
Os servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) pediram a exoneração do diretor-geral Luiz Fernando Corrêa após ele ser indiciado, nesta terça-feira (17/6), no inquérito da Polícia Federal sobre o uso clandestino do órgão para espionagem durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em carta divulgada, a União dos Profissionais de Inteligência de Estado (Intelis) alega que é “inadmissível” ele permanecer no cargo após a notícia.
“É inadmissível que indivíduos sobre quem pesam acusações graves de obstrução de justiça continuem ocupando cargos de comando na Abin. O próprio diretor-geral afastou de cargos servidores orgânicos que eram apenas citados nas investigações. Pela mesma lógica, não pode ele próprio se manter no cargo máximo da Agência, com poderes para seguir incorrendo nos alegados crimes”, diz trecho do comunicado.
A entidade também criticou a nomeação de um delegado da PF para a corregedoria do órgão.
“A Intelis reiteradamente alertou a sociedade e o governo sobre o absurdo de se impor mais uma gestão de delegados da Polícia Federal à frente da Abin, após escândalos protagonizados por gestões anteriores. Denunciamos, também, a nomeação de um delegado da PF para a Corregedoria em meio ao escândalo da “ABIN paralela”, majoritariamente composta por policiais federais”, aponta a Intelis.
Luiz Fernando Corrêa foi nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em maio de 2023 para assumir o comando da Abin. Ele é delegado aposentado e foi diretor-geral da Polícia Federal entre 2007 e 2011. Ele também já ocupou o cargo de secretário nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, no período de 2003 a 2007.
A investigação da Polícia Federal aponta que a "Abin paralela" era usada em favor do ex-presidente e seus familiares para encontrar situações que desabonasse críticos à gestão e criar informações falsas para atacar personalidades que pudessem prejudicar eventual reeleição do ex-chefe do Planalto. À época, o órgão era comandado pelo atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).
- Leia também: Jair Bolsonaro e Alexandre Ramagem são indiciados pela PF em inquérito da ABIN paralela
Nesta terça-feira, a PF indiciou Jair Bolsonaro, Ramagem, o vereador Carlos Bolsonaro e outras 32 pessoas pelo esquema criminoso. A investigação indica que policiais, servidores e funcionários da Abin formaram uma organização criminosa para monitorar pessoas e autoridades públicas.
Leia a carta da Intelis na íntegra
Nota pública
A Intelis manifesta sua indignação diante da permanência, no comando do órgão central do SISBIN, de pessoas acusadas de obstrução de justiça, mesmo após o encerramento do inquérito da chamada “ABIN paralela” e o indiciamento de toda a atual cúpula da Agência – incluindo o atual corregedor.
É inadmissível que indivíduos sobre quem pesam acusações graves de obstrução de justiça continuem ocupando cargos de comando na ABIN. O próprio Diretor-Geral afastou de cargos servidores orgânicos que eram apenas citados nas investigações. Pela mesma lógica, não pode ele próprio se manter no cargo máximo da Agência, com poderes para seguir incorrendo nos alegados crimes.
A Intelis reiteradamente alertou a sociedade e o governo sobre o absurdo de se impor mais uma gestão de delegados da Polícia Federal à frente da ABIN, após escândalos protagonizados por gestões anteriores. Denunciamos, também, a nomeação de um delegado da PF para a Corregedoria em meio ao escândalo da “ABIN paralela”, majoritariamente composta por policiais federais.
Nossos alertas foram mais uma vez ignorados porque a Inteligência de Estado segue não sendo levada a sério no Brasil. Vale lembrar que o delegado Ramagem foi impedido de assumir o cargo de Diretor-Geral da Polícia Federal no governo anterior, mas pôde retornar para reassumir a Direção-Geral da ABIN, em mais um grave descaso com a principal agência de Inteligência do país.
É absurdo sequer cogitar a permanência da atual direção e a continuidade do processo de definhamento e desmonte da Inteligência de Estado, a mais maltratada e desvalorizada entre os grandes países do mundo. É ainda pior que membros de outro órgão do poder executivo queiram opinar na mídia sobre os rumos de uma atividade que desconhecem e que não deveriam possuir ingerência. Alertamos uma vez mais, esperando não sermos novamente ignorados: é imperioso que a ABIN seja gerida por Profissionais de Inteligência orgânicos.
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