
O youtuber Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, voltou às redes sociais para comentar o tema da adultização de crianças e adolescentes. Ao fazer um balanço sobre os dias que seguiram à denúncia sobre o que acontecia nas contas do influenciador Hytalo Santos, além da aprovação do Projeto de Lei 2.628/22 — que trata do tema —, nesta semana, disse que "as instituições que cuidam de crianças informaram que as doações aumentaram 2.600%, criminosos foram punidos, uma conscientização a nível nacional foi feita e a palavra adultização passou a ser de conhecimento comum".
O próprio Hytalo e o marido, Israel Nata Vicente, foram presos em São Paulo por determinação da Justiça da Paraíba e tiveram bens bloqueados. Além disso, o YouTube retirou do ar os canais dos influenciadores influenciadores Taspio, João Caetano e Bel Peres por violarem suas diretrizes. Segundo Felca, muitas pessoas o procuraram buscando terapia pela primeira vez na vida.
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O impacto das denúncias foi mensurado pela SaferNet Brasil, que registrou um aumento de 114% nas denúncias de pornografia infantil, entre 6 e 12 de agosto de 2025, logo após a postagem de Felca. Thiago Tavares, presidente da organização não governamental que acompanha o movimento das publicações na internet, atribuiu esse crescimento ao "vídeo viral" do youtuber, afirmando que "a repercussão do vídeo, obviamente, estimulou as pessoas a denunciar".
A SaferNet, que atua há quase 20 anos na promoção dos direitos humanos na web, afirmou que 64% do total de denúncias recebidas em 2025 são relacionadas ao abuso e à exploração sexual infantil. Para a instituição, é preocupante também o crescimento do uso de inteligência artificial generativa para criar material de abuso sexual infantil.
O Ministério Público do Trabalho (MPT) também intensificou a atuação. Segundo o procurador André Canuto, vice-coordenador nacional de Combate ao Trabalho Infantil e de Promoção e Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes (Coordinfância), destacou que o "ambiente digital é um desses novos ambientes onde há exploração de crianças e adolescentes".
"E que termina por lhes causar prejuízos diversos: à saúde física e mental, à socialização, à frequência escolar, ou seja, ao próprio desenvolvimento saudável que se tem direito ao longo da infância e adolescência", destacou, acrescentando que o MPT age para "garantir a interrupção da violência contra a pessoa agredida e garantir sua proteção integral, inclusive, quanto à responsabilização do causador".
Para Luiza Simonetti, presidente da Comissão Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), é "urgente criação de leis que regulamentem a prática do trabalho artístico de crianças e adolescentes". Ela considera que além de se conter os abusos, evitaria-se "também a má administração dos recursos financeiros provenientes desse trabalho para que não seja dilapidado pelos responsáveis legais".
Já Evelyn Eisenstein, coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Saúde Digital da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), alerta para os riscos à saúde física e mental da superexposição digital. Isso inclui problemas posturais, de visão, ansiedade, depressão, distúrbios do sono e transtornos alimentares.
"Há os problemas físicos que têm repercussão a longo prazo. O uso excessivo de telas também tem sido associado com prejuízos importantes para o bem-estar emocional e o convívio social", explicou.
Segundo a especialista, a maior vulnerabilidade se dá entre os 11 e 16 anos — faixa etária da maioria dos jovens expostos pelos influenciadores denunciados por Felca —, justamente no momento de maior desenvolvimento emocional e formação da identidade. Ao Correio, Evelyn afirmou que defende a fiscalização de conteúdos abusivos, a aplicação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) para crianças e a ampliação da educação digital crítica nas escolas.
*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi
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