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Cappelli: "Não seria nenhum absurdo banir Musk e o X do país"

Fala do ex-secretário executivo do Ministério da Justiça foi dada em resposta às manifestações do bilionário Elon Musk sobre a atuação do ministro do STF, Alexandre de Moraes

Cappelli:
Cappelli: "Aqui não está em questão em quem você votou, em quem você não votou, aqui está em questão o Brasil" - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press)
postado em 08/04/2024 16:25 / atualizado em 08/04/2024 16:26

As manifestações feitas pelo dono do X (antigo Twitter), o sul-africano Elon Musk, em que pede a renúncia ou o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, foram recebidas com críticas por parte da opinião pública brasileira. O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e ex-secretário executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Ricardo Cappelli, disse ser um “absurdo” que bilionários estrangeiros tentem interferir na soberania nacional pedindo o impeachment de um ministro do STF.

Para ele, a questão vai além de uma noção de polarização política, e versa sobre a soberania. O presidente da ABDI defendeu o banimento de Elon Musk, do X e de outras redes sociais que se neguem a respeitar as regras impostas pelo país. "Aqui não está em questão em quem você votou, em quem você não votou, aqui está em questão o Brasil", disse Cappelli, em entrevista nesta segunda-feira (8/4) ao CB.Poder, programa do Correio Braziliense em parceria com a TV Brasília.

“A gente não pode permitir que um bilionário estrangeiro venha desrespeitar o Brasil, desrespeitar as nossas instituições e pedir o impeachment do ministro Alexandre de Moraes. Isso é um absurdo. Eu acho que o impeachment que a gente deve fazer é o impeachment do senhor Elon Musk. Não seria nenhum absurdo bani-lo do país, banir essa rede social do país, uma vez que ela está dizendo claramente que não vai respeitar as regras do Brasil”, defendeu.

O presidente da ABDI ressaltou ainda o caso em que o parlamento norte-americano determinou que as operações da rede social Tik Tok — que é uma empresa chinesa — no país fossem vendidas a uma empresa dos EUA sob risco de banimento da rede, e afirmou que o Brasil deveria exercer tratamento parecido com relação ao X.

“É interessante porque, no país deles, eles colocam regras e, inclusive, querem banir redes dos chineses, mas aqui, no Brasil, eles querem fazer tudo, não querem regra nenhuma, querem desrespeitar o Brasil, as nossas leis e as nossas instituições. Isso é inadmissível”, enfatizou.

Rede social utilizada de forma ampla por figuras públicas e políticas, inclusive pelo próprio ministro Alexandre de Moraes, o X tem grande importância no cenário brasileiro. Para Cappelli, porém, a grande evolução das tecnologias existentes atualmente garante a possibilidade de que outros aplicativos possam substituir a utilização do antigo Twitter no Brasil.

“A tecnologia está sempre evoluindo e você tem várias opções, então não existe ninguém nem nada insubstituível. Volto a dizer: é inadmissível e, independentemente de em quem você votou, você não pode admitir que um estrangeiro, só porque ele é bilionário, ache que pode ‘sapatear’ em cima do Brasil, desrespeitar a Suprema Corte e desrespeitar as leis brasileiras. Todo mundo tem que seguir as leis e acho que, se o Twitter, atual X, for cassado e banido do Brasil, nós teremos, com certeza, outras opções para nos comunicarmos através das redes sociais.”

Caso Marielle

Cappelli, que foi secretário-executivo do MJSP no período em que Flávio Dino chefiou a pasta, relembrou que a resolução do caso Marielle era uma das prioridades do ministério. Para ele, a prisão dos supostos mandantes do crime mostra a capacidade e a qualidade da Polícia Federal brasileira, bem como deixa claro que a não resolução do crime de forma mais rápida se deveu ao que chamou de “falta de vontade política”.

“A gente tem, no Brasil, uma Polícia Federal de excelência. Ela é reconhecida no Brasil e no mundo como uma polícia de excelência, tecnicamente muito preparada, e em pouco mais de um ano conseguiu desvendar e revelar o caso Marielle Franco. O que eu acho que fica claro é que o problema do caso Marelle não era a ausência de elementos, de provas, de indícios para chegar aos responsáveis. O que faltou foi vontade política de enfrentar a questão e chegar a todos os envolvidos. No dia da posse de Flávio Dino no MJSP, ele definiu que isso seria prioridade e, quando a gente deixou o ministério, a PF tinha muita confiança de que conseguiria desvendar o caso, como conseguiu.”

Semana decisiva

Além de ter sido secretário-executivo do MJSP, Cappelli foi nomeado interventor federal após os ataques golpistas às sedes dos Poderes, no dia 8 de janeiro de 2023. Ele contou, na entrevista ao programa do Correio, que a primeira semana do governo Luiz Inácio Lula da Silva, à qual chamou de “a mais decisiva”, foi muito difícil para quem estava envolvido com o governo, e defendeu a importância de que a sociedade brasileira tenha a exata dimensão de tudo que aconteceu durante o período.

“Às vezes eu vejo algumas pessoas dizendo ‘olha, não houve tentativa de golpe, é um exagero’. Para a gente, que viveu por dentro cada minuto, cada segundo daquela primeira semana — eu falo sobre a primeira semana porque ela foi a mais decisiva —, tudo que aconteceu ali é muito importante. Que a sociedade tenha conhecimento para que isso nunca mais se repita”, afirmou.

Cappelli compartilhou, ainda, planos para a confecção de um livro e de alguns documentários que contem a história do período, visando dar luz a essa “crise” que, segundo ele, está marcada na história do Brasil.

“Estou com um projeto de escrever um livro, fazer alguns vídeos, alguns documentários para poder colocar tudo exatamente como aconteceu. Quis o destino que eu estivesse ali no dia 8, naquele lugar, assumindo a função que eu assumi, por delegação do presidente Lula. Então, acho que tem uma história que precisa ser contada de uma crise que está marcada na história do Brasil”, ressaltou.

*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro

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