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"Adultização é um pretexto para a censura", diz Ricardo Salles

Parlamentar avalia que governo e Centrão conseguiram a brecha de que precisavam para restringirem a liberdade de expressão

Em entrevista ao CB.Poder, Salles disse que a direita defende a infância, mas salienta que a Constituição proíbe a censura prévia -  (crédito: Bruna Gaston/CB/D.A Press)
Em entrevista ao CB.Poder, Salles disse que a direita defende a infância, mas salienta que a Constituição proíbe a censura prévia - (crédito: Bruna Gaston/CB/D.A Press)

Para o deputado federal Ricardo Salles (Novo-SP), o Projeto de Lei (PL) da Adultização faz parte de uma estratégia do governo federal e do Centrão para, sob o pretexto da proteção às crianças, aplicar censura às redes sociais. Em entrevista ao CB.Poder — uma parceria do Correio com a TV Brasília —, disse que a direita defende a infância, mas salienta que a Constituição proíbe a censura prévia, o que, segundo ele, seria feito pelo governo por meio dessa matéria para silenciar críticos e opositores. Aos jornalistas Ana Maria Campos e Carlos Alexandre de Souza, o parlamentar analisou o cenário da corrida presidencial de 2026 e considera que o governador de Minas Gerais e seu correligionário, Romeu Zema, tem chances. A seguir, os principais trechos da entrevista.

A oposição tem um posicionamento em relação ao PL da Adultização. Como o senhor vê esse cenário?

Não somos contra a proteção das crianças. Mas o que não concordamos é com o pretexto da proteção às crianças para incutir a censura nas redes sociais. É a grande obsessão do governo e do Centrão. Utilizando-se desse pretexto da proteção às crianças, o governo se juntou ao Centrão. A esquerda foi sorrateira ao juntar os dois assuntos.

Foi uma estratégia?

Claro, eles manipularam esse assunto da adultização para colocar o que eles não conseguiram até então, que é a censura nas redes sociais, para evitar serem criticados pela corrupção, pela ineficiência.

Como o senhor está enxergando a suspensão de até seis meses para os parlamentares que obstruíram e fizeram aquele tumulto no Congresso, dias atrás?

Decisão monocrática na Câmara dos Deputados para suspender direito de parlamentar, para cassá-lo ou para fazer qualquer coisa, não deveria existir. Não somos tão ineficientes na Casa a ponto de não podermos esperar uma decisão colegiada, ainda que seja uma decisão colegiada da Comissão de Ética, e não, eventualmente, do plenário.

Tem alguém do Novo?

Tem o Marcel Van Hattem (RS), que é um grande deputado, vai ser eleito senador com larga margem de votos lá no Rio Grande do Sul. Como é que você aplica uma pena monocrática a um deputado que foi eleito com centenas de milhares de votos e vai ser eleito senador com mais de um milhão de votos? Não se faz isso.

O senhor pretende participar da CPMI do INSS? Qual a sua expectativa para essa investigação?

O Novo indicou o Van Hattem como titular e, salvo engano, a deputada Adriana Ventura (SP) como suplente. Autorizaram sindicatos e entidades a tirar dinheiro de dentro da conta dessas pessoas e mandar para os dirigentes. Uma roubalheira. Tem uma primeira roubalheira na retirada do dinheiro e uma segunda roubalheira, quando o próprio governo propõe indenizar diretamente. Você tem que congelar todos os bens dos sindicatos, das entidades que fizeram isso e das pessoas físicas que são os diretores e dirigentes dessas entidades, até exaurir a capacidade de ressarcimento.

Houve uma mudança na composição da presidência e da relatoria da CPMI…

A expectativa era de que houvesse uma acomodação para abafar tudo com a presidência de Omar Aziz (PSD-AM). No entanto, na votação, elegeu-se Carlos Viana (Podemos-MG), que, por sua vez, indicou o deputado Alfredo Gaspar (União-AL) como relator. Ele é um grande deputado, ex-procurador-geral de justiça de Alagoas, uma pessoa com profundo conhecimento jurídico e grande independência para realizar o trabalho de relator. Aparentemente, o governo não esperava essa reviravolta.

Quem será o candidato de oposição ao presidente Lula?

Zema é pré-candidato. Alguns criticaram, dizendo que não era o momento, mas Zema precisa se tornar conhecido. Inclusive, ele conversou com o presidente (Jair) Bolsonaro antes de se lançar como pré-candidato. Ratinho Jr. é o plano B de (Gilberto) Kassab. (Ronaldo) Caiado já é mais difícil, porque com a união do PP com o União Brasil, não o querem como candidato. Quem quer Caiado é o próprio Caiado e a turma de ACM Neto. E Tarcísio só será candidato se Bolsonaro assim indicar. Ele é 100% dependente de Bolsonaro.

Como o senhor avalia isso o que o clã Bolsonaro tem falado em relação aos que estão buscando o legado do ex-presidente, referindo-se a eles como "ratos"?

No calor das emoções, vendo o pai preso, com uma série de restrições, sem poder nem conversar com o filho nos Estados Unidos, daria um desconto para o excesso de verborragia neste momento. O fato é que não se está disputando o espólio de Bolsonaro. É, simplesmente, o reconhecimento de uma situação em que, neste presente momento, o presidente está inelegível, em prisão domiciliar. Nesse ponto, é preciso ter um pouco de racionalidade e sangue frio para dizer, como Zema disse. Inclusive, Zema afirmou claramente, no pré-lançamento de sua pré-candidatura, no último sábado: "Estou me lançando pré-candidato, mas se Bolsonaro recuperar os direitos e puder concorrer, retiro minha candidatura imediatamente". Essa postura está mais do que correta e satisfatória.

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O senhor acredita que esse movimento de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos pode ter sucesso?

Se essa estratégia de Eduardo funcionar — ou seja, se o aprofundamento da aplicação da Magnitsky for tão dissuasório a ponto de os envolvidos se unirem e dizerem: "Vamos retroceder, senão vai dar problema" —, acredito que está correta. Se não conseguir, aprofundará a hostilidade e a falta de imparcialidade em relação a ele, ao pai e a todos os envolvidos.

O Novo tem planos para o Distrito Federal?

Vai lançar o desembargador (aposentado) Sebastião Coelho ao Senado. Acredito que pode ser uma das duas vagas ao Senado, junto com a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Todos dizem que o entendimento é de Celina Leão para o governo e Michele e Ibaneis para o Senado. Sebastião, na minha opinião, tem grande grande possibilidade de ser o outro nome. Quem vota em Michele, vai querer votar em Sebastião. São posições análogas. A posição de Ibaneis é absolutamente distinta dessa dupla.

*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi

 


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postado em 21/08/2025 05:45
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