a grande maioria de teor inventado.
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O jornalismo profissional, sério e comprometido com a busca pela verdade deve prevalecer, sempre, se quisermos uma sociedade democrática e um sistema de freios e contrapesos para monitorar as lideranças políticas e garantir o cumprimento do Estado de Direito.

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