ARTIGO

ONU moderna: como o Brasil pode contribuir para soluções globais

Países como o Brasil, com tradição equilibrada e respeitada no campo diplomático, têm condições de contribuir para um sistema internacional mais justo, inclusivo e capaz de enfrentar os desafios do século 21

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursa durante o Debate Geral da Assembleia Geral das Nações Unidas na sede da ONU em Nova York, em 23 de setembro de 2025       -  (crédito: TIMOTHY A. CLARY/AFP)
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursa durante o Debate Geral da Assembleia Geral das Nações Unidas na sede da ONU em Nova York, em 23 de setembro de 2025 - (crédito: TIMOTHY A. CLARY/AFP)

Nasser Zakr advogado especializado em direito internacional e direitos humanos, com carreira na ONU, atuando em missões de paz e mediação diplomática

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Desde a sua criação em 1945, as Nações Unidas consolidaram-se como o principal fórum de cooperação internacional, promovendo paz, segurança, desenvolvimento sustentável e direitos humanos. Ao longo de oito décadas, a organização atuou em crises globais, mediação de conflitos e promoção de agendas humanitárias. Contudo, a dinâmica mundial mudou profundamente, com a multiplicação de atores geopolíticos, crises ambientais e sanitárias, tecnologias disruptivas e novos padrões de interdependência. A ONU precisa modernizar-se para acompanhar essa realidade, tornando-se mais ágil, representativa e capaz de responder de forma efetiva a desafios emergentes.

Os efeitos da mudança climática, a instabilidade regional e a vulnerabilidade de sistemas sanitários demonstraram a urgência de uma governança internacional capaz de agir com rapidez e autoridade moral. A pandemia de covid-19 reforçou que nenhum país isoladamente consegue enfrentar crises globais. A cooperação continua essencial, mas requer mecanismos mais flexíveis, descentralizados e inclusivos, compatíveis com a pluralidade de vozes e realidades políticas do século 21. 

Apesar da relevância da ONU, suas estruturas ainda refletem a geopolítica do pós-guerra. O Conselho de Segurança permanece limitado à hegemonia das cinco potências permanentes com poder de veto, o que frequentemente paralisa decisões urgentes. Ademais, a burocratização interna resulta em respostas tardias a emergências humanitárias e sanitárias. Países emergentes seguem sub-representados em decisões estratégicas que impactam diretamente seus contextos regionais, limitando a eficácia global da organização.

O Brasil tem sólida tradição de diplomacia multilateral e participação ativa em missões de paz e ações internacionais das Nações Unidas, como no Haiti (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti — Minustah) e no Líbano (Força Interina das Nações Unidas no Líbano — Unifil), onde forças brasileiras contribuíram para a estabilização e reconstrução institucional. O país também exerce papel relevante em negociação diplomática, promoção de direitos humanos e defesa do desenvolvimento sustentável — áreas em que pode ampliar sua contribuição em uma ONU modernizada. Sua experiência demonstra que países em desenvolvimento podem oferecer soluções criativas e operacionais, fortalecendo a governança global.

Nesse sentido, algumas reformas fortaleceriam a ONU e ampliariam a capacidade do Brasil de participar efetivamente: ampliar a representatividade no Conselho de Segurança, incorporando países emergentes como membros permanentes ou rotativos com maior poder decisório; estabelecer mecanismos técnicos e ágeis de resposta rápida a crises humanitárias e ambientais; e fortalecer agências especializadas, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Programa Alimentar Mundial (PAM), promovendo maior integração científica, tecnológica e operacional entre Estados-membros. Tais medidas permitiriam respostas mais coordenadas e eficientes, beneficiando comunidades afetadas e consolidando a autoridade moral da organização.

Essas iniciativas reforçariam a legitimidade e a eficácia da ONU, promovendo uma governança global mais responsável e ajustada à complexidade contemporânea. Modernizar a organização é imperativo estratégico. Para o Brasil, representa a oportunidade de participar de forma mais direta na formulação de políticas globais e consolidar sua posição como liderança regional e voz de países em desenvolvimento.

Uma Organização das Nações Unidas mais democrática e funcional dependerá não apenas da reforma estrutural, mas da disposição de seus Estados-membros em cooperar com boa-fé e visão de futuro. Países como o Brasil, com tradição equilibrada e respeitada no campo diplomático, têm condições de contribuir para um sistema internacional mais justo, inclusivo e capaz de enfrentar os desafios do século 21.

 

 

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Por Opinião
postado em 12/12/2025 06:00
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